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Curadoria de artigos de UX, Visual e Product Design.

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Além do handoff: a importância da comunicação entre design e desenvolvimento

Gabriel Arruda
UX Collective 🇧🇷
6 min readFeb 14, 2025

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O intuito deste material é instigar uma reflexão sobre a interação designer-developer e muitos dos argumentos serão embasados em experiências pessoais que pude vivenciar recentemente, por isso, fique à vontade para trazer a sua opinião, suas experiências ou mesmo contrapontos.

Você, designer ou dev, provavelmente já se deparou com algum meme como o da imagem a seguir, certo?

Um painel de botões de elevador com um design confuso. Há botões numerados de forma inconsistente, incluindo números inteiros e frações como 5½, 6½, -2½, e 4½, além de um botão ‘0’ em destaque. O texto ‘QUANDO DESENVOLVEDORES PROJETAM INTERFACES’ está sobreposto na parte superior e inferior da imagem, sugerindo humor ou crítica sobre design de interfaces feito por desenvolvedores. Um emoji de rosto pensativo está no canto inferior direito da imagem

Esse meme é razoavelmente popular entre designers e, se formos levá-lo a sério, devs projetando interfaces é a receita do desastre. Concordam?

Spoiler: talvez muito menos do que o meme sugere.

Brincadeiras à parte, esse meme apareceu na minha timeline do LinkedIn e me fez refletir: será que ainda vemos pessoas desenvolvedoras apenas como executoras?

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Desenvolvedores são apenas executores?

Desenvolvedor trabalhando sozinho no escuro, cercado por múltiplas telas de código. A cena reforça o estereótipo do programador como um executor isolado, destacando a falta de colaboração e o distanciamento do processo criativo.
Photo by Jefferson Santos on Unsplash

No livro 'Inspirado', Marty Cagan destaca que devs são uma das maiores fontes de inovação em produtos digitais. Se os enxergamos apenas como executores de código, estamos desperdiçando um enorme potencial criativo.

Falando um pouco da minha experiência, muitas das melhores soluções de design nasceram de conversas com pessoas desenvolvedoras. No time de Design System da Unicred, as decisões são tomadas em conjunto com o time técnico. Como resultado, a nossa taxa de “interfaces problemáticas” (ou, no nosso caso, “componentes problemáticos”) era extremamente baixa, pois as entregas estavam alinhadas com a expectativa de design e com a excelência de código.

Ainda assim, o estereótipo de que “devs travam a criatividade” persiste. Embora profissionais desse tipo realmente existam, o mesmo pode ser dito de qualquer outra profissão, inclusive designers. Digo isso porque é importante lembrar que, por trás dessa relação profissional, existem pessoas com diferentes perfis, motivações e experiências. Além da complexidade inerente às relações humanas, há também uma série de fatores que tornam a colaboração entre design e desenvolvimento ainda mais desafiadora.

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Design e desenvolvimento: desafios que extrapolam as equipes

Três pessoas em uma reunião, duas delas com notebooks, enquanto um homem mais velho gesticula e fala. A cena transmite a ideia de uma conversa sobre decisões estratégicas, reforçando a interação entre design, desenvolvimento e negócios.
Photo by Mapbox on Unsplash

Problemas em produtos digitais raramente são culpa de uma única equipe. Muitas vezes, elas refletem:

  • Decisões de negócio desalinhadas;
  • Prioridades conflitantes;
  • Débitos técnicos (problemas arquiteturais, limitação de tecnologia e linguagem de programação, etc);
  • Falta de colaboração e comunicação entre as equipes;
  • E o pior: uma combinação de todos os cenários anteriores.

Apenas com estes exemplos já temos algumas situações que vão contra o que o meme que citei no início sugere.

Dependendo da maturidade da empresa, decisões top-down, falta de tempo (o famoso “go horse”) ou exigências jurídicas também impactam a relação design-desenvolvimento. Assim, quando uma pessoa desenvolvedora projeta e entrega uma interface que não é a ideal, pode ser que ela também esteja lidando com restrições fora do seu controle.

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O mito da limitação criativa

Pessoa com expressão entediada e olhar distante, apoiando o rosto na mão, sentada em um café com um laptop aberto. A imagem sugere frustração ou impaciência, remetendo à percepção equivocada de que desenvolvedores “matam” a criatividade de designers.
Photo by Magnet.me on Unsplash

Certa vez, ouvi de uma pessoa designer que design systems e devs “limitavam a criatividade do time de design”, impedindo a entrega de um “design encantador”. Nessa ocasião, um colega disse algo que me marcou:

O produto é encantador quando ele facilita a minha vida. Eu fico encantado quando o sistema funciona, quando o fluxo é intuitivo e o produto do meu banco rende acima dos padrões de mercado. A estética da interface é complemento.

