Acessibilidade Digital como cultura: Daltonismo e Dislexia
O mundo já está na web e não podemos deixar ninguém de fora.

Segundo Romeu Sassaki “o pai da inclusão social no brasil” conseguimos identificar 6 tipos de acessibilidade: programática, arquitetônica, comunicacional, metodológica, instrumental e atitudinal. Neste artigo abordaremos o conceito macro de Acessibilidade Comunicacional que define-se em, como oferecer recursos, atividades e bens culturais que promovam independência e autonomia aos indivíduos que necessitam de serviços específicos para acessar o conteúdo proposto (língua de sinais, corporal, gestual, jornal, livros, meio digital, etc.).
Para desenvolvermos a Acessibilidade digital, seguimos as diretrizes propostas pela W3C, que no Brasil é aplicado pelo Modelo de Acessibilidade Brasileiro (e-MAG) elaborado pelo Departamento de Governo Eletrônico, que tem o propósito de facilitar e padronizar o processo de acessibilização dos sites.
Quando começamos a buscar sobre, identificamos que existem dos mais variados contextos e perspectivas sobre o tema, sendo assim trazemos aqui algumas das definição de acessibilidade que levantamos através de uma pesquisa qualitativa. Definições essas como, “Inclusão para todas as pessoas”, “Democratização”, “algo que todos possam usar sem problemas”.
Pelo entendimento da legislação brasileira que conceitua acessibilidade como sendo a condição e possibilidade de alcance para utilização, com autonomia e segurança dos espaços, equipamentos urbanos e mobiliários, dos transportes, das edificações, dos sistemas e meios de comunicação por pessoa com mobilidade reduzida ou portadora de deficiência. Com isso, o que trazemos até aqui é a importância social e inclusiva que a Acessibilidade carrega, e que precisa ser debatida, construída e consolidada cada vez mais.
Entendendo sobre Daltonismo e dislexia
Daltonismo
Sabemos que a visão é responsável por captar cerca de 80% das informações recebidas diariamente, sendo delas 40% referentes à cor. Portanto, é possível perceber o grande impacto que a cor desempenha na vida dos seres humanos.
No Brasil estima-se que, segundo o censo IBGE 2017, o índice de pessoas com deficiências esteja por volta de 14,5%, sendo que cerca de 10% desta população são daltônicas, que é uma deficiência visual que se caracteriza pela dificuldade de identificar certas cores do espectro cromático.
O daltonismo é uma deficiência nas células dos olhos que afeta a percepção das cores através da luz. Dependendo do tipo e do grau de daltonismo, um daltônico não é capaz de enxergar, as cores verde, vermelho ou azul.
Tipos mais comuns de daltonismo
Vivemos rodeados pela cor. Imagine-se viver num mundo em que todos os sinais de trânsito têm a mesma cor! Quando falamos de cores é interessante verificar as características de pessoas que possuem daltonismos pois é um distúrbio que afeta na percepção de algumas cores, esse distúrbio pode ser congênito ou adquirido e existem 4 tipos que são:

- Protanopia: Dificuldade em distinguir tons de vermelho;
- Deuteranopia: A forma mais comum de daltonismo e é a dificuldade em distinguir alguns tons de vermelho e verde;
- Tritanopia: Dificuldade em distinguir tons de azul e as vezes tons de amarelo;
- Monocromia: O menos comum, esse tipo afeta o usuário em todas as cores, tornando a visão apenas em branco e tons de cinza.
Dislexia
Algumas pessoas que sofrem com a dislexia e não conseguem perceber ou associar a dificuldade como um distúrbio. Esse fato pode causar frustração, sentimento de incapacidade e faz com que se sintam desvalorizados, acarretando ainda inúmeros problemas como ansiedade, depressão e desmotivação (TELES, 2004).
Por ser tratar de uma disfunção que está diretamente relacionada a parte do cérebro responsável pela linguística, a leitura acaba sendo um dos processos mais difíceis.

Pode-se afirmar que a leitura integra dois processos cognitivos, distintos e indissociáveis: a decodificação e a compreensão da mensagem escrita. Portanto, é preciso ler para que seja possível compreender. A dificuldade de escrever está relacionada ao problema que o disléxico possui em ler e a confusão que essa leitura causa. Dentre as dificuldades da dislexia, a leitura e a interpretação são consideradas mais complicadas, confira algumas das dificuldades:
- Dificuldades com a linguagem e escrita;
- Dificuldades em escrever;
- Dificuldades com a ortografia; Lentidão na aprendizagem da leitura;
- Dificuldades com memória de curto prazo e com organização;
- Dificuldades com a língua falada;
- Dificuldades com a percepção espacial;
- Confusão entre direita e esquerda.
Quando usuários disléxicos leem um texto, às vezes experimentam efeitos de distorção visual. Esses efeitos variam em grau de pessoa para pessoa, mas podem tornar a leitura muito mais difícil.

