Design thinking para leigos
Breve explicação para quem não consegue entender bem explicações cheias de palavras técnicas.
No meio da tecnologia, costumamos ouvir quase que diariamente diversos termos bem específicos da área como: Design Thinking, Design Sprint, Atomic Design e segue a lista…
Parece que por padrão, só por estar envolvido nesse mundo, já sabemos o que é tudo isso. O que não é verdade, é claro.
A ideia para escrever essa postagem surgiu após uma talk que eu apresentei na empresa na qual eu trabalhava. O tema era Design Thinking (um assunto que é até bem disseminado no mundo), mas durante a apresentação pude observar que apesar de praticamente todo mundo já ter ouvido falar sobre a abordagem, a maioria não sabia o que era conceitualmente.
Não foi uma surpresa ver isso acontecer, mas ver a forma que aconteceu foi. Muitas pessoas comentaram após a apresentação que já tinham ouvido falar ou até estudado o que era, porém a forma como era apresentado a informação não deixava claro as "entrelinhas da abordagem".
Eu entendi a dor que essas pessoas tiveram, porque também já tive.
Quando não temos um domínio de um assunto e nem diretrizes de onde começar, buscar conhecimento parece ser um desafio.
Mas voltando ao assunto principal: o que é Design Thinking?
Definição
Tim Brown, um dos idealizadores da abordagem, diz (em tradução livre):
“Design thinking é uma abordagem centrada no ser humano para a inovação, que se baseia no modo de pensar do designer para integrar as necessidades das pessoas, as possibilidades da tecnologia e os requisitos para o sucesso do negócio.”
Outra definição que eu gosto muito e explica bem o que é o Design Thinking é do Interaction Design Foundation (em tradução livre):
"Design Thinking é um processo iterativo no qual buscamos entender o usuário, propor suposições e redefinir problemas na tentativa de identificar estratégias e soluções alternativas que, podem ou não, ser instantaneamente aparentes com o nosso nível inicial de entendimento. Ao mesmo tempo, o Design Thinking fornece uma abordagem baseada em solução para resolver problemas. É uma maneira de pensar e trabalhar, além de uma coleção de métodos práticos."
Leia mais sobre essa definição.
Apesar de diferentes, as duas definições traçam diversos pontos em comum e deixam bem claro do que se trata: uma abordagem que busca solucionar problemas das pessoas (usuários /clientes) de maneira empática através de validações e iterações rápidas.
Alguns pontos importantes a serem ressaltados:
- Não é uma metodologia, e sim uma abordagem;
- Não tem uma receita de bolo perfeita para qualquer situação;
- Você pode encontrar diversas definições mostrando N fases diferentes com 5, 6 ou 10 passos. Porém, o importante é que você consiga absorver o que é proposto e aplicar aquilo que faz sentido no contexto que você está trabalhando.
Os pilares do Design Thinking
A abordagem tem três pilares importantes e são eles que nos ajudam a entender e trabalhar com alguns pontos críticos em mente durante todo o processo.
- Empatia
Capacidade de compreender o sentimento ou reação de outra pessoa, imaginando-se nas mesmas circunstâncias. - Colaboração
Pensar conjuntamente, cocriar em equipes multidisciplinares para que o pensamento e capacidade de entendimento se multiplique exponencialmente. - Experimentação
Sair do campo das ideias, da fala. É construir e testar hipóteses levantadas anteriormente com usuários, a fim de validar ideias e receber feedbacks. Desta forma, podemos iterar a solução o quanto antes e assim corrigir os problemas encontrados e também incorporar oportunidades.
As fases
Como dito anteriormente, você vai encontrar artigos com 5, 6 ou 10 passos/etapas/fases, mas o que deve ser absorvido de tudo isso, são os pilares e a(s) definições da abordagem.
Eu, particularmente, gosto muito do modelo de cinco fases proposto pelo D.School (Universidade de Design de Stanford):
- Empatia;
- Definição;
- Ideação;
- Prototipação;
- Validação.
Empatia
Empatia é a base do design centrado no ser humano. É o momento de entender pessoas, de acordo com o desafio a ser solucionado.
Construa sua empatia por seus usuários buscando entender porque eles fazem as coisas que fazem da maneira que fazem, seus aspectos físicos, psicológicos, emocionais, vontades, desejos, frustrações, sobre o que pensam sobre o mundo e o que é importante para eles.
"E por que eu deveria ser empático?"
Dificilmente o problema/desafio que você está tentando resolver também é seu, eles são de outras em particular.
Observar e estudar quem são os usuários finais fornecerá contexto para você e seu time sobre diversos aspectos que ajudarão definir as principais necessidades a serem atendidas.
Ferramentas que podem auxiliar nessa etapa*:
- Desk Research;
- Shadowing;
- Entrevistas qualitativas e quantitativas.
*Não explicarei o que é cada ferramenta nesse momento, pois há muito material que explica a fundo o conceito e parte prática. Busquem conhecimento.
Definição
O “modo de definição” é quando você descompacta suas descobertas de empatia em necessidades, insights e escopo em um desafio significativo. Baseado no entendimento de seus usuários e seu ambiente, crie o actionable problem statement.
Mais do que simplesmente definir o problema, seu ponto de vista é uma visão de design única que é moldada a partir de usuários específicos e é o ponto de partida.
