Cinco formas de fazer teste de usabilidade mobile

Elisa Volpato
UX Collective 🇧🇷
10 min readFeb 2, 2015

--

Você já sabe que pensar o seu produto só para a tela do computador não funciona, né? E as técnicas de pesquisa precisam se adaptar também.

O roteiro, a amostra e a análise não mudam tanto assim quando é um teste com dispositivos mobile — você só vai testar em tela diferente, afinal. O que muda é a forma como você vai observar e filmar o que a pessoa está fazendo na telinha.

Para testes de usabilidade no computador há ferramentas muito boas que dão conta de gravar a tela + rosto do participante + áudio do participante, tudo sincronizado. Os mais famosos são o Morae e o primo mais modesto, o Camtasia. Mas e para gravar a telinha do celular ou do tablet? Existe um Morae para dispositivos móveis? Ainda não. Mas há várias formas de conseguir o mesmo efeito — e você não precisa gastar muito com isso.

A seguir, 5 formas de acompanhar e gravar a navegação na tela de dispositivos móveis. E os prós e contras de cada uma.

1. O estagiário com a câmera

Peça para alguém se posicionar atrás do participante do teste com uma câmera, filmando por cima do ombro da pessoa. Sim, é melhor ter alguém para te ajudar. Não adianta só deixar a câmera apontada para o ângulo certo. E se a pessoa tiver um cabelão? E se ela tirar o celular da posição? E se perde o foco? Ah, um tripé ajuda muito.

[caption id=”attachment_12014" align=”alignnone” width=”356"]

Como eu me sinto quando faço teste assim.

Como eu me sinto quando faço teste assim.[/caption]

PRĂ“S:

  • VocĂŞ consegue gravar os gestos do participante e um pouco do ambiente no entorno.
  • A pessoa pode usar o celular dela. Isso Ă© importante porque a pessoa se sente mais Ă  vontade com o prĂłprio celular, sem ter que aprender a usar um aparelho diferente. Celulares Android variam muito no tamanho, no formato e atĂ© no posicionamento dos botões fixos.

CONTRAS:

  • O participante pode se sentir tenso porque tem uma pessoa atrás dele e nĂŁo dá pra ver exatamente o que ela está fazendo (ui).
  • VocĂŞ precisa pedir para a pessoa deixar o celular quieto na mesa — ou pode ser difĂ­cil de ficar ajustando o foco, o zoom e o posicionamento da câmera o tempo todo.
  • Pela distância e pelo ângulo, fica difĂ­cil ver exatamente o que está na tela. Vai ter a mĂŁo da pessoa na frente, talvez um ombro ou cabelos arrepiados. Enfim: o vĂ­deo nĂŁo fica tĂŁo bom assim.
  • Tem que tomar cuidado com reflexo e a luminosidade da tela.
  • VocĂŞ nĂŁo consegue acompanhar direito o que a pessoa está fazendo.

2. Aplicativo que grava a tela do celular

Sim, existem aplicativos que fazem isso! Mas não se empolgue muito: na maioria são aplicativos (bem) pagos ou que exigem que você faça jailbreak no celular.

Se você tem orçamento disponível, pode usar uma ferramenta como o UX Recorder — que grava a tela do celular e já sincroniza com a câmera frontal. A desvantagem é que só tem para iPhone e funciona como um browser “de mentira” — não serve para testar aplicativos.

Se você não tem orçamento mas tem um primo hacker, há opções gratuitas (ou quase) para quem tem um celular com jailbreak.

Dica: certifique-se de que o aplicativo grava, além da tela, o local onde a pessoa tocou na tela. Isso ajuda bastante na hora de analisar o vídeo depois.

PRĂ“S

  • É pouco invasivo, nĂŁo fica outra câmera apontada para a pessoa.
  • O vĂ­deo fica bom, dá para ver direitinho o que acontece na tela.
  • A pessoa pode se mexer Ă  vontade — com o celular.

CONTRAS

  • NĂŁo dá para ver o dedo e os gestos que a pessoa faz com a mĂŁo (no máximo o programa sinaliza o lugar onde a pessoa tocou, mas nĂŁo Ă© a mesma coisa).
  • VocĂŞ precisa ter dispositivos de teste. É chato pedir para a pessoa instalar um aplicativo no celular dela e muito chato (para nĂŁo dizer errado) pedir para ela fazer jailbreak. E se vocĂŞ se limitar a sĂł recrutar pessoas que já fizeram jailbreak no celular, nĂŁo vai ter uma amostra muito boa, nĂ©?
  • VocĂŞ nĂŁo consegue acompanhar direito o que a pessoa está fazendo.
  • Alguns aplicativos de gravação podem deixar o celular lento.

