Como fiz uma transição de carreira em um ano para UX Design
Aproximadamente 651 horas e R$422.
👉Este artigo é o compilado destes dois (1,2) artigos em inglês.
Depois de publicá-los recebi mensagens de outras pessoas que estão passando pelo mesmo processo e achei que seria válido reescrevê-los em português. Quem sabe encoraje mais mudanças.
Me formei em Comunicação Social e trabalhei no setor audiovisual por 6 anos. No início de 2018 decidi que queria mudar de carreira e não sabia qual área seguir. Depois de algumas leituras e conversas resolvi tentar a área de UX/UI design (design da experiência do usuário).
Inspirada no mapa da jornada do usuário, fiz um levantamento dos pontos principais dessa trajetória e montei o meu mapa.
👇 Aqui compartilho detalhes sobre cada etapa.
Abaixo está um resumo dos cursos, projetos, tempo e dinheiro (aproximados) investidos:
📚Livros lidos
Abaixo estão os livros que li e que acredito estarem relacionados às habilidades do profissional de UX design.
Pode parecer estranho ter mencionado o livro de “Disciplina Positiva”, já que ele é especialmente voltado à educação dos filhos.
Mesmo não planejando ter filhos e não parecendo ter relação com a área de UX design, coloquei na lista por acreditar que os ensinamentos de empatia, escuta, comunicação eficaz, assertividade com gentileza e desenvolvimento de um relacionamento mutuamente respeitoso, na minha opinião têm muito a ver com a área de UX design, e com a vida.
👀 Momento da decisão de mudança de carreira
A mudança de carreira começou quando deixei o trabalho em uma produtora de vídeos para viajar para os EUA e Europa com meu parceiro, Cali (Renato Caliari). Foi nesse período que pude pausar e me distanciar do trabalho.
Os objetivos da viagem eram:
• Estudar inglês por imersão;
• Conhecer uma nova cultura;
• Experienciar diferentes desafios (como trocar trabalho por acomodação).
Nós viajamos por 4 meses e quase não tínhamos planos. Em resumo, nós ficamos em uma fazenda, albergue e casas de alguns amigos.
Voltamos para o Brasil quando vimos que o orçamento atingiu o limite e tivemos a sensação de termos atingido aqueles objetivos.
📫 Alguns registros desta etapa:
• Vídeo das atividades no Worldpackers (site para troca de trabalho por acomodação);
• Vídeo para a anfitriã da fazenda;
• Desafio de 30 dias desenhando feito durante a viagem;
• Imagens da experiência abaixo.
🧠A mentalidade de experimentação do design
Janeiro à março de 2018
Durante os quatro meses viajando repensei várias coisas, dentre elas minha carreira. Eu adorava editar vídeos e ao mesmo tempo não me imaginava fazendo isso por muitos anos. Eu queria aprender algo novo e não fazia ideia do que seria. Foi quando comecei a ler o livro "Designing your life".
"A vida tem tudo a ver com crescimento e mudança. Não é estática. Não se trata de algum destino. Não se trata de responder à pergunta de uma vez por todas e depois está tudo pronto." Burnett, Bill. Designing your life
Lendo ele percebi como era pensar mais como um designer, buscando enxergar as coisas como experimentos e aprendizados, não como uma abordagem de “tudo ou nada”, que estava acostumada.
Fiquei animada em ler mais sobre isso e foi quando o Cali, que trabalhava como Product Manager, me falou sobre a área UX Design.
Comecei a ler artigos sobre UX design e a pensar em formas de experimentar a área sem investir muito tempo ou dinheiro.
Confesso que eu duvidava que seria possível entrar nesse mercado sem fazer cursos caros/renomados e sem ter prévias experiências profissionais, mas decidi arriscar pensando que o pior cenário seria eu não conseguir um emprego e voltar a trabalhar com audiovisual. Nada mal.
Registro desta etapa:
• Mapa mental dos exercícios do livro Designing Your Life. (O link para visualizar este mapa foi retirado deste artigo em outubro de 2022 pois há um erro e infelizmente não consigo mais acessá-lo).
