Como a cognição humana influencia a experiência do usuário em produtos digitais
Compreenda como os usuários percebem, processam e interagem com as informações de produtos digitais.
Com a evolução constante da tecnologia, a presença de produtos digitais em nossas vidas se tornou mais comum e crescente. Desde smartphones até sistemas complexos de software, a tecnologia digital está cada vez mais presente no cotidiano das pessoas.
No entanto, com essa crescente complexidade, a compreensão da cognição humana se torna essencial para projetar interfaces mais intuitivas e fáceis de usar, que possam oferecer aos usuários uma experiência mais satisfatória.
A cognição humana envolve o estudo do processamento de informações em nossas mentes, incluindo a percepção, atenção, memória, processamento de informações e motivação.
O conhecimento desses princípios de cognição humana pode ajudar os designers a criar produtos digitais que sejam mais acessíveis e inclusivos para uma ampla variedade de usuários.
Este artigo discute como a cognição humana influencia a experiência do usuário em produtos digitais e como os designers podem aplicar princípios de cognição humana para criar interfaces mais eficazes.
Ao compreender como os usuários percebem, processam e interagem com as informações em produtos digitais, os designers podem criar interfaces mais intuitivas e eficientes que possam ser usadas com facilidade e satisfação pelos usuários.
“O sucesso de um produto digital depende tanto da sua funcionalidade quanto da sua capacidade de compreender e atender às necessidades cognitivas dos usuários. É preciso pensar além da tecnologia e considerar a psicologia humana na criação de uma experiência digital verdadeiramente envolvente e satisfatória.”
— Steve Jobs
Percepção
A percepção é o processo pelo qual os seres humanos interpretam estímulos sensoriais. Em produtos digitais, a percepção é fundamental para criar interfaces visuais atraentes e fáceis de entender.
Os vieses de percepção se referem a erros sistemáticos que ocorrem durante o processo de percepção, que podem afetar a maneira como os usuários interagem com produtos digitais. Alguns dos vieses mais comuns incluem:
Discutiremos como os designers podem aplicar princípios de percepção para criar designs de interface que são facilmente identificáveis, como usar cores contrastantes para destacar botões importantes e evitar a sobrecarga visual.
A teoria da gestalt, que se concentra na organização perceptual da informação, pode ser aplicada em projetos de design digital para criar interfaces que sejam mais facilmente compreendidas pelos usuários.
Um exemplo de como a gestalt pode ser aplicada é o uso de agrupamento visual para organizar informações em grupos coesos. Por exemplo, uma interface de lista de tarefas pode usar espaçamento consistente, tamanho de fonte e cores para agrupar visualmente as tarefas relacionadas, facilitando a compreensão do usuário de como as tarefas estão relacionadas umas às outras.
Outro exemplo de aplicação da teoria da gestalt é o uso de figura e fundo para destacar informações importantes. Por exemplo, uma interface de calendário pode usar cores de fundo diferentes para destacar os eventos importantes em relação aos eventos menos importantes, tornando mais fácil para o usuário identificar rapidamente os eventos mais relevantes.
Ao aplicar princípios de gestalt na criação de interfaces, os designers podem ajudar os usuários a perceber e compreender a informação com mais facilidade, o que pode levar a uma experiência do usuário mais satisfatória e eficaz.
Atenção
A atenção é a capacidade de se concentrar em um estímulo específico enquanto ignora outros. Em produtos digitais, a atenção é fundamental para direcionar o usuário para as tarefas importantes.
Para isso, a interface precisa utilizar os vieses da atenção para ajudar os usuários a se concentrar nas tarefas-chave, são eles:
1. Viés da Focalização seletiva
Os usuários tendem a focar na informação relevante para seus objetivos imediatos e ignorar informações irrelevantes.
É importante que a interface use desse princípio para garantir que as informações-chave sejam destacadas visualmente e que as informações menos importantes sejam menos proeminentes.
Esse viés é comumente associado ao viés de confirmação, sendo a tendência de procurar, interpretar e lembrar informações de uma maneira que confirma ou reforça nossas crenças pré-existentes.
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2. Viés da Atenção dividida
Usuários podem se concentrar em várias informações simultaneamente, mas a atenção pode diminuir à medida que mais informações são adicionadas.
