2023 o ano para plantar certezas
Inove de forma focada em seu negócio ou produto e, desembace as incertezas repetidas.
“…se as empresas mantiverem a alta queima de caixa sem melhorar o crescimento, morrerão…”
Quando temos uma ambiente econômico incerto globalmente, um cenário político instável e um represamento de investimentos, criamos um contexto quase imprevisível para o crescimento.
Por isso, quanto mais conseguirmos reunir de informações ambientais de forma contínua, melhor conseguiremos enxergar possibilidades de direção mais plausíveis.
Ao final do texto forneço uma ferramenta simples que qualquer empresário ou Product Manager pode utilizar na empresa que atua.
Como vejo o cenário das empresas hoje
Alguns sinais ambientais fazem com que o ambiente de negócios fique mais incerto para inovar (para alguns):
- A escolha de qual Ministro da Economia no governo Lula causa uma ansiedade de qual mentalidade econômica será empregada ao país nos próximos 4 anos
- Injeção de verba no BNDES e a PEC da Transição pode ajudar a crescer o país, mas é incerto diante do modelo econômico ainda em formação
- Mesmo com o sinal fraco de redução de juros pelo FED, ainda temos um efeito de “dinheiro parado” especialmente para investidores externos. Criando efeitos em cadeira de aumento do custo de vida e menor investimento no país
- Para o Morgan Stanley e o J.P. Morgan, as ações americanas devem continuar tendo desempenho ruim em 2023, esperando que o S&P 500 caia mais de 20%
- China está sofrendo com redução de investimentos em seu país das empresas da Europa e EUA, que estão desejando descentralizar a cadeia global para países mais em conta — ou retornando aos de origem. Seja pela covid, seja pelos custos aumentando. É o início de uma reestruturação globais de fornecedores e escassez de alguns recursos específicos
- Grandes empresas de Venture Capital pararam ou reduziram os investimentos em Big Techs, grandes empresas na Bolsa, Fintechs e Startups no Brasil, causando uma maior dificuldade de crescimento e retorno sobre o investimento (prometido)
- Renovação de mão de obra em tecnologias em busca de perfis com menos experiência aumenta (aumento de 173%)
- Apple, Google, Delta Airlines privilegiando a contratação de pessoas com skills e menos graduação formal, reduzindo custo para a empresa (weak signals para o Brasil)
- Layoffs das grandes empresas brasileiras (startups com ações na Bolsa) causam um vácuo de crescimento nesta faixa brasileira, medo no mercado e mão de obra qualificada sem emprego: “Desde abril, mais 2 mil profissionais foram desligados em pelo menos 21 empresas, dentre elas a Facily, Vtex, Olist, Mercado Bitcoin, Kavak, XP, Valemobi/TradeMap, Americanas S.A./B2W, Shopee e iFood”
- Aumento do salário em 2023 vai apertar ainda mais o caixa das empresas para pagar salários bons e dignos aos profissionais
- Mercado de Renda Fixa ganha mais relevância diante de uma incerteza para multimercados e alta volatilidade de rendas variáveis
- É crescente a onda de figurões contra criptomoedas
- Redução drástica do investimento em Inovação no Brasil (pelo Governo Federal) causou um retrocesso no poder competitivo do país.
Curiosamente…
Mesmo com estas notícias acima, alguns dados brasileiros nos dão alento:
- Número de desalentados (que desistiu de procurar trabalho) caindo para em 4,2 milhões de pessoas
- a taxa de desemprego no Brasil caindo para 8,3% em outubro, atingindo o menor nível desde 2015, e
- a Taxa de informalidade caindo para 39,1% da população ocupada, segundo IBGE
- Segundo o IDC, o mercado brasileiro (de tecnologia) como um todo gira em torno de US$ 4,6 bilhões, com projeção de crescimento de 30% até 2025.
No entanto, quando olhamos no detalhe podemos extrair dois pensamentos:
Primeiro, estamos em uma retomada tímida que será puxada (como sempre) pelas pequenas e médias empresas de serviços que estão contratando 5x mais, culminando em uma maior velocidade em 2024.
Segundo, em sua grande maioria profissionais com maior qualificação de mercado dos setores de tecnologia, financeiro e varejo de grandes empresas, não fazem parte deste crescimento.
Pensa aí no efeito sistêmico que este gap pode causar no mercado.



“O Sudeste registrou crescimento moderado, de 0,9%, amparado pelo desempenho positivo do setor de serviços”
Setores e regiões do Brasil que concentram grandes empresas e são grandes alavancas do PIB, sendo termômetros para outros mercados, estão em um movimento contrário.
Isto abre espaços para incumbentes a médio prazo (médias empresas em crescimento) ou para grandes empresas mais estáveis em seu caixa.
O que estes sinais podem nos dizer?
Para tentar responder a isso podemos recorrer ao que a literatura de inovação e de negócios indica como boas práticas em momentos de crise e incerteza. Escrevi em 2015 sobre isso, mas também retiro algumas dicas da Rita McGrath, Adrian Slywotzky e do Tim Harford para gerar crescimento:
- Hora de investir em inovação de produto e/ou revisar portfólio de produtos. Quem sabe aquele produto não poderia ter um acabamento diferente, ou uma edição limitada?
