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Ampliando horizontes: Uma visão sobre a cognição distribuída em UX

João Crescioni
UX Collective 🇧🇷
4 min readFeb 21, 2025

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Meme de uma criança se afogando em uma piscina enquanto outra está sendo segurada por um adulto. A criança se afogando tem o rótulo “Minhas tarefas semanais”, a criança segura tem o rótulo “Escolhendo entre Notion, Obsidian ou Craft”, e o adulto segurando a criança tem o rótulo “Eu”.
Imagem feita no imgflip.com

Se você, assim como eu, adora testar milhões de apps de produtividade, anotação e gerenciamento de tempo, talvez você já tenha se deparado com uma das expressões da teoria da cognição distribuída sem nem saber.

O que se entende hoje por “cognição distribuída”, como termo, surge a partir de estudos e artigos de Edwin Hutchins na década de 1990 (Rocha, J. A. P., Paula, C. P. A. de, & Sirihal Duarte, A. B. (2016)) e consolida-se com o seu artigo “Distributed cognition: toward a new foundation for human-computer interaction research”, embora autores pregressos (sobretudo os preponentes da psicologia sócio-histórica, tais como Vigotski, Luria e Leontiev) já discutiam a relação entre como nossa mente processa os fenômenos a nossa volta com os contextos sociais, culturas e físicos que nos cercam.

Mas do que de fato ela se trata?

A cognição distribuída, conforme proposta por Hutchins (2000) redefine os processos cognitivos como fenômenos que ocorrem além dos limites do cérebro humano, distribuindo-se através de artefatos culturais, sistemas simbólicos e interações sociais.

Na prática? Isso significa que usamos recursos externos a nós — membros do nosso grupo social, artefatos físicos e digitais e o ambiente como um todo — para amplificar nossa capacidade cognitiva.

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Implicações para UX

Se você captou bem do que se trata a cognição distribuída, você já tenha entendido em que ponto nossa prática profissional é transpassada por ela.

Embora aplicativos de produtividade sejam um exemplo escancarado de como utilizamos ferramentas externas para realizar atividades cognitivas por nós — um pomodoro para nos ajudar a ter foco, uma lista de tarefas para no Notion para nos lembrar de tudo que temos para fazer ou as anotações interconectadas do Obsidian — em última instância, qualquer produto ou interface desenvolvida por nós tem potencial de “compartilhar” parte da nossa cognição.

Quer exemplos? Segura:

  • O recurso de autocompletar em formulários (onde delegamos tarefas para o sistema);
  • O histórico de navegação e sua aba de favoritos no seu navegador (externalizam a memória);
  • Um style guide bem definido e coeso (simplifica a tomada de decisões por reconhecimento de padrões).

Todos são exemplos de como não dependemos mais apenas de recursos internos para realizar atividades.

Essa é uma implicação muita mais filosófica do que prática, admito. Mas ao pensarmos em abordar nossos projetos sob essa ótica, podemos entender, por exemplo, o sucesso de um de nossos queridinhos: o Figma.

  • Pense em como o Figma nos permite criar diversos tipos de artefatos;
  • Pense também em todas as formas pelas quais esses artefatos podem ser representados no programa — anotações escritas, desenhos, emojis, selos, etc.
  • Por fim, pense no recurso de versionamento e histórico do aplicativo.

O que o Figma faz, com tudo isso, é tornar a colaboração em tempo real num processo cognitivo distribuído, através do qual você, em grupo (todos os colaboradores que fazem edições num projeto), excede suas capacidades cognitivas individuais.

Mas, se o usuário precisa desses artefatos externos para superar suas capacidades… o que acontece quando esses artefatos não estão disponíveis?

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E se estivermos fazendo coisas demais pelo nosso usuário?

A integração entre a cognição distribuída e o campo do UX/UI Design é digamos um salto na compreensão da nossa atividade: não somente atender as expectativas e necessidades do usuário, mas ajudá-lo a superar seus limites internos num ambiente cognitivo sustentável.

E isso traz um questionamento:

Até que ponto, ao criarmos artefatos úteis para a cognição do usuário, não estamos na mesma medida tirando sua capacidade de resolver problemas por conta própria?

É com essa pequena pulga atrás da orelha que pensei em escrever esse artigo. Tenho uma resposta para essa dúvida? Claro que não.

Mas me arrisco a dizer que no futuro vamos precisar encontrar o equilíbrio entre:

  1. Manter a autonomia do usuário;
  2. Desenvolver produtos que diminuam a sobrecarga cognitiva.

E para isso, haja estudo.

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Written by João Crescioni

UX/UI Designer sempre buscando ir além e alcançar novos horizontes - e, entre uma jornada de usuário e um protótipo, também escrevo sobre Design e Psicologia

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