Deve-se evitar sobrecarregar os usuários com muitas informações na tela e dar feedback claro e rápido para garantir que os usuários acompanhem as mudanças.
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3. Viés da Fadiga de cognitiva
A atenção do usuário pode diminuir ao longo do tempo, dificultando se concentrar em informações por períodos mais longos. A fadiga cognitiva é uma condição em que uma pessoa experimenta cansaço, exaustão mental e dificuldade em se concentrar, como resultado de um esforço prolongado de atenção ou tomada de decisão.
Além disso, a fadiga cognitiva pode levar a um aumento na propensão a erros e a uma diminuição na capacidade de avaliar informações de maneira crítica e objetiva, o que pode resultar em vieses cognitivos como o viés de ancoragem, sendo a tendência de basear julgamentos em uma referência inicial, ou o viés de disponibilidade, sendo a tendência de dar mais importância a informações mais facilmente acessíveis ou disponíveis em nossa memória.
Animações e outras técnicas de movimentos podem ajudar a manter a atenção do usuário e evitar a fadiga cognitiva.
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4. Viés da Cegueira à mudança
Ou “bias of change blindness”, em inglês, ocorre quando as pessoas têm dificuldade em detectar mudanças em uma cena, mesmo que essas mudanças sejam óbvias ou significativas.
Os usuários são mais propensos a notar mudanças em informações relevantes para seus objetivos imediatos.
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Ao aplicar esses vieses da atenção, tenha como base a atenção nas informações relevantes, evitando a sobrecarga de informações e fadiga de atenção. Isso pode levar a uma experiência do usuário mais satisfatória e eficiente.
Memória
A memória é a capacidade de armazenar e recuperar informações. Em produtos digitais, a memória é fundamental para garantir que os usuários possam encontrar informações importantes rapidamente e realizar tarefas com eficiência. Permita que os usuários armazenem informações importantes de maneira eficiente, use ícones facilmente reconhecíveis, imagens e rótulos claros.
Lembranças dos usuários são fundamentais para a interação com produtos digitais. Alguns dos vieses mais comuns são:
1. Efeito de primazia e recência
As pessoas tendem a lembrar melhor das informações apresentadas primeiro (efeito de primazia) e mais recentemente (efeito de recência). Isso pode ser aplicado no design de interfaces para apresentar as informações-chave no início e no final de uma sequência de informações.
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2. Efeito de ilusão da verdade
As pessoas tendem a considerar informações familiares como verdadeiras, independentemente da sua veracidade. Isso pode ser usado para criar familiaridade com informações importantes em uma interface.
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3. Efeito de confirmação
As pessoas tendem a lembrar melhor das informações que confirmam suas crenças preexistentes. Isso pode ser um problema em interfaces de informação, onde os usuários podem ter dificuldade em lembrar de informações que contradizem suas crenças.
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4. Efeito de reminiscência
As pessoas tendem a lembrar melhor de informações relevantes para sua própria vida ou experiência. Isso pode ser usado para personalizar a interface para o usuário e apresentar informações relevantes para sua experiência.
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5. Efeito de esquecimento
As pessoas tendem a esquecer informações que não usam com frequência. Isso pode ser um problema em interfaces de configuração, onde os usuários podem ter dificuldade em lembrar de como configurar recursos menos utilizados.
A apresentação de informações importantes no início e no final de uma sequência de informações, personalização da interface e uso de recordações visuais podem ajudar a melhorar a experiência do usuário.
Processamento de informações
O processamento de informações é o processo pelo qual os seres humanos interpretam e respondem a informações. Em produtos digitais, o processamento de informações é fundamental para garantir que os usuários entendam o propósito da interface e possam realizar tarefas com eficiência. Discutiremos como os designers podem aplicar princípios de processamento de informações para criar interfaces que sejam facilmente compreensíveis, como usar uma linguagem clara e simples e dar feedback claro sobre ações do usuário.
Como as pessoas processam informações pode ocorrer erros sistemáticos, que podem afetar na maneira como os usuários interagem com produtos digitais. Veja os vieses mais comuns:
1. Viés de confirmação
As pessoas tendem a buscar e lembrar informações que confirmam suas crenças preexistentes. Isso pode levar a uma tendência de ignorar informações que contradizem suas crenças e influenciar suas decisões.
