Como foi sair de uma startup para uma consultoria de design?

Tecnologia, Empreendedorismo, Dor de cabeça, noites sem dormir e Diversão. Existe isso?

Após quase um mês de minha mudança do Rio de Janeiro para São Paulo, decidi contar minha breve história de como foi essa transição de uma pequena startup para uma grande consultoria, e o que tudo isso provocou e falar sob meu ponto de vista algumas diferenças que acho extremamente importante saber.

Mas, primeiro, deixa eu me apresentar. Meu nome é João, mas pode me chamar de Vitor. Tenho 22 anos, sendo 5 de carreira e hoje trabalho na Concrete Solutions, uma empresa do Grupo Accenture, e sou Product Designer e atuo como Consultor. Mas, antes disto eu trabalhei para uma Startup, chamada Tract Co, na qual participei de sua fundação e exercia a função também de Product Designer.

No meio, eu (magro e leve) segurando o logotipo da empresa. Ao lado, meus amigos do coração.

Como disse anteriormente, participei da fundação da empresa após o convite de um amigo para iniciar um projeto, e eu cheio de energia topei! Fiquei nesta empresa por 3 anos, e foram os 3 anos mais corridos e cansativos da minha vida, pois era o momento de conciliar trabalho, família e faculdade.

Embora muito novo, eu já não morava com meus pais, pagava minha própria faculdade e tinha responsabilidades extremamente importantes no trabalho, o que gerava um alto nível de estresse sob um pequeno jovem gafanhoto. Em vista disto, passei a buscar por novas oportunidades afim de encontrar um trabalho que me fizesse exercitar somente aquilo que eu amo fazer e que eu pudesse potencializar minha profissão, e foi aí que encontrei a Concrete.

Colocando os pingos nos "is"

A Tract Co é hoje uma Desenvolvedora de Negócios, mas começou como uma Agência de Marketing e depois foi se moldando com o tempo. Utilizei o termo "Startup" pelo fato de ter nascido com o objetivo de buscar inovação para os negócios regionais e utilizando tecnologia, e iniciou no modo bootstrap. (Sem falar na velocidade de trabalho x entrega)

Eu, fui somente convidado a iniciar a empresa pelo atual Diretor, e comecei fazendo tudo e mais um pouco e depois fui afunilando minhas funções com adição de novas pessoas ao time. Deixei a empresa após 3 anos por decisão própria.

A Concrete Solutions é uma empresa do grupo Accenture que presta consultoria para diversos clientes tier 1, e eu faço parte hoje do Capítulo de Design (São Paulo) e atuo em um dos maiores bancos da América Latina.

Startup x Consultoria

Quero deixar aqui minha visão de experiência em 3 anos em uma startup e 1 mês em uma consultoria, portanto com certeza minha opinião pode mudar no futuro, e se isso acontecer vou fazer questão de me posicionar sobre isso.

Startups são recheadas de tecnologia, ambiente empreendedor e estresse, mas muito isto se deu pela pressão de "dar certo". Na Tract Co nos sentíamos obrigados a fazer o negócio dar certo, mas não a Tract em si, e sim os clientes (Produtos Digitais). Pois, seriam esses clientes que fariam a empresa alavancar se tornando uma referência no mercado, enquanto seus produtos iriam para o mercado conquistar o mundo.

Porém, descobrimos que o buraco era mais embaixo. Vimos na pele que um bom Modelo de Negócios faz muita diferença, e aprendemos na raça como estruturar um negócio, desde seus parceiros até sua distribuição e venda, e talvez este seja o meu ápice de aprendizado na empresa. Buscamos muito, lemos muito, participamos de muitos eventos e mentorias, tudo para poder fazer os produtos funcionarem e darem certo. Foi dessa forma que comecei a trabalhar meu lado mais estratégico e criei meu lado empreendedor.

E neste meio tempo eu aprendia o que era UX e o que era UI, e foi assim que comecei a me tornar um Product Designer. Por ser uma empresa muito pequena, as pessoas ficavam sobrecarregadas de tarefas, e foi neste momento que desenvolvi a multidisciplinaridade (existe essa palavra?), pois foi um trabalho que exigiu muita busca de conhecimento, muita agilidade e eficiência e até mesmo liderança e gestão de tempo e pessoas, pois era a partir daquele momento que o produto funcionar dependia muito de mim.