🧩 Primeiro curso de UX design
Abril à junho de 2018
O assunto de UX design começou a ficar bem confuso. Lendo artigos, percebi que essa área era maior do que eu imaginava, com diversos caminhos, metodologias e processos, então decidi fazer um curso online.
Escolhi a plataforma do Interaction Design (IDF). O preço estava acessível, com uma diferença enorme em relação aos outros cursos de UX Design. Na época pagamos com desconto e parecia ser um curso de alta qualidade que eu poderia fazer em casa.
Alguns registros desta etapa:
• Certificado do curso: Become a UX Design from scratch;
• Certificado do curso: UI Design patterns for successful products;
• Sketch para UX Designer — curso que fiz no Linkedin;
• Pensamento crítico — curso que fiz no Linkedin;
• Imagens abaixo de alguns exercícios dos cursos.
👣 Saindo da teoria e indo pra prática
Julho à setembro de 2018
Enquanto eu fazia o curso do IDF decidi praticar o que vinha aprendendo em projetos que tivessem mais pesquisas e experimentações, então fiz um teste de guerrilha do aplicativo do Enjoei. Este foi o artigo publicado sobre o projeto:
Alguns registros desta etapa:
• Teste de Guerrilha do App Enjoei
• Certificado do Design de Interação para Usabilidade
👣 Seguindo com as práticas
Outubro de 2018 à março de 2019
Comecei o Daily UI Challenge (desafios relacionados a interface do usuário) para melhorar minhas habilidades. Algumas ferramentas que usei foram o Figma, para protótipos e animações usei o Principle, Invision e Haiku.
Também iniciei alguns desafios de UX design.
Como eu vinha estudando sozinha, tive curiosidade em saber como seria trabalhar em uma startup, com times de design, produto e etc. Mas não me sentia pronta para entrar no mercado, então busquei outras formas de experimentar isso.
O Cali trabalhava em uma startup e, embora eu tivesse ido lá algumas vezes, nunca havia acompanhado o dia a dia dos profissionais, então perguntei sobre a possibilidade de passar alguns dias para acompanhá-los. Eles aceitaram e o líder do time de UX Design me convidou para participar das reuniões de Design Critique — o qual foi um grande privilégio.
Em paralelo, eu vinha lendo livros sobre a alimentação que sigo (dieta integral baseada em plantas ou Whole Food Plant Based).
Fiquei tão animada com esse assunto que comecei outro projeto chamado Rica em Fibras, onde comecei a escrever receitas e contar minha experiência com essa dieta.
Nessa época estava lendo sobre Design System e pensei que uma forma de praticar seria fazendo um projeto para o Rica em Fibra.
Eu fiz um curso online gratuito para aprender a fazê-lo usando Figma e este foi o resultado:
Nesse período participei de 3 Meetups relacionados as habilidades de um UX designer.
Alguns registros desta etapa:
• UX Challenge: Designing a landing page page for a coffee subscription service;
•Imagem de um dos Meetups abaixo.
♥️ Contratada como UX Designer
Abril à junho de 2019
Um ano passou e eu queria validar se conseguiria passar em uma entrevista de UX/UI design junior, então me candidatei para uma vaga que vi no Linkedin.
Era minha primeira tentativa e confesso que me senti insegura. Eles viram meus artigos e perfil do Linkedin e retornaram dizendo que tinham interesse no meu perfil, enviaram um estudo de caso e tive 7 dias para fazê-lo.
Postei sobre esse teste/estudo de caso aqui:
Depois de alguns dias recebi a resposta de que eles haviam gostado e queriam que eu o apresentasse através de uma vídeo chamada.
Lembro que me senti um tensa no início mas a apresentação foi tranquila no geral. Passado alguns dias recebi a resposta de que eles haviam escolhido outra pessoa para aquele papel.
Eu estava contente em ter tentado e com a oportunidade de apresentar pela primeira vez um estudo de caso para um profissional da área de UX.