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2. Viés de ancoragem
As pessoas tendem a depender excessivamente da primeira informação que recebem ao tomar decisões. Isso pode levar a uma tendência de superestimar ou subestimar o valor das informações subsequentes.
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3. Viés de disponibilidade
As pessoas tendem a considerar informações mais facilmente disponíveis em sua memória como mais importantes ou relevantes do que informações menos acessíveis. Isso pode levar a uma tendência de superestimar a frequência ou probabilidade de eventos com base na facilidade com que as informações relevantes podem ser recuperadas.
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4. Viés de atribuição
As pessoas tendem a atribuir explicações simplistas a eventos complexos, às vezes com base em estereótipos ou preconceitos. Isso pode levar a erros na avaliação de situações e na tomada de decisões.
5. Viés de escassez
As pessoas tendem a valorizar mais as coisas que são raras ou difíceis de obter. Isso pode levar a uma tendência de superestimar o valor de produtos ou serviços anunciados como “limitados” ou “exclusivos”.
Motivação
A motivação é a força que impulsiona as pessoas a agir. Em produtos digitais, a motivação é fundamental para garantir que os usuários estejam dispostos a usar a interface e realizar tarefas. Discutiremos como os designers podem aplicar princípios de motivação para criar interfaces que incentivem os usuários a realizar tarefas, como oferecer recompensas por comportamentos desejados e criar uma experiência de usuário envolvente.
Tomar decisões complexas pode ser uma tarefa difícil e usuários fazem isso o tempo todo e as motivações pessoais estão diretamente relacionadas e podem afetar na interação do usuário com uma interface. Para isso, veja alguns vieses que irão te ajudar na construção de interfaces que motivam:
1. Viés de autoconclusão
As pessoas tendem a buscar informações que confirmam sua autoimagem ou autoconceito. Isso pode levar a uma tendência de ignorar informações que contradizem sua autoimagem e influenciar suas decisões.
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2. Viés de confirmação de expectativa
As pessoas tendem a interpretar informações de uma forma que confirma suas expectativas. Isso pode levar a uma tendência de ignorar informações que contradizem suas expectativas e influenciar suas decisões.
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3. Viés de dissonância cognitiva
As pessoas tendem a resistir a informações que contradizem suas crenças ou comportamentos anteriores, a fim de evitar a dissonância cognitiva. Isso pode levar a uma tendência de ignorar informações que contradizem suas crenças ou comportamentos anteriores e influenciar suas decisões.
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4. Viés de status quo
As pessoas tendem a preferir o status quo, mesmo que outras opções possam ser mais vantajosas. Isso pode levar a uma tendência de resistir a mudanças e influenciar suas decisões.
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5. Viés de enquadramento
As pessoas tendem a reagir de forma diferente a informações idênticas, dependendo de como as informações são apresentadas ou enquadradas. Isso pode levar a uma tendência de influenciar suas decisões com base no enquadramento da informação.
A cognição humana é um aspecto fundamental a ser considerado ao projetar produtos digitais.
Neste artigo, discutimos como os princípios de percepção, atenção, memória, processamento de informações e motivação podem ser aplicados para criar interfaces mais intuitivas e eficazes. Compreender como os usuários percebem e processam as informações em produtos digitais é fundamental para criar uma experiência do usuário satisfatória e eficiente.
Além disso, ao aplicar esses princípios, os designers podem criar interfaces que sejam mais acessíveis e inclusivas para uma ampla variedade de usuários.
É importante que os designers continuem a se aprofundar em estudos de cognição humana e suas aplicações em tecnologia, para criar produtos digitais que possam ser usados com facilidade e eficácia por todos os usuários.
A compreensão da cognição humana é essencial para criar interfaces que ajudem as pessoas a navegar com facilidade no mundo digital em constante evolução.
Somos humanos, julgamos a todo momento. Você já deixou o seu julgamento sobre esse tema. Então me diz, qual é?
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Referências
- Livro: Design com Neurociências — Alex Soares
- Livro: Neuromarketing — Darren Bridger
- Livro: Leis da Psicologia Aplicadas a UX: Usando Psicologia Para Projetar Produtos e Serviços Melhores — Jon Yablonski
- Livro: Psicoterapia Comportamental e Cognitiva — Bernard Rangé
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