3. Compartilhar a tela do celular com o computador

[caption id=”attachment_12016" align=”alignnone” width=”580"]

Fica fácil de ver o que a pessoa está fazendo, sem ter que ficar grudado no cangote.

Fica fácil de ver o que a pessoa está fazendo, sem ter que ficar grudado no cangote.[/caption]

Bem parecido com a técnica anterior, mas neste caso você não precisa gravar direto do celular. A ideia é compartilhar a tela do celular com o computador e gravar a tela do computador (com o Camtasia, por exemplo). No iPhone você nem precisa instalar nada — é só usar o Airplay + um aplicativo instalado no seu mac ou pc para receber o compartilhamento de tela (eu uso o Airserver).

No Android há aplicativos para isso e diz a lenda que alguns modelos já vêm com compartilhamento de tela nativo (se você tiver um celular Samsung e um computador Samsung, por exemplo). Mas se o celular não vem com isso é mais complicado e você pode ter que fazer root (jailbreak). Algumas opções funcionam com wi-fi ou bluetooth, outras com um cabo USB. Tive que pesquisar muito e baixar vários programinhas duvidosos até conseguir fazer a coisa funcionar com meu Nexus — acabei descobrindo o MirrorOp — não é muito bonito, mas funciona.

PRĂ“S

  • Pouco invasivo (principalmente se nĂŁo precisar de um cabo).
  • Para quem Ă© de iPhone, nĂŁo precisa instalar nada no celular.
  • O vĂ­deo fica bom.
  • VocĂŞ pode acompanhar do computador o que a pessoa está fazendo no celular sem ter que ficar espiando por cima do ombro.

CONTRAS

  • NĂŁo dá para usar o celular da pessoa se for um Android.
  • NĂŁo dá para ver o dedo e os gestos que a pessoa faz com a mĂŁo.

4. Suporte acoplado ao celular

Aqui começam os aparatos mais complexos — e as gambiarras.

[caption id=”attachment_12017" align=”alignnone” width=”580"]

"Como você faria para checar seus e-mails com uma câmera na frente do seu celular?"

“Como você faria para checar seus e-mails com uma câmera na frente do seu celular?”[/caption]

A ideia é conseguir filmar o celular de cima e permitir que a pessoa pegue o celular normalmente — ou quase. Se você tem dinheiro, há soluções prontas e bem articuladas — literalmente — como o Mr Tappy. Se não tem dinheiro, pode montar seu próprio aparato com a ajuda do seu primo engenheiro ou em um lugar que fabrica peças de acrílico.

O importante é montar algo leve e que não atrapalhe muito a movimentação, com o ângulo certo para filmar a navegação sem atrapalhar a visão da pessoa. E pensar em um jeito de “grudar” o celular ali. Pode ser um velcro, uma fita dupla-face, uma capinha de celular fixa. Há quem use uma câmera de documentos, com foco fixo (como na primeira foto), mas uma webcam com um foco ajustável já pode ser suficiente.

PRĂ“S:

  • VocĂŞ filma o dedo da pessoa e a interação na tela.
  • A pessoa pode pegar o celular e se mexer com ele e quem sabe atĂ© sair andando — atĂ© o cabo da câmera acabar.
  • Como a câmera está ligada ao computador, vocĂŞ pode acompanhar dali o que a pessoa está fazendo.
  • Se vocĂŞ tiver o Morae, pode usar para sincronizar as duas câmeras.

CONTRAS:

  • Os movimentos da pessoa sĂŁo bem Ăşteis, mas acaba atrapalhando quando vocĂŞ quer ver o que está na tela.
  • Pode afetar o comportamento da pessoa — com um peso extra, ela pode segurar o celular de um jeito diferente.
  • Fica meio difĂ­cil para a pessoa esquecer que está sendo filmada.
  • Dependendo da forma como vocĂŞ vai “grudar” o celular ali, nĂŁo pode usar o celular do participante.
  • Tem que tomar cuidado com reflexo e a luminosidade da tela.

5. Suporte com câmera apoiado na mesa

Este é um método mais simples, que não precisa de tanta gambiarra: basta ter um suporte (de novo, as lojas de acrílico ajudam muito) e apoiá-lo na mesa, colocando a câmera virada para baixo.

Se você quiser investir um pouco, há câmeras que já vêm com um suporte, como a Ipevo (abaixo).

[caption id=”attachment_12019" align=”alignnone” width=”580"]

Se o suporte for alto o suficiente, pode filmar celulares e tablets em atrapalhar a vida da pessoa.

