A experiência do usuário é preocupação de todos os times, não só de UX
“Ah, isso é uma decisão de UX, não tem nada que a gente possa fazer” — diz o desenvolvedor.
Em algumas empresas UX é um departamento. Mas isso não quer dizer que as decisões também devam ser departamentalizadas. Uma mudança no funcionamento de um menu proposta por um desenvolvedor front-end ao se deparar com uma incompatibilidade de browser irá, com toda certeza, afetar a experiência do usuário.
O problema é que em empresas onde existe um time dedicado a “UX” é comum que qualquer decisão que tenha algum impacto na experiência do usuário (leia-se “99% das decisões de um projeto”) são imediatamente direcionadas para o UX Designer.
Em seu ótimo artigo no UX Movement, Joe Natoli lista algumas situações em que isso pode ser um problema:
- Cada funcionalidade determinada por um Product Owner sem consultar o restante do time introduz a possibilidade de que o time gaste 2 semanas em algo que não precisa necessariamente ser resolvido, porque não tem nenhum impacto no valor percebido ou entregue aos usuários.
- Cada caso de uso que um Business Analyst desenvolva sem falar com o time de UX ou Design (ou ainda com os usuários finais) aumenta a possibilidade de que as interações e os fluxos vão contra aquilo que os usuários estão esperando usar, ou estão dispostos a usar.
- Cada escolha que um Arquiteto de Banco de Dados faz sem consultar os Designers ou outros Desenvolvedores limita a habilidade do time de criar interações que sejam esperadas ou apropriadas para os usuários.
- Cada decisão de estilo que o Designer Visual toma sem consultar os Business Analysts ou os Desenvolvedores introduz tempo adicional no desenvolvimento e coloca a verba em risco, o que acaba tirando a prioridade de outras funcionalidades que possam ser mais importantes.
Esses são só alguns exemplos, mas o ruído é mais constante do que parece. Processos inteiros são definidos partindo da premissa de que “UX é problema de um profissional só”. Mas quando as pessoas trabalham em isolamento, a maioria de suas horas de trabalho são gastas em decisões que precisarão ser repensadas a cada vez que um novo profissional de um grupo diferente é envolvido.
UX como uma lente, não como um passo do processo
Se o seu produto final está tendo problemas com a experiência do usuário, é pouco provável que a solução seja simplesmente contratar novos profissionais de UX para adicionar ao time.
Muitas vezes o talento e as habilidades necessárias já estão lá, no profissional de UX que você já tem dentro do time — mas o que falta é a conscientização por parte do restante da equipe de que UX não é somente uma parte do processo, mas sim uma “lente” que ajuda o time a focar no que realmente acrescentará valor, facilidade de uso e credibilidade para os usuários finais do produto.

No fundo, o papel do UX tem se tornado cada vez menos desenhar wireframes ou projetar interfaces, mas sim facilitar as conversas entre os vários membros do time.
- Será que estamos todos alinhados sobre o porquê de estarmos desenhando certa funcionalidade?
- Será que conversamos e analisamos todas as implicações técnicas para que essa funcionalidade seja possível?
- Será que entendemos os potenciais problemas caso ela não seja implementada da forma correta?
- Será que existe somente uma “forma correta” de resolver aquele problema, e será que consideramos o custo vs. benefício de todas as opções possíveis?
E você, qual porcentagem do seu tempo você passa desenhando algo versus facilitando as conversas e decisões entre os vários membros do time?
Leia também: The UX Chameleon and Its Multidisciplinary Skin