A importância da tecnologia na periferia e a cautela contra romantização das dificuldades de acesso

Como ter mais pessoas periféricas tendo a oportunidade de entrar em profissões relacionadas a tecnologia como UX Design e Desenvolvimento?

Leticia Pinheiro
UX Collective 🇧🇷

--

Mão utilizando celular com dedo encima de teclado na tela do dispositivo
Exemplo de pessoa utilizando celular (Fonte: Unsplash)

A tecnologia desempenha um papel crucial na sociedade moderna, impactando diversas áreas da vida cotidiana. Contudo, é inegável que o acesso à tecnologia nas periferias é notavelmente mais desafiador em comparação com outras regiões. Ao discutir essa disparidade, é essencial refletir sobre como aumentar as oportunidades para pessoas periféricas ingressarem em profissões tecnológicas.

­

Desafios e oportunidades

Recentemente, conversando com amigos, percebi que se não fosse a influência deles e da instituição federal que estudei, não teria nem conhecimento da profissão que atuo hoje. Profissões como UX Designer e Desenvolvedor são pouco conhecidas em áreas periféricas como a que cresci, levantando a questão de se essa falta de conhecimento está ligada às dificuldades de acesso à tecnologia.

Embora comunidades periféricas estejam gradualmente ganhando acesso a dispositivos eletrônicos e à internet, a realidade é que nem todos conseguem os melhores equipamentos. Histórias inspiradoras, como a de Cezar Pauxis, que se interessou por bots devido ao Telegram e começou a programar em celulares quebrados, se tornando um Engenheiro de Software, são marcantes. Conheço várias outras parecidas, mas pra quem vem de lugares como o de onde nasci, às vezes é difícil até mesmo de visualizar a oportunidade de entrar nesse meio.

No entanto, é crucial questionar: e se ele tivesse desistido diante das dificuldades? Assim como muitos que tentam seguir por um caminho diferente mas são impedidos pela realidade do dia a dia.

­

Romantização VS Realidade

A romantização dessas histórias de superação pode obscurecer a compreensão das barreiras reais enfrentadas nas comunidades periféricas. A dificuldade de acesso à educação, tecnologia e condições básicas de vida não deve ser encarada como algo belo ou admirável, mas como um desafio que não deveria existir.

Ao considerar como mais pessoas periféricas podem ter a oportunidade de entrar em profissões tecnológicas, devemos examinar iniciativas que facilitem o caminho. Apoio institucional, como escolas públicas oferecendo equipamentos básicos para estudo, poderia acelerar o processo de aprendizado e desenvolvimento profissional.

A pergunta fundamental é: e se as comunidades tivessem um suporte mais robusto e fácil introdução a esses dispositivos? A disponibilidade de recursos, como notebooks para estudo ou celulares funcionais, poderia reduzir as barreiras e abrir portas para carreiras na área de tecnologia.

Agora, outra reflexão: e se ele (Cezar Pauxis) nunca tivesse visto que poderia fazer um bot também?

É crucial destacar que, embora o acesso a esses equipamentos esteja aumentando, muitas pessoas ainda não recebem informações relevantes sobre educação, tecnologia e oportunidades de trabalho em seus dispositivos.

­

Divulgação e educação

A falta de conhecimento sobre profissões tecnológicas resulta em uma lacuna na busca por informações relevantes (até porque tudo que aparece pra nós, é muitas vezes referente ao que já pesquisamos, correto? Mas como vamos pesquisar algo que nem temos conhecimento que existe?).

Claro que é fácil dizer “basta pesquisarem sobre”, mas muitas vezes essa é uma ideia que nem passa na cabeça de uma pessoa que precisa encontrar uma forma de ganhar dinheiro rapidamente para se sustentar ou sustentar a família também. Tanto que muita gente nunca se perguntou quem que cria aplicativos, qual profissão faz o design de um dispositivo celular ou quem que cria um robô, só crescemos escutando sobre as profissões convencionais e mais comuns que nos contam.

Assim como já ouvi muitas pessoas dizerem que nem sabiam que universidades federais eram de graça e que dava pra entrar lá (como o Djonga fala aos 2min e 40s nessa entrevista: Djonga falando sobre incentivo a educação). Isso tudo faz com que muitos não descubram um mundo maravilhoso onde pode se envolver mais com esses assuntos e se especializar.

Eu e outras pessoas tivemos a sorte de ter descoberto sobre esse mundo, e no meu caso foi graças à instituição onde estudei, pois apenas após ter ouvido um amigo da mesma instituição falar sobre UX, esse assunto começou a aparecer no meu celular e eu fui pesquisando um pouco mais sobre isso.

Por isso, a divulgação de temas relacionados à tecnologia deve ser mais abordada em escolas públicas, ou também poderiam promover rodas de conversas sobre isso na periferia de forma mais acessível para todos (já que nem todos estão em escolas), além de algum dia possibilitarmos que todos tenham dispositivos eletrônicos ou o material que precisarem para seguirem que profissão quiserem.­

­

O que podemos fazer de forma simples?

  1. Se você é uma pessoa que tem acesso a esses conhecimentos e à tecnologia, tente levar isso pra mais pessoas ao seu redor pra que eles também conheçam mais sobre o assunto, espalhar conhecimento sempre vai ser uma das melhores formas de ajudarmos uns aos outros.
  2. Divulgar mais sobre o acesso a faculdades públicas e cursos gratuitos de tecnologia.

É importante levar mais pautas como essas para esses lugares, assim as crianças e adolescentes veem que existem outras formas de seguir e viver. Ao fazer isso, contribuímos para a construção de um futuro mais inclusivo e igualitário, onde o acesso à tecnologia não seja mais um privilégio, mas um direito universal.

--

--

UX Designer de aplicativos, apaixonada por tecnologia e inovação, com uma comunidade no disc para ajudar iniciantes na área: https://discord.gg/WRUpRreCxU