Se o suporte for alto o suficiente, pode filmar celulares e tablets sem atrapalhar a vida da pessoa.[/caption]

Mas você nem precisa comprar uma câmera especial para isso: antes de ter a Ipevo, mandei fazer um suporte de acrílico para colocar uma webcam em cima e funciona que é uma beleza — resistente, leve e discreto. Tão discreto (literalmente transparente) que aposto que você nem notou que ele estava na foto no topo do post. Abaixo uma nova chance:

[caption id=”attachment_12068" align=”alignnone” width=”580"]

mesahow

Aqui eu estava usando o suporte acrílico como apoio para a webcam filmando o participante, mas também poderia virar a webcam para baixo para filmar o celular.[/caption]

Com uma câmera apoiada na mesa, há quem faça a pessoa ficar com o celular preso à mesa para não perder o foco da câmera. Mas eu acredito que o mais importante é a pessoa ficar à vontade do que gerar um vídeo bom. Então, o que eu faço: defino uma área na mesa (pode ser uma folha sulfite) e peço para a pessoa ficar mais ou menos em cima dali. E se a pessoa começa a se mexer demais com o celular, ajusto a câmera discretamente.

PRĂ“S:

  • VocĂŞ filma o dedo da pessoa e a interação na tela.
  • A pessoa pode pegar o celular e se mexer com ele, com uma certa mobilidade — desde que nĂŁo saia do raio de ação da câmera.
  • Como a câmera está ligada ao computador, vocĂŞ pode acompanhar dali o que a pessoa está fazendo (e ajustar a câmera se necessário.
  • Se o suporte for alto, vocĂŞ pode usar o celular da pessoa e tambĂ©m ver um pouco do contexto — Ă s vezes vocĂŞ aproveita para filmar uma anotação ou o uso de dois celulares simultâneos (sĂ©rio, eu já vi).
  • Se vocĂŞ tiver o Morae, pode usar para sincronizar as duas câmeras.

CONTRAS:

  • Os movimentos da pessoa sĂŁo bem Ăşteis, mas acaba atrapalhando quando vocĂŞ quer ver o que está na tela.
  • Se a pessoa se mexer muito, pode perder o foco da câmera ou parar de ver a tela.
  • Tem que tomar cuidado com reflexo e a luminosidade da tela — a Ipevo tem um acessĂłrio para barrar o reflexo da iluminação que ajuda muito.

—

EntĂŁo, qual eu devo usar?

Para ajudar a decidir, tabelinha resumindo tudo:

tabela_testemobile

E o pulo do gato: porque não usar mais de uma técnica ao mesmo tempo? Você pode filmar por cima e também compartilhar a tela do celular com o computador. Assim você vê a tela sozinha e também a tela com os movimentos do participante — e depois pode juntar tudo em um vídeo só. Somando à webcam que capta o rosto da pessoa, o resultado fica mais ou menos assim:

[caption id=”attachment_12023" align=”alignnone” width=”580"]

resultado_mobile

Eu, fingindo que sou participante.[/caption]

Por fim: é bem útil ter alguns celulares para fazer teste. Mas se a pessoa tiver um celular que é muito diferente do seu, pode ser melhor deixá-la fazer com o próprio aparelho. O vídeo não fica tão bom assim, mas pelo menos o participante fica à vontade, não perde tempo procurando os botões e o seu resultado poderá ser mais próximo do real.

[tw-divider][/tw-divider]

Bom, esse post todo foi só para falar de teste moderados presenciais, quando você está no mesmo local da pessoa e ao mesmo tempo. Por enquanto ainda não encontrei um jeito prático de fazer testes remotos no celular (se você souber de algum, avise!). Pedir para a pessoa arrumar um jeito de colocar uma webcam filmando o celular e te mandar o vídeo depois pode ser pedir demais, né? Quem tem que ter trabalho é você, não o participante.

Mas falando nisso, o User Testing acabou de lançar um aplicativo que serve para filmar a tela do celular em testes remotos, junto com o áudio do participante. Mas por enquanto só ajuda se você quiser fazer testes com gringos, porque eles ainda não têm base de usuários no Brasil.

Bom, essa foi a minha experiência com o assunto. E você? Já fez testes em dispositivos mobile de alguma outra forma? Teve uma experiência diferente e discorda de tudo que tá escrito aqui? Tem uma sugestão de ferramenta? Manda nos comentários!

[tw-divider]Ferramentas citadas / para ler mais [/tw-divider]

Morae

Camtasia

Ipevo Document Camera

UX Recorder

Mr. Tappy

MirrorOp

Quick tip: make your own iPhone usability testing sled for £5 — Harry Brignull

UserTesting Now Lets You Test Almost Any Experience, Anywhere

Foto de teste realizado na House of Work.

--

--