Design universal aplicado no mundo digital — faz sentido?

Helena Duppre
UX Collective 🇧🇷
5 min readJan 9, 2019

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Há pouco mais de seis meses tive a oportunidade de entregar o projeto que mais me orgulho até hoje: meu tcc. Com o foco em design de serviço e digital, propus uma solução na área da saúde da mulher.

Apesar de, normalmente, o processo de desenvolvimento e criação de um trabalho de conclusão ser uma grande dor de cabeça para alguns, eu encarei como uma oportunidade de aprender, refletir e colocar em prática tudo que me foi ensinado durante a graduação.

Logo, decidi compartilhar alguns aprendizados, reflexões e discussões com o mundo. Quem sabe assim, de repente, ajudo alguém em algum outro projeto.

Para iniciar esta série de artigos, escolhi o tema que mais tive dificuldade em achar materiais em português. Você já ouviu falar em Design Universal?

Lembro que ao entrar em contato com estes conceitos pela primeira vez, me questionei sobre a aplicabilidade em ambientes digitais.

O conceito de Design Universal foi utilizado pela primeira vez na década de 70, pelo arquiteto norte americano Ronald Mace, com o intuito de definir o conceito de criação de projetos que fossem acessíveis para todos. Incialmente, foi aplicado em projetos de arquitetura. Posteriormente, passou a ser usado, também, na criação de produtos, serviços e arquitetura de informação.

Para garantir que qualquer pessoa possa utilizar uma solução ou um produto da melhor forma possível, foram elaborados em 1997, pela Universidade do Estado da Carolina do Norte (North Carolina State University) — que hoje mantém o Center for Universal Design, principal centro de referência sobre o assunto — sete princípios que o designer/projetista deve levar em consideração durante o processo de criação.

Lembro que ao entrar em contato com estes conceitos pela primeira vez, me questionei sobre a aplicabilidade em ambientes digitais. Os princípios são bastante focados em objetos e espaços, então como aplicá-los no desenvolvimento de aplicativos e sites? Na lista a seguir, apresento as sete recomendações, suas traduções e aplicações para o digital.

1. USO EQUITATIVO

O design precisa ser útil e comercializável para pessoas com diferentes habilidades, sem estigmatizar e/ou segregar o usuário, além de garantir a utilização segura e facilitada para todos.

No mundo digital:

Criação de interfaces que podem ser utilizadas pelos mais diversos perfis de usuários, com as mais variadas habilidades.

2. FLEXIBILIDADE DE USO

O design deve suprir as mais diversas preferências e habilidades de uso, sendo adaptável de acordo com as características do usuário, facilitando a exatidão e precisão de sua utilização.

No mundo digital:

Aqui falamos sobre personalização do uso de acordo com as necessidades de cada usuário. Como, por exemplo, a possibilidade de aumentar o tamanho da tipografia ou ajustar o contraste das cores. Este, talvez, seja o princípio mais importante quando falamos sobre acessibilidade. Será que os produtos digitais que criamos são adaptáveis para pessoas idosas, por exemplo? Ou para pessoas com baixa visão?

3. USO INTUITIVO

A compreensão do produto/design não deve ser baseada no repertório possível do usuário, seja em aspectos de conhecimento, competência linguística ou até dos níveis de concentração que usuário dispõe. Logo, deve-se eliminar as complexidades de uso e corresponder às expectativas e intuições do usuário, a partir de estratégias como hierarquização de informações e feedbacks após a conclusão de tarefas.

No mundo digital:

O título é autoexplicativo e as recomendações acima se enquadram perfeitamente na criação de sistemas. Falamos de experiências simples, facilitadas e intuitivas.

4. INFORMAÇÃO PERCEPTÍVEL

Comunicar claramente e abundantemente as informações necessárias, utilizando diferentes modos de linguagem (pictografico, verbal e tátil), considerando as habilidades sensoriais dos usuários e as condições do ambiente, além de garantir acesso a essas informações por pessoas com limitações sensoriais.

No mundo digital:

Peguemos como exemplo projetos de sinalização. Usamos cores, pictogramas, ícones e outros recursos para garantir que a mensagem está clara para quem navega por aquele ambiente. No digital essa características está presente na junção de ícones + textos, como por exemplo, em menus mobile. Os pictogramas, por sua vez, são parecidos com o que vemos offline e, às vezes, remetem aos mesmos assuntos, como o uso da interrogação relacionado a algum tópico de ajuda ou o “i” de informação.

5. TOLERÂNCIA AO ERRO

Minimizar os riscos e consequências de ações acidentais ou não intecionadas. Avisos de perigo e erro, a criação de barreiras para atividades arriscadas e a organização dos elementos a partir de sua importância são alguns estratégias que podem ser utilizadas para garantir esse princípio.

No mundo digital:

Podemos relacionar aos avisos que os sistemas nos dão ao realizarmos alguma atividade arriscada como, por exemplo, deletar um arquivo permanentemente. Imagina só se não aparecesse aquela caixa de mensagem perguntando: “você tem certeza que deseja fazer isso?”… Aposto que muita gente já teria perdido arquivos importantíssimos!

6. BAIXO ESFORÇO FÍSICO

A utilização do design/produto deve ser confortável e eficiente, com o mínimo de esforço possível. Garantindo, assim, o uso anatômico e natural dos movimentos corporais para operação e evitando esforços repetitivos e desnecessários.

No mundo digital:

Aqui entram as microinterações e o uso de gestos para navegar por aplicativos ou páginas. Um bom exemplo é a forma que o Google encontrou para encurtar os passos de arquivamento de e-mail. A possibilidade de arrastar a mensagem para o lado e arquivá-la é eficiente e encurta o caminho para realizar esta ação.

7. TAMANHO E ESPAÇO PARA ACESSO E USO

O espaço fornecido para aproximação, uso, alcance e manipulação deve ser apropriado independentemente do tamanho do corpo do usuário, postura ou mobilidade. Deve fornecer uma visão clara dos elementos importantes e garantir o acesso a todos os elementos, além de proporcionar o espaço apropriado para a utilização de ferramentas de auxílio ou assistência pessoal (ex.: bengala, cadeira de rodas, etc).

No mundo digital:

Talvez este seja o mais difícil de relacionar com algo digital. Mas a frase “Deve fornecer uma visão clara dos elementos importantes”, nos remete a hierarquia e a um layout claro e organizado.

Por fim, o que mais gosto dos princípios do Design Universal é que eles foram pensados e criados para garantir o uso democrático e equitativo de espaços, objetos e, porque não, produtos digitais.

No final, estamos falando sobre acessibilidade e usabilidade de uma outra forma. É interessante notar com os tópicos apresentado se relacionam com as leis Nielsen e com as oito regras de ouro do design de interface, de Ben Shneiderman.

Quais serão as diferenças e semelhanças entre Design Universal, usabilidade e acessibilidade? No próximo texto falaremos sobre isso.

Até a próxima!

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Achei que era UX/UI designer, ai mudaram tudo pra product design. No fim, sou só mais alguém que acredita o design pode mudar o mundo. www.helenaduppre.com.br