Nesse mesmo período, profissionais de outras empresas começaram a entrar em contato através do Linkedin, e eu fui conversar com eles.
Percebi que as conversas não eram tão intimidadoras quanto imaginei que seriam. Os profissionais de UX Design que conversei foram bastante receptivos e pareciam interessados na minha jornada de mudança de carreira.
Uma das empresas que entrou em contato comigo foi o Enjoei.
O líder de design deles viu por acaso meu artigo sobre eles e entrou em contato comigo através do Linkedin.
Ele comentou que no momento não tinham uma oportunidades aberta para UX designer, mas que adorariam tentar a contratação e ter alguém focado nisso. Depois de algumas conversas com ele, RH e a fundadora do Enjoei, chegamos em um acordo de três meses iniciais. E assim, entrei no mercado!
☑️ Trabalhando como UX Designer
O Enjoei é um dos maiores marketplaces de moda online do Brasil. A equipe de design deles era focada em UI Design e os profissionais têm anos de experiência nessa área. A empresa é referência no design visual.
Eu sabia que teria muito a aprender com eles e que também poderia contribuir com o que vinha estudando.
Sendo a única pessoa focada em UX Research/Design, dependia de mim levantar dados, analisá-los e depois trabalhar em conjunto para pensarmos em soluções. Foi incrível estar dentro da empresa que fiz meu primeiro estudo de caso de UX. 🍀
Com o apoio de algumas equipes lá dentro, propus o teste A/B baseado no estudo que havia feito sobre eles. Eles toparam e o teste rodou para 20% dos usuários de desktop. Ou seja, dentro dos 20% dos usuários de desktop, alguns viram o botão de coração e outros o yeah-yeah. O que mais tivesse clicks, indicaria possivelmente que mais usuários entenderam a função do botão e passaram a usá-lo mais. O resultado se mostrou positivo ao botão que havia sugerido (botão do coração).
Até a data atual (outubro de 2019) a implementação deste botão está sendo avaliada.
Ao escolher uma empresa para trabalhar, busquei identificar nas entrevistas como seria o meu papel de UX designer lá dentro e alinhar as expectativas. Isso foi importante visto que a área de UX design muitas vezes é interpretada de diferentes formas e isso poderia gerar frustração ou limitações inesperadas.
No Enjoei, tive a oportunidade de colocar em prática diversas coisas que vinha estudando e que tinha vontade de vivenciar:
- Trabalhar em colaboração e aprender com outras áreas da empresa;
- Liderar e aplicar pesquisas com os usuários: testes de usabilidade, testes de guerrilha, pesquisa qualitativa com Hotjar, pesquisa quantitativa por telefone e benchmark;
- Analisar e documentar os dados da pesquisa;
- Sugerir soluções baseadas em dados;
- Praticar o design da interface do usuário, criar wireframes e protótipos de alta fidelidade usando o Sketch e Invision;
- Conversar com líderes de diferentes áreas, aprender com eles e criar conexões entre as áreas.
Com um mês e meio fui convidada a seguir trabalhando lá após o término daquele contrato feito inicialmente. 🤩
🗂 Processos da auto-aprendizagem
Dentre as vantagens da auto-aprendizagem está a liberdade de aprender o que quero quando quero e como quero e isso também pode ser um desafio.
Eu precisei de uma estrutura, uma forma de receber feedbacks e de medir meu progresso. Para isso, defini e anotei as metas com base no objetivo a longo prazo.
- Objetivo a longo prazo: aprender UX e UI e ser capaz de aplicar o conhecimento em projetos reais;
- Objetivos a curto prazo: aqui dividi o objetivo de longo prazo em pequenas tarefas relacionadas aos cursos e as práticas.
Então procurei seguir os esses passos:
- Gerenciei meu tempo com uma rotina estruturada;
- Identifiquei as informações e priorizei elas;
- Organizei os conteúdos e projetos no Asana;
- Evitei procrastinação improdutiva (ter deletado as redes sociais em 2017 me ajudou bastante);
- Busquei ser proativa e determinada, verificando os objetivos, assumindo novos desafios, publicando os estudos e tendo conversas semanais sobre meus projetos com o Cali.