Eu apresentando uma pesquisa de benchmark à equipe

A curva de crescimento foi muito alta, pois eu precisava aprender, porque minha participação era realmente muito importante para que as coisas seguissem nos trilhos. A empresa cresceu, mais pessoas foram chegando e então fui deixando de lado algumas funções e passando a focar mais naquilo que eu queria exercer, mas não deixei de aprender. Foi assim que comecei a aprimorar minhas hardskills.

Todo o trabalho em si é extremamente cansativo, e demanda muita dedicação, esforço e tempo. Isso tudo acaba gerando problemas como cansaço excessivo, preocupação e dores de cabeça.

Existia uma linha tênue entre dores e diversão, porque lá sempre tínhamos algo para nos distrair, como jogos, comidas, atividades e conversas descontraídas mesmo, que ajudavam bastante durante o trabalho, mas logo que passava tudo voltava. Eram tempos de altos e baixos insanos durante o dia. Aqui temos um sistema bastante criticado hoje, que é o jeito Google de fazer as coisas, que induz as pessoas a trabalharem mais e colocando métodos de fazer essas pessoas gastarem mais tempo no trabalho com jogos, mesas de ping-pong e por ai vai…

Famigerado meme sobre startups (extremamente engraçado, eu diria)

Mas eu gostaria de defender esse sistema, porque pra mim ele realmente fez muita diferença. Eu sei que as críticas envolvem empresas que fazem isto com más intenções, mas onde eu estava não foi, por isto as defendo. E sei que não foi porque eu participei na criação das ideias, e eu sei que tive boas intenções, e no final resultou bastante.

Tudo bem que os horários não eram os melhores, os direitos trabalhistas não faziam parte (mas por escolha pessoal de cada colaborador) e era bastante cansativos, eram… Mas dávamos nosso máximo porque realmente estávamos engajados com a causa.

Já na consultoria é um pouco diferente, ou muito diferente. Na Concrete eu tenho um pouco mais de liberdade para trabalhar minhas skills no cliente e a curva de aprendizado é um pouco menor, mas não significa que não há aprendizado. O que quero dizer é que no comparativo, antes eu tinha que aprender e aplicar, hoje eu tenho que aplicar o que aprendi e aperfeiçoar.

Então, em um processo de consultoria eu me vejo aperfeiçoando meu métodos, lapidando e trabalhando com muito mais calma e com responsabilidades até maiores do que antes por conta de estar dentro de um dos maiores bancos da América Latina. É de se espantar em vista da minha idade e experiência, porém é gratificante saber que cheguei aqui.

O trabalho colaborativo é um pouco diferente, mas possui algumas similaridades interessantes. Tanto em uma startup, quanto em uma consultoria existem equipes multidisciplinares, com Devs, P.O, e aquilo que já estamos acostumados. Mas a consultoria traz algum em particular que é a colaboração qualificada, que foi algo que me impressionou. A Concrete possui colaboradores de todo o Brasil, com bagagens completamente diferentes e todos profissionais de extrema qualidade, o que acaba resultando em feedbacks com mais qualidade (aqui que entra a experiência de cada um) e opiniões mais embasadas e coesas.

E a razão disso tudo?

Eu fiz isso tudo porque eu queria validar tudo aquilo que havia aprendido e feito. Apesar de ter me formado na faculdade, tudo que havia aprendido sobre produto digital dependeu somente da minha atitude. Li muitos livros, ví muitos vídeos, revirei o Medium que tanto amo de ponta cabeça a fim de busca de conhecimento e isso me trouxe resultados magníficos.

Dessa forma eu aprendi e conquistei o emprego que tenho hoje, e foi fruto de muita dedicação e esforço para chegar até aqui. Eu queria chegar aqui e dizer "Pronto, tudo que eu fiz estava correto. Eu aprendi e apliquei, e no fim impactei."

Hoje eu tenho esse sentimento, mas agora tenho um novo objetivo: Me lapidar. Eu acredito muito no meu potencial, sei minhas formas de aprender e sei que sou capaz, e agora eu quero mostrar aos meus novos companheiros de equipe que sou tão bom quanto eles e que mereço a confiança deles.

