Carga Cognitiva em UX/UI: aplicações e o que você precisa saber
Porque pensar na carga cognitiva é essencial para o nosso dia a dia como designers.

Já sentiu aquela confusão ou frustração ao navegar em um site super complexo?
É quase certo que, em algum momento da sua vida, você já passou por um site que parecia complexo demais: pop-ups em cima de pop-ups, becos, interações sem sentido e recursos sofisticados que não têm utilidade prática. E aí, parece familiar?
Porém, será que essa complexidade é realmente a vilã da história?
Para entender melhor o assunto, é sempre bom lembrar que a complexidade de um website/interface — e seus efeitos sobre o comportamento dos usuários — são um tema de interesse não só para a área de UX/UI, mas também para a área da interação humano-computador e da psicologia. É aqui onde entra esse conceito chave: a carga cognitiva.
Explicando o conceito
Esse conceito surgiu em 1988 em um artigo intitulado “Cognitive Load During Problem Solving: Effects on Learning”, de John Sweller. A teoria da carga cognitiva é “baseada na premissa de que a estrutura cognitiva do cérebro humano permite que uma quantidade limitada de informações seja processada (tradução livre, Van Merrienboer & Sweller, 2005)”. Em termos mais gerais e simples:
Ela representa a quantidade de esforço mental ou recursos mentais que uma pessoa utiliza ao realizar uma tarefa específica, e está intimamente ligada com outro conceito: a memória de trabalho.
Pode-se, então, dividir a carga cognitiva em três categorias — embora eu tenha de admitir que a literatura atual não pareça ter chegado a um consenso sobre essas definições.
Para explicá-las melhor, imagine que você está navegando em uma loja online para comprar um notebook específico. Nesse cenário:
- Carga Intrínseca: A carga intrínseca aqui seria a complexidade inerente à tarefa de encontrar e comprar o notebook desejado. Isso inclui a navegação pelo site, a pesquisa pelo produto, a seleção de opções como cor e memória, a adição ao carrinho e a finalização da compra no checkout. Todas essas etapas estão diretamente relacionadas à tarefa em si e contribuem para a carga intrínseca.
- Carga Extrínseca ou Irrelevante: a carga extrínseca ou irrelevante está relacionada a elementos que podem distrair você da tarefa principal de comprar o notebook. Isso pode incluir pop-ups de promoções, anúncios de outros produtos não relacionados ou vídeos automáticos tocando no canto da tela. Esses elementos não fazem parte do fluxo direto de compra e podem aumentar a carga cognitiva, pois exigem atenção e podem distrair você do seu objetivo principal.
- Carga Relevante: a carga relevante neste contexto se trata da alocação de recursos cognitivos, como memória e atenção, para tomar decisões importantes relacionadas à compra. Isso incluiria a comparação de especificações técnicas, a avaliação das opções de garantia e a consideração do preço. A carga relevante é direcionada para as informações e ações cruciais para decidir, atuando como um complemento para a atividade, mas não um requisito.
Essas três categorias somam-se, isto é, elas compõem a carga cognitiva total. Com essa explicação, fica claro que o real problema não está na existência de uma carga cognitiva geral alta, mas sim na existência de níveis altos de carga extrínseca e na falta de carga relevante, já que como alguns estudos apontam, um aumento da última pode influenciar a satisfação e o interesse por uma interface.
No entanto, é preciso atenção: a chamada sobrecarga cognitiva ocorre quando uma pessoa enfrenta uma quantidade de informações, tarefas ou demandas cognitivas que excede sua capacidade de processamento mental ou recursos cognitivos disponíveis, o que, no contexto de um usuário, pode gerar efeitos indesejados como aumento do estresse e da ansiedade e diminuição da performance na realização da tarefa — basicamente tudo o que mais queremos evitar.
Como aplicar no dia-a-dia

Aplicar o conceito de carga cognitiva no dia a dia de nós, UX Designers, é fundamental para criar interfaces e experiências do usuário mais eficazes e agradáveis. Separei alguns pontos nos quais eu geralmente penso ao aplicar o que sei sobre carga cognitiva nos meus trabalhos:
- Hiper minimalismo não é a solução: reduzir excessivamente estímulos pode ter o efeito contrário ao desejado; há certas complexidades que não podem ser reduzidas e a redução demasiada delas pode gerar desinteresse. Afinal, por que alguém prestaria atenção em uma interface vazia e sem estímulos?
- Avaliar a Carga Intrínseca: ao projetar uma interface, costumo considerar a complexidade intrínseca das tarefas que os usuários precisam realizar. Isso envolve entender as etapas e os processos envolvidos, sempre pensando no que deveria ou não fazer parte da jornada do usuário.
- Reduzir a Carga Extrínseca: aqui, o segredo é eliminar distrações e ruído. Isso significa dizer adeus a pop-ups repetitivos, anúncios intrusivos e elementos que não contribuem para a tarefa principal. E sim, isso inclui os padrões enganosos (deceptive patterns).
- Descobrir o que é a Carga Relevante para o usuário: procuro identificar e destacar as informações e ações relevantes para a tarefa do usuário. Garantir que informações críticas sejam facilmente acessíveis e compreensíveis é essencial. No entanto, é preciso ir um pouco além e não se ater só ao manual da análise de heurísticas; devemos ir aos nossos usuários e empregar métodos de pesquisa para que possamos descobrir o que é de fato relevante.
Em resumo, temos um papel crítico na aplicação do conceito de carga cognitiva. Nosso objetivo? Projetar interfaces que minimizem a sobrecarga cognitiva, tornem as tarefas mais eficientes e satisfatórias para os usuários e melhorem a experiência geral do usuário 🌟
Referências
- Artigo: Cognitive load during problem solving: Effects on learning
- Artigo: An eye-tracking study of website complexity from cognitive load perspective
- Artigo: How do pedagogical approaches affect the impact of augmented reality on education? A meta-analysis and research synthesis
- Sobre Carga Cognitiva: Cognitive Load Theory
- Sobre a Lei de Tesler: Laws of UX