Design de informação: informando dados para torná-los mais eficientes e atrativos

Fabricio Teixeira
UX Collective 🇧🇷
5 min readMar 6, 2013

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O texto abaixo foi enviado pelo Heller de Paula e faz parte da série de colaborações que o Blog de AI está recebendo. Envie o seu também.

Organizar e apresentar informações de forma atrativa e eficaz não é tarefa das mais simples. Fazer isso engloba o domínio de muitas disciplinas diferentes para poder aperfeiçoar a exposição dos dados, deixando-os mais atrativos e simples para as pessoas.

Em minha carreira como designer de informação exploro conhecimentos diferentes para projetar um espaço-informação que facilite a realização dos objetivos do interator, sejam eles encontrar uma receita de bolo ou mesmo alimentar um site corporativo por meio de uma área administrativa específica.

O filósofo Vilém Flusser apresentou o ato de informar como a imposição de formas claras e específicas à matéria amorfa, ou seja, in+formar a matéria bruta, ou os dados brutos, é conceder-lhes uma forma que seja representativa para nós: seres humanos.

A função do designer de informação é a de criar formas de fácil percepção e leitura aos dados brutos, com o intuito de conceder-lhes uma estrutura mais identificável para a mente humana.

Aliados a diversas disciplinas, desenvolvemos projetos para tornar os dados menos pesados cognitivamente e mais atrativos para o interator. Quer uns exemplos do dia-a-dia de um designer de informação?

  • Organizar dados por categoria
  • Facilitar a filtragem das informações
  • Diminuir a quantidade de elementos exibidos por bloco
  • Utilizar imagens aliadas a textos para tornar a apresentação mais leve

Parece familiar para você?

O mais interessante é que isso acontece em meio a uma sociedade que produz cada vez mais dados, ou seja, mais trabalho para o designer de informação.

Um bom exemplo dessa ação são os gráficos desenvolvidos a partir de dados estatísticos, que podemos compreender como a informalização de dados brutos em uma apresentação mais clara e fácil de ser absorvida.

Um exemplo prático:

Gráficos como informalização de dados brutos

A partir de dados de Alberto Cairo desenvolvi a tabela 1, vista a seguir, com dez cidades aleatórias da Espanha, demonstrando a quantidade de casos de gripe por 1.000 habitantes (dados do ano de 2012).

Tabela 1: Casos de Gripe

Item

Região

Número de Casos

01

A Corufia

48

02

Alava

05

03

Asturias

09

04

Avila

12

05

Baleares

41

06

Burgos

16

07

Cáceres

18

08

Castellón

24

09

Córdoba

28

10

Cuenca

30

Ordenada alfabeticamente, já podemos, depois de certa análise, até saber qual cidade entre as dez primeiras possui a maior quantidade de casos de gripe. Porém, para construir em nossa mente uma lista hierárquica dos casos, nós teríamos mais trabalho.

Mesmo que eu altere a ordenação para demonstrar a cidade com o menor número de casos seguindo até a com maior número, observada na tabela 2, ainda teríamos problemas para, por exemplo, encontrar uma cidade específica, mesmo que eu mantenha a ordem numérica dos itens associados à ordenação alfabética.

Tabela 2: Casos de Gripe — Hierarquia por número de casos

Item

Região

Número de Casos

02

Alava

05

03

Asturias

09

04

Avila

12

06

Burgos

16

07

Cáceres

18

08

Castellón

24

09

Córdoba

28

10

Cuenca

30

05

Baleares

41

01

A Corufia

48

Se com dez itens ainda não fica clara a dificuldade dessa interpretação, imagine, então, que fossem cinquenta cidades. A quantidade de dados seria muito maior, dificultando bastante a leitura desses dados e a extração de algum significado.

Aliando isso ao atual momento da nossa sociedade, que vive uma sensação de urgência e sobrecarga informacional, podemos supor que dificilmente alguém leria e montaria relatórios por si mesmo a partir desses dados brutos, a menos que fosse sua função profissional.

Observe, a seguir, esses dados apresentados em forma de gráfico (informalizado como gráfico), na figura 1, e perceba como fica mais fácil e interessante ler, relacionar os dados e fazer suposições a partir deles.

Inseri também uma linha representando a média de casos para essas dez cidades, ampliando as possibilidades de interpretações por parte do interator.

Figura 1: Dados em forma de gráfico

Utilizando recursos digitais eu poderia ainda, por exemplo, apresentar esse gráfico de forma interativa e, desse modo, ampliar ainda mais o conhecimento do interator.

Imagine que, quando o cursor do mouse estiver sobre uma barra, o sistema mostre mais detalhes sobre a cidade, como visto na figura 2.

É importante pensarmos que em um primeiro momento essa informação não seria exibida, isso deixaria o gráfico com menos peso informacional à primeira vista, motivando o leitor a ler a informação do gráfico e, posteriormente, ele poderia se aprofundar interagindo com as barras.

Figura 2: Dados em forma de gráfico interativo

O ato de informar (conceder uma forma específica a algo) realmente é a base do trabalho do designer de informação, que projeta as melhores formas para os dados brutos de acordo com seu público e com a plataforma onde esses dados serão exibidos.

Esse foi apenas um exemplo prático. Quem trabalha com Design de Informação e UX Design é constantemente desafiado a criar soluções como essa que aliviem o peso cognitivo da leitura de dados — seja em uma interface de leitura de e-mails ou nas complicadas telas de extrato de um internet banking.

Realmente não é uma tarefa simples, mas não posso imaginar tarefa mais interessante, prazerosa e necessária nesse mundo cada vez mais caótico e com mais dados para serem lidos e interpretados.

Referência Bibliográfica: FLUSSER, Vilém; CARDOSO, Rafael e ABI-SÂMARA, Raquel. Mundo Codificado: Por uma Filosofia do Design e da Comunicação. São Paulo: Cosac & Naify, 2007.

Escrito por Heller de Paula.
Designer de informação apaixonado por organização, processo cognitivo, educação, conhecimento e transmitir informação para as pessoas da forma mais simples e divertida possível.

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