Organização
Eu já vinha usando o Asana (ferramenta para gerenciar tarefas) para as atividades pessoais, então decidi organizar os projetos ali também.
E existem diversas outras ferramentas para isso, tais como: Clickup, Trello, Notion, Basecamp, etc.
Tempo estimado estudando
Para ter uma visão de quantas horas investi nesses estudos, calculei utilizando os seguintes critérios:
- Tempo estimado para concluir os cursos online;
- Tempo estimado para leitura de cada livro (usei este site para saber o tempo médio que levei lendo cada livro);
- Tempo estimado em cada tarefa concluída no Asana (7 minutos cada);
- As horas diárias de estudos (usei o mínimo de 1 hora por dia);
- Tempo estimado para concluir cada projeto/práticas em UX e UI design;
- Horas em eventos relacionados ao UX (ex.: Meetups e Design Critiques);
Na contagem total das horas, desconsiderei os artigos que li sem ter colocado no Asana. Abaixo está um gráfico com a estimativa de artigos lidos relacionados a UX/UI Design.
Custos com educação
O custo total não foi alto em comparação com minha Universidade e outros cursos que pesquisei. E reconheço que não estar trabalhando profissionalmente naquele momento também pode ser visto como um investimento financeiro.
Os cursos do Linkedin foram gratuitos pois usei o teste de 30 dias. Alguns dos livros citados nós já tínhamos.
🔍 Autoavaliação de UX
Para visualizar as áreas de UX design que estava desenvolvendo mais competências, usei este site que tem o radar das 8 competências-chave do praticante de UX.
Cada competência têm tópicos menores relacionados a conhecimentos, habilidades e ações de um UX.
Para diminuir a chance de me dar notas muito altas (como no efeito de Dunning Kruger) ou muito baixas, criei uma planilha com cada tópico e me dei uma pontuação de 1 a 5 em cada um deles, depois fiz a média de cada uma. Dessa forma, pude refletir e justificar a pontuação geral.
Fiz minha autoavaliação pela primeira vez em março de 2019, e fui checando a planilha enquanto trabalhava para ver qual área eu poderia melhorar.
No final, me dei novamente uma nota.
Essas são minhas autoavaliações de UX design antes (março 2019) e depois de ter trabalhado no Enjoei (setembro 2019).
🖋Conclusão
Ter usado uma das abordagens do design na minha mudança de carreira colaborou para uma transição sem grandes investimentos de tempo ou dinheiro, em relação a outros métodos disponíveis. Minha graduação, por exemplo, levou 2.940 horas, divididas em 8 semestres e bastante dinheiro. Hoje acredito que essa é uma das alternativas para transição de carreira.
Tudo isso demandou disciplina, determinação e organização que valeram muito a pena. Reconheço também minha sorte e privilégios no processo: o apoio do Cali (Renato Caliari), as pessoas que conheci, as oportunidades que tive e o mercado de UX design (ou product designers) ser um dos que mais crescem de acordo com o Relatório de contratação de design de produto de 2019:
“70% dos gerentes de pessoas aumentaram o número de product designers no ano passado.”
Neste curto período de transição de carreira recusei outras oportunidades de emprego que também passei na entrevista.
Percebi que design é muito mais do que tornar as coisas bonitas e pensar em soluções — embora isso seja importante. A empatia, escuta ativa, curiosidade de entender o problema e uso da criatividade para explorar soluções também são fundamentais e meus grandes motivadores. Me sinto contente e grata.
🚀 Próximos passos
Estou animada em seguir aprendendo outras áreas por isso recusei a oportunidade de continuar trabalhando no Enjoei para validar algumas ideias. O propósito é experimentar e aprender rápido, exercitando o “músculo” da criação e validação de produtos.
Muito obrigada às pessoas que incentivaram e apoiaram esse processo, especialmente meu parceiro, pela paciência e apoio. ❤
Obrigada a você por ter lido!
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