- Reduza o portfólio (quando estamos falando em crise) deixando os mais lucrativos como opções, e/ou reduzir produção dos com menos saída, mantendo a calda longa (Long Tail) no portfólio
- Focar recursos e esforços em um público maior, ou em uma região. Por exemplo: Um shopping tem um público mais propício à compra maior que outro
- Busque outros targets regionais e/ou mercados de nicho
- Revisite seus investimentos em inovação para revisar processos produtivos internos em redução de tempo e custo (sem prejudicar a eficiência)
- Venda para fora: exportações para alguns mercados continua atrativo
- Reduza o custo de aquisição através de processos mais enxutos ou divida os custos com parceiros
- Analise, fomente potenciais ecossistemas e invista em parcerias de startups em setores similares ao seu, pensando em 2024/2025
- Selecione e invista tempo em oportunidades que você quer explorar (realizar discovery), convertendo suposições ou hipóteses em conhecimento e aprendizado.
O que vem por aí
1. Alguns movimentos que acho que irão acontecer em 2023
- Escolas de Educação Online crescerão mais diante da grande oferta de profissionais disponíveis no mercado (cresceu 470% e deve responder por 50% do mercado);
- Generalistas is the New Black: Mercado cheio de profissionais mais generalistas serão cada vez mais buscados por grandes empresas em 2023 para cobrir congelamentos e o cenário enxuto de vagas. Isto é um risco por desconfigurar conceitos como T-Shaped e diminuindo peso de experts.
- Profissionais melhor qualificados irão ser absorvidos por mercados calda longa;
- Profissionais que participam da Gig Economy e Creators Economy crescerão ainda mais no digital;
- Grandes bancos irão intensificar a oferta de seguros para terem linhas de receita de sustentação (especialmente focado em imóveis, eletrônicos e veículos) mesmo com endividamento das famílias brasileiras;
- Ecossistemas e BaaS: Open Finance, Open Banking, Pix e mercado de APIs vão crescer muito em células nas grandes empresas e em produtos das médias empresas. Para fomentar a lógica mobile-first e intensificar e-commerce;
- A construção civil irá focar esforços na classe média (baixa) para gerar caixa para novos empreendimentos no segundo semestre de 2023;
- Queda nos juros do cheque especial pode ajudar a aumentar o consumo, mas será necessário a escolha de oceanos de clientes mais saudáveis;
2. Inovar em 2023 será mais difícil para as grandes empresas
Isso porque elas terão que repensar suas estratégias, não só cortar custos.
Por isso, se você é uma grande empresa relembrar práticas de quem já passou por crises pode inspirar nos anos 2000, 2008/2009, 2014/2015.
Foco, priorização de iniciativas lucrativas e re-negociação com investidores parece mais importante do que mandar embora as pessoas que podem justamente ajudar criativamente você a crescer.
Reduzir custos (demissão, corte de recursos, etc) e não investir em mentalidade de inovação se torna uma fórmula para desorientar sua estratégia, perda de capital humano e velocidade.
Se você é uma média e pequena empresa, vejo que ampliar parcerias, desenvolver sua comunidade de marca, investir em tecnologia visando escalar, analisar tendências para 2024, e fomentar uma cultura de aprendizado pode ser um caminho para fortalecer quem está com você explorando oportunidades de negócio.
Tool: Tempo Zero
Rita McGrath, no livro Seeing Around Corners: How to Spot Inflection Points in Business Before They Happen traz um método que você pode realizar na sua empresa para identificar sinais de alerta precoces:
- Escolha duas grandes incertezas e atribua valores diferentes para cada um.
- Crie uma tabela 2 × 2, que ofereça 4 cenários diferentes de tempo zero.
- Conte uma história sobre cada situação futura e, em seguida, crie um título para o seu evento de tempo zero.
- Descubra se sua estratégia é adequada todas essas condições diferentes, ou se você tem uma estratégia que favoreça apenas uma das situações.
- Planeje um curto período para esses quatro eventos de tempo zero e identifique como sua estratégia se encaixa nesses cenários.
Não me proponho a dar fórmulas, mas trazer possibilidades para que profissionais e empresários possam pensar criativamente em soluções e práticas comerciais com menos impulso e mais parcimônia.
Espremer uma faixa de empresas no Brasil corre-se o grande risco de aumentar o efeito da grande renúncia, mesmo que com menos impacto que nos EUA.
Temos um futuro brilhante pela frente, só precisamos mudar nossos olhos. Importante mantermos o espírito empreendedor vivo, a busca pela criatividade ativadas nos times de produto e mais investimento em ferramentas/conhecimento sobre inovação.
Já passamos por momentos mais graves.
Referências
- Or, How Not to Drive Your Company Off A Cliff
- Great resignation: fenômeno da grande debandada chega ao Brasil
- O futuro do marketing não está nos influenciadores, mas nas comunidades
- Brasil tem potencial para ampliar mercado de crédito, afirma a SPE
- Juro no crédito livre sobe a 42,4% em outubro; cheque especial cai a 132,5%
- Tendências do e-commerce 2023: prepare seu negócio para o próximo ano
- EAD no Brasil corresponderá a 51% do mercado em 2023, diz pesquisa
- Ensino distancia cresce 474 em uma década, diz INEP
- Discovery não e um processo
- Índice global de inovação Brasil avança e mostra potencial mas investimentos caem
- Exportação e receitas no exterior sustentam lucro
- Tendencias do e-commerce 2023
- Inovação, estratégia e a crise: como algumas empresas brasileiras estão sobrevivendo atualmente?
- Ritmo da atividade econômica no 3o tri variou conforme região do pais
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- Fed rate monitor
- Banco central entra em modo stand by ate clareza sobre política fiscal
- Livro: Inflexão Estratégica, Rita McGrath