Projetando para Daltônicos e disléxicos
Pessoas com Daltonismo
Muitas vezes quando precisamos criar um design para um app, site ou até mesmo para um impresso, buscamos ser concisos, porém algumas vezes não damos a devida importância ou não temos tempo necessário de criar um design que também seja acessível. Veja algumas boas práticas:
Labels, como torná-las acessíveis
A cor não deve ser o único recurso utilizado para indicar um significado, ação ou até mesmo destacar uma texto ou palavra específica. Expressões como “aperte no botão verde para continuar ou vermelho para cancelar” não tem a mesma eficácia que “aperte em continuar para seguir para a próxima tela”. Portanto, há de levar-se em consideração que usuários daltônicos ou outros tipos de deficiência visual, encontram dificuldade na identificação de cores.

Cores, o contraste é muito importante
Deve-se possibilitar através das cores um contraste suficiente para garantir uma boa leiturabilidade e para que consiga-se visualizar os elementos de importância na interface.

Se são links, devem se parecer com links
Levando em consideração que usuários com deficiência visual como o daltonismo, têm dificuldade de distinguir tons semelhantes. Colocar um link com cor parecida ao restante do conteúdo irá dificultar ainda mais a navegação na interface. Portanto, um link deve sem parecer com um link.

Pessoas com Dislexicos
Boas práticas que podemos adotar para projetar interfaces acessíveis a pessoas com dislexia.
Textos Justificado? Melhor não
Texto justificado dificulta a leitura não apenas de usuários disléxicos, mas também de não disléxicos. Isso acontece porque são criados grandes espaços irregulares entre as palavras, que quando se alinham um em cima do outro, cria-se um “rio” de espaço branco.

Parágrafos longos
Usuários disléxicos precisam de mais quebras entre os assuntos do que usuários não disléxicos. Quebrar o seu texto, exibindo uma ideia por parágrafo, torna a leitura muito mais fácil.

Fontes com serifa
Fontes com serifa tem ganchos nas extremidades dos traçados das letras. Podem parecer decorativos, mas costumam causar problemas de leitura.
Portanto, uma fonte semi serifada permitiria aos usuários disléxicos ver o formato das letras mais claramente. A falta desses ganchos aumenta o espaçamento entre as letras e as tornam mais distinguíveis.

Texto em Caixa Alta
Textos escritos em caixa alta, chamam a atenção do usuário se usado em títulos, chamadas ou apenas em uma palavra específica, mas já pensou ler um texto inteiro com letras maiúsculas? Então um texto em caixa alta (uppercase) pode causar desconforto na leitura e ainda dificultar o entendimento das letras, fazendo com que um usuário perca o foco da leitura.
Dose a quantidade de palavras que você irá utilizar em um texto, busque focar em palavras chave.

Tamanho de fonte
Quando criamos um design tendemos a focar muito tempo na tipografia desde fonte escolhida até o tamanho dos Hs que serão utilizados. Buscamos utilizar o melhor tamanho para o texto, porém muitas vezes utilizamos fontes em 08 ou 10 pontos, porém se nosso usuário é disléxico ou tem baixa visão esse tamanho pode se tornar ilegível. Portanto, o tamanho indicado para uma fonte varia entre 10 e 15 pontos. Também é importante ter cuidado em tipos muito grandes para textos longos, tenha cautela.

Acessibilidade como Cultura
Quando projetamos pensando em todos os possíveis usuários, estamos aumentando em cerca de 10% o número base de usuários teríamos. Isso pode gerar tanto impacto social como financeiro, é um jogo de ganha-ganha. A realidade do mercado é agilidade nas entregas com a maior qualidade técnica possível, e com essa premissa em mente tentamos desmistificar a criação de interfaces acessíveis.
Nosso objetivo com esse artigo é abrir o campo de visão de todas as pessoas, mostrando quais são os requisitos para que tenhamos uma web acessível para Daltônicos e Disléxicos. Além de reforçar um importante assunto, que vem sendo amplamente falado por pessoas maravilhosas.
Por fim queremos lembrar dois pontos importantes que assumimos ao escolher a profissão de Designer: Design Inclusivo e Design Universal. Ambos refletem a importância de projetar para todos e ter como princípio melhorar a vida das pessoas. O mundo já está na web e não podemos deixar ninguém de fora, por simplesmente negligenciar pequenas práticas que fazem a diferença.
Conheça as designers que escreveram esse artigo: