A capa do artigo mostra uma arte de um botão verde dizendo “Dark mode” centralizado com um cursor sobre ele.

Dark mode: gosto pessoal, hype ou questão de saúde?

Permitir a configuração de uma plataforma ou app pode ser mais benéfico do que se imagina

UX Collective 🇧🇷
5 min readSep 21, 2021

A abertura para trabalhar com acessibilidade na maior plataforma de educação online do Brasil me trouxe a oportunidade de estudar a fundo sobre uma questão que há tempos vem dividindo opiniões nesse mundo do design: usar ou não usar o famoso “modo escuro” (ou dark mode, pros amantes da língua inglesa)?

Para contextualizar: o modo escuro seria uma versão de uma interface com fundo escuro e elementos em tons claros. Sempre gostei do tom invertido e acreditava ser interessante oferecer aos usuários essa forma de personalizar a experiência, mas sempre encontrei resistências por ser um tema que justamente dividia opiniões. Mas será que o dark mode seria só uma questão de estética ou, como ouvi algumas pessoas falando, “hype”?

Em paralelo, começamos a observar alunos solicitando o famoso modo escuro na plataforma de estudo, mas por motivos diferentes: deficiências visuais. Foi nesse momento que houve um estalo.

Pesquisas feitas anteriormente entre o “modo claro” e o “modo escuro”

Grandes incidências de luz requerem um esforço maior dos olhos, prejudicando nossa capacidade de ler, tornando os olhos, assim, mais sensíveis e provocando cansaço. A luz também pode ser bastante estimulante, o que não é recomendado para o uso à noite. Por isso, muitos dispositivos possuem também o “modo noturno” onde, diferente do modo escuro, o fundo permanece branco, mas as cores são ajustadas de forma a diminuir a incidência de luz azul, para ajudar a descansar a vista. Ao envelhecer, as pupilas tendem a diminuir de tamanho naturalmente, tornando qualquer um suscetível a esse tipo de dificuldade em algum momento.

Um artigo do Nielsen Norman Group traz a questão sob a ótica de algumas pesquisas, dentre elas: uma feita em um instituto alemão que, com uma amostra de usuários jovens e jovens adultos, deduziu que entre os dois modos de cores, o modo claro apresentou um maior desempenho, mas essa pesquisa contemplava apenas pessoas livres de problemas de saúde relacionados à visão. Enquanto, em paralelo, outra pesquisa para uma revista inglesa aponta que a exposição à longo prazo à luz está associada à miopia, podendo dar início a ela ou acentuar quem já é míope.

E quando se trata de deficiências visuais, distúrbios da visão e outras questões?

Voltando e usando como ponto de partida os alunos que nos relataram desconforto — alguns declararam possuir glaucoma, ceratocone ou astigmatismo — levantamos algumas características destas três condições visuais. Embora as 3 possuam as suas diferenças, um ponto em comum é a grande sensibilidade com relação à luz. Quando se tem cerca de 19% da população, de acordo com o IBGE, com alguma deficiência visual, não podemos encarar esses relatos como fatos isolados.

A plataforma branca estava diretamente relacionada ao mal-estar causado pelo excesso de luz aos olhos. Eles relataram um grande desconforto visual, às vezes causando mal-estar no corpo inteiro. Um dos usuários relatou já ter desmaiado após passar horas estudando pelo computador, se preparando para uma prova.

Em paralelo, temos o caso dos daltônicos, que é uma esfera bem mais ampla: cada tipo de daltonismo possui uma relação diferente com as cores, por vezes confundindo tons parecidos, por outras, não conseguindo enxergar elementos, o que torna a questão do contraste visual muito importante. O modo escuro, dependendo do nível e do tipo do daltonismo, é uma opção procurada por esses usuários.

"A plataforma é branca demais para quem tem astigmatismo como eu, dá um imenso desconforto, meus olhos estão queimando enquanto vejo as aulas.”

Sendo assim, o dark mode passou a ser visto por nós como uma forma de acessibilidade para muitos casos.

No meio da imagem há um iPhone ligado, ele está em cima de uma mesa branca, com a tela de chat aberta, mostrando uma série de conversas. O app está em dark mode. No lado esquerdo do iPhone está uma lente de câmera e no lado direito, um pedaço do teclado de um notebook
Foto: Unsplash

Em resumo

As vantagens do dark mode/modo escuro são muitas:

  • Quando combinados com outros modos de cor, permitem uma personalização da plataforma, sendo uma boa feature de produto
  • Uma pessoa pode optar por usar o modo claro durante o dia e o modo escuro à noite, para descansar os olhos
  • O fundo escuro emite menos luz e, portanto, gasta menos bateria, podendo assim, também, aumentar a vida útil do dispositivo
  • Alguns dispositivos oferecem o modo escuro automático, o que não é o ideal, pois perdemos o controle de como fica a experiência uma vez que não controlamos as cores
  • Diminui as chances de se desenvolver miopia ou evita o seu agravamento
  • Uma parcela de pessoas daltônicas se sente mais confortável de usar a plataforma escura
  • Pessoas com questões de saúde que envolvem a visão serão menos prejudicadas a curto, médio e longo prazo e se sentirão melhor ao interagir com a plataforma
  • O produto será mais acessível e estará consequentemente melhorando a experiência dos usuários como um todo.

Depois dessa imersão, tendo a acreditar que a resposta sobre o tema é simples, mas não única: não existe um único modelo que vai funcionar para 100% dos usuários, mas sim variações que podem ser propostas para a configuração de uma experiência que funcione melhor para cada contexto. O dark mode pode ser uma opção meramente estética — ou pode ser também uma solução básica de saúde e acessibilidade.

Referências

  • Raluca Budiu (2020). Dark Mode vs. Light Mode: Which Is Better? NN/g Nielsen Norman Group.
  • Cosima Piepenbrock, S. Mayr, A. Buchner (2013). Positive Display Polarity Is Particularly Advantageous for Small Character Sizes: Implications for Display Design. Human Factors.
  • Web Content Accessibility Guidelines (WCAG) 2.1

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Written by Jahde Vaccani

Design Lead, UX/UI, Web Accessibility, and Writer

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