O problema que será atacado deve:
- Ter foco e estrutura no problema;
- Inspirar o time;
- Dar referências para avaliar as ideias geradas;
- Retratar as pessoas que foram entrevistadas/observadas.
Ferramentas que podem auxiliar nessa etapa:
- Persona;
- Mapa de empatia;
- Journey map;
- Analogias.
Ideação
A Ideação é o momento de gerar e explorar ideias. O objetivo é explorar um amplo espaço de solução — tanto na quantidade, quanto na variedade.
Neste momento do Design Thinking, é comumente usado o método conhecido como Brainstorming. Seu objetivo é testar e explorar a capacidade criativa de indivíduos e/ou grupos — colocando-o a serviço de objetivos pré-determinados.
Em um e-book publicado pelo InVision sobre Design Thinking, o Tim Sheiner do time de UX da Salesforce, expõe um pensamento provocativo interessante sobre o que é brainstorming:
“Eu não acredito que o valor do Brainstorming é gerar ideias; acredito que é o compartilhamento de valor/análise do contexto criado. A experiência do Brainstorming cria um grupo de pessoas com perspectivas compartilhadas, e um entendimento de como cada um se comunica, de quem é capaz de fornecer uma crítica útil e poderosa.”
Essa fala sustenta o discurso de: o Brainstorming não é um momento que gera ideias espontâneas. Pelo contrário, o real esforço no Brainstorming decorre da capacidade do processo para:
- Coletar rapidamente ideias para ajudar a construir uma visão global do conceito do todo. Essas ideias não são necessariamente novas (ou boas).
As pessoas envolvidas na sessão já podem ter as considerado anteriormente como problemas a serem resolvidos e, nesse momento, essas ideias podem vir a se tornar possíveis caminhos em busca da solução ideal. - Reunir uma equipe em um local onde todos podem compartilhar suas perspectivas do problema e também ficarem por dentro de potenciais soluções discutidas.
Outras ferramentas que podem auxiliar nessa etapa:
- HWM (How we might);
- Yes, no, but;
- 6 chapéus de Bono.
Prototipação
Nessa fase, são construídos protótipos para ajudar a pensar realisticamente sobre a maneira como as pessoas irão interagir como o conceito do projeto, além de auxiliar na iteração de soluções de forma rápida.
Mas o que é isso?
O termo vem do grego Prótos (= primeiro) e typos (tipo), o que, numa tradução quase literal, significa primeiro tipo ou primeiro modelo.
A prototipação no Design Thinking, nada mais é tirar nossas ideias do mundo do imaginário para o mundo físico. Seja fazer um desenho na folha, esculpir uma madeira/plástico ou qualquer outra coisa.
O ponto principal é ser a representação primária de uma ideia.
Também no e-book do InVision, o Product Designer da Uber, Molly Nix, diz uma frase que representa muito bem o que citei acima:
“Um bom protótipo é um protótipo que ajuda a responder as questões que você têm.”
Para prototipar você tem muitas opções. Você precisa escolher uma que encaixe no seu contexto e seja rústico, barato, sujo, fácil de modificar e mais fácil ainda de iniciar novamente.
Ferramentas que podem auxiliar nessa etapa:
- Wireframes;
- Storyboard;
- Teatro.
Validação
Se a fase anterior tende ser confortável para a maioria das pessoas que utilizam a abordagem, testar é onde o jogo tende a se tornar desafiador.
Testar o protótipo com usuários reais, observar suas reações e obter feedbacks nos permite refinar o protótipo conceito, aprender com os usuários e fazer com que a próxima iteração do serviço/produto seja objetiva e direcionada ao problema a ser resolvido.
A D.school de Stanford, tem uma frase famosa sobre esse momento de testes:
“Prototipe achando sempre que se está certo, mas teste achando sempre que está errado.”
É importante testar os protótipos o mais cedo possível durante o processo de design para que seja possível realizar correções e verificar hipóteses de uma forma mais ágil.
Isso porque as chances de falha aumentam, se você não verificar como o usuário está interagindo com seu produto/serviço. É basicamente trabalhar no escuro.
Quanto mais tempo é deixado o produto/serviço sem testes com o usuário final, as chances de falhas aumentam.
Acredito que para quem não conhece muito essa abordagem, essa postagem é de grande valor, mas também acredito que o conhecimento deve ser compartilhado e repassado.
Listei algumas referências relacionadas ao assunto para que vocês possam aprofundar o conhecimento de vocês.
Complementos da definição e etapas
- https://designthinking.ideo.com/
- https://www.interaction-design.org/literature/article/what-is-design-thinking-and-why-is-it-so-popular
- https://www.ibm.com/design/thinking/
- https://dschool.stanford.edu/resources/design-thinking-artifacts
Cursos presenciais
- https://www.mergo.com.br/workshop-design-thinking.html
- https://escoladesignthinking.echos.cc/cursos/presenciais/design-thinking-experience/
- https://ied.edu.br/sao_paulo/curso/extensao/design-thinking/
Leituras
- Design Thinking: Uma metodologia poderosa para decretar o fim das velhas ideias
- The Design Thinking Playbook: Mindful Digital Transformation of Teams, Products, Services, Businesses and Ecosystems
Extra
Recomendo procurar no Google os materiais (PDFs, toolkits etc) disponíveis pelo D.School. São ótimos para quem vai ser facilitador ou quer aplicar pela primeira vez.
É isso, pessoal! Obrigada :)