Ser tão jovem e ter tanta história pra contar é bom e ruim ao mesmo tempo, e embora eu não tenha tido férias em 5 anos ininterruptos de trabalho, eu continuo com energia para trabalhar e aprender. O segredo é amar o que faz e ser eternamente curioso.

Eu felizão ao ter sido bem recebido na Concrete

Dicas do meu coração

Aqui eu reuní pra você algumas dicas de ouro, e não quero que pense que pelo fato de eu ser tão novo, que eu não tenha ensinamentos. Leia essas palavras com carinho, porque eu gostaria de ler isto antes de entrar neste mercado.

1. Tecnologia é o presente e o futuro

Estamos na era digital, somos jovens, fazemos tudo com um celular e internet. Nosso mercado está pegando fogo. O mundo digital muda todos os dias, sempre tem uma coisa nova, um app novo, um site novo, uma ferramenta nova, e eu acredito que isto será fator determinante para o nosso futuro. A tecnologia nos traz muito trabalho a fazer, e por isso eu acredito que é ela que ditará o futuro. E se estudamos, e trabalhamos com isto, nós é que vamos ditar a tecnologia. Portanto, nós vamos ditar o futuro.

2. Timing

Você precisa entender qual o momento que você está vivendo. Uma startup é repleta de aprendizado, e isso me construiu como profissional, e eu só decidi sair porque eu queria viver um novo momento na minha vida. Então é importante saber esperar o tempo certo e entender quando você deve avançar de degrau, e isso leva tempo e nem sempre você está certo. (Eu já falhei outras vezes em tentar adiantar demais, e descobri que não é assim que funciona.)

Entenda seu momento, aprenda tudo que pode aprender e só saia de um lugar quando achar que não consegue mais aprender ou não se sente mais desafiado. Aí sim, aí você vai estar pronto para uma nova etapa na sua vida.

3. Aprender de verdade

Essa vai pra vida. Aprende tudo que achar válido para seu crescimento pessoal e profissional, depois você lapida esse conhecimento. Faça como um verdadeiro processo de Double Diamond: Discover para abrir o leque, Define para entender seu foco, Develop para trabalhar o que você escolheu e Deliver para entregar o melhor que você pode. Para mim, este processo pode muito bem ser aplicado em sua profissão e aplicada na vida real.

Estude muito, leia muito, ouça podcasts, veja vídeos, faca cursos… Aprenda do seu jeito, mas sempre busquem conhecimento.

ET Bilu cantando a pedra

4. A concorrência é grande

São Paulo né filhão, tem gente pra cacete aqui, e muita gente boa. Por que eles iriam querer você?

Essa pergunta você tem que responder com firmeza, sabendo que pode confiar em você e no que você sabe fazer. A concorrência aqui é difícil, e o mercado está em alta, mas você precisa ser bom, e precisa ser melhor que muita gente para estar aqui. São Paulo é o centro da nossa profissão no país, então eu diria que é a Selva. Vem, mas vem tranquilo.

5. Não é fácil

Tem uma frase que eu sempre digo, que é:

"Se fosse fácil, todo mundo fazia."

E essa é a real. Não é nada fácil chegar aqui por milhares de fatores, então você precisa ser bom e precisa saber passar valor no seu trabalho. Tenha um bom portfólio, saiba aplicar bem as ferramentas de trabalho e exerça bem a função que escolheu, porque aqui o nível de exigência é mais alto.

É cansativo, é difícil e muito disputado. Você precisa ser forte e não desistir de tentar. E não, você não vai conseguir de primeira (a não ser que você seja um unicórnio). Mas uma hora você vai conseguir!

O que eu levo pra vida

Em geral é: Estude muito, trabalhe bastante, tenta descansar (isso é importante, mas eu não consegui), saiba ouvir críticas e aprenda realmente. Trabalhe diretamente com resultados, e tente sempre melhorar o que você está disposto a entregar.

Entenda seu momento de vida, aproveite 100% da sua jornada na sua empresa e seja a melhor versão de você mesmo.

Não desista e só mude se for para algo melhor.

Ficou meio longo né? Desculpa, não desenvolvi ainda minha capacidade de síntese, mas estou trabalhando nisto. Agradeço de coração por ter lido até aqui!

Espero que tenha gostado e me siga para mais artigos como este. Vou voltar a escrever semanalmente e se quiser um contato mais próximo, você pode me encontrar no LinkedIn ou no Instagram.