Esse relato mostra como, muitas vezes, falta aos designers uma compreensão técnica mais ampla do produto e suas limitações. Quando essa compreensão é superficial, a responsabilidade por interfaces problemáticas acaba sendo jogada sobre o time de desenvolvimento (que também lida com restrições semelhantes).

A falta de compreensão é frequentemente um reflexo de comunicação ineficaz ou inexistente entre as áreas.

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O erro do isolamento entre equipes

Uma pessoa com semblante preocupado, usando um laptop e trabalhando sozinha em um espaço vazio. A imagem sugere a ideia de uma pessoa designer ou desenvolvedora, trabalhando isolada, sem iteração com seus colegas e sem conseguir avançar na sua tarefa.
Photo by Tim Gouw on Unsplash

Ainda é comum vermos times de design trabalhando isoladamente, interagindo com os times de desenvolvimento apenas em refinamentos ou no handoff das interfaces. Esse modelo costuma resultar em retrabalho, atrasos e baixa qualidade nas entregas.

É essencial que designers se aproximem do time de desenvolvimento para entender a lógica por trás do código. Isso não significa que precisam saber programar, mas sim entender de tecnologia para dialogar de maneira eficiente com as pessoas desenvolvedoras. Esse diálogo é crucial para compreender os limites e as possibilidades do produto, explorando-os para solucionar problemas e entregar soluções relevantes.

Quando estávamos estruturando e entregando o Design System da Unicred, partimos de um princípio básico: o trabalho precisava ser colaborativo. Erramos bastante no início e enfrentamos algumas das interferências que mencionei anteriormente. No entanto, com persistência e um baita trabalho em equipe, conseguimos evoluir e chegar a um fluxo ideal. Algumas das ações que adotamos foram:

  • Definição de padrões conjuntos: Criamos, em equipe, os critérios e acordos necessários para garantir a fluidez no fluxo de trabalho, incluindo critérios de aceitação, formato de handoff e documentação de componentes.
  • Participação ativa do time de desenvolvimento: A equipe de desenvolvimento esteve presente em todas as etapas do fluxo de design — estudo, concepção, testes, validação e handoff — trazendo a visão técnica para enriquecer o processo criativo e explorar soluções inovadoras.
  • Tradução da lógica técnica: Durante as validações técnicas, os desenvolvedores explicavam os conceitos tecnológicos de maneira acessível, garantindo que designers entendessem claramente o funcionamento, mesmo sem conhecimento de programação.

Como resultado, nossas entregas se tornaram mais ágeis e, principalmente, mais consistentes em termos de qualidade. A maturidade da equipe deu um salto, e a cocriação se tornou um processo natural entre os membros do time.

Essa experiência colaborativa me trouxe um aprendizado essencial:

Pessoas desenvolvedoras se importam tanto com a qualidade do produto quanto designers.

Reunião com cinco pessoas em uma sala onde, uma delas, faz uma apresentação em um quadro branco com múltiplos post-its. As outras quatro pessoas estão reunidas em uma mesa com laptops, observando a apresentação. A imagem sugere a ideia de uma pessoa designer conduzindo uma dinâmica entre equipes multidisciplinares, sendo uma "ponte" para esse diálogo.
Photo by Jason Goodman on Unsplash

Para product designers, estar envolvido em discussões técnicas é fundamental. Trazer dúvidas e a visão de design para esses debates ajuda a aprofundar o entendimento sobre tecnologia e fortalece a colaboração entre equipes. Além disso, integrar outras frentes no processo de design é uma ótima maneira de construir uma cultura colaborativa.

Designers podem — e devem — atuar como uma ponte entre os times, facilitando o compartilhamento de conhecimento e a criação de um ambiente colaborativo. Embora esse processo demande esforço, os ganhos em maturidade, inovação e qualidade justificam completamente o investimento.

Pensando nisso, será que estamos realmente promovendo o melhor ambiente para designers e devs trabalharem juntos?

Hoje, vejo o trabalho colaborativo entre essas áreas como uma premissa básica, mas em contextos onde ele falha, precisamos nos perguntar:

Estamos instigando uns aos outros a entender melhor o que fazemos?

Recomendação de leituras

Agradecimentos

Quero aproveitar e fazer um agradecimento especial aos colegas Aryeh, Fernando, Jackeline, Marcus, Nikely, Paulo e Pedro, que me ajudaram na construção desse artigo e que tanto me ensinaram sobre o assunto. Obrigado pela parceria de sempre!

Referências

Marty Cagan — Inspirado: como criar produtos de tecnologia que os clientes amam, Alta Books, 2021

Virginie Caplet — Building bridges between Design and Development

Carlos Henrique Filho — Envolva as pessoas desenvolvedoras na hora de fazer design

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