Designers na era da IA

Repensando o papel de designers na era da inteligência artificial.

Jonas Silva
UX Collective 🇧🇷

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Imagem de uma colagem com variação de elementos como Smart Glasses, uma interface digital, um robô, um designer, um MacBook e um Smartphone.
Imagem criada no Midjourney.

À medida que a Inteligência Artificial (IA) permeia cada vez mais nossas vidas, surge uma necessidade urgente de repensarmos fundamentalmente a maneira como projetamos para novas experiências.

A edição deste ano do South by Southwest (SXSW) expôs as complexidades e desafios inerentes à crescente adoção da inteligência artificial, ressaltando, em minha perspectiva, o papel fundamental que designers possuem na construção de um futuro aonde, em vez de diminuir, a IA enriqueça a experiência humana.

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Armadilhas da inovação em IA

Apesar de toda euforia em torno da IA atualmente, muitos produtos e serviços baseados em IA falharam desastrosamente.

As razões por trás desses fracassos são multifacetadas, mas muitas vezes se originam de uma falha em adotar uma abordagem verdadeiramente centrada no ser humano.

Escolher o problema errado para resolver, negligenciar as necessidades e contextos dos usuários e subestimar os custos e complexidades de construir e operar sistemas de IA são alguns dos principais obstáculos. É aqui que designers podem desempenhar um papel transformador.

Ao adotar uma mentalidade de design centrada no ser humano, podemos identificar oportunidades de baixo risco e alto valor, aonde a IA pode agregar valor real às experiências das pessoas.

Em vez de perseguir soluções de alto risco e complexidade excessiva, designers devem focar em casos de uso moderados, onde o desempenho da IA é suficiente para melhorar significativamente as experiências sem subestimar a inteligência humana.

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Projetando experiências híbridas

Existem tarefas que os humanos podem realizar, tarefas que a IA pode automatizar, e uma nova categoria de tarefas que os humanos podem realizar apenas com a ajuda da IA:

A imagem mostra um diagrama de Venn com três seções circulares. A seção interior está rotulada como “Tarefas Humanas que a IA pode automatizar”, seguida pela “Tarefas que apenas humanos podem realizar” e na seção exterior rotulada de “Novas tarefas que humanos podem realizar apenas com ajuda da IA”.
(Imagem redesenhada do Stanford Digital Economy Lab + HAI)

A chave para o sucesso da IA reside na criação de experiências híbridas harmoniosas, onde a inteligência proativa da IA é perfeitamente equilibrada com a inteligência humana.

Designers estão singularmente se posicionando para facilitar esse processo, trazendo diversas perspectivas e idealizando maneiras de combinar as forças únicas da IA e da inteligência humana.

Projetar para a IA envolve uma série de considerações críticas. Em primeiro lugar, é essencial tornar os sistemas de IA confiáveis e transparentes, permitindo que os usuários entendam claramente como a IA está operando e tomando decisões.

Em segundo lugar, designers devem moldar cuidadosamente a personalidade e o tom dos agentes conversacionais de IA, garantindo que sejam agradáveis, éticos e alinhados com os valores e expectativas dos usuários.

Além disso, à medida que a IA se torna mais avançada, designers vão precisar criar experiências altamente contextuais e personalizadas em “co-pilotos” de IA, que aprendem e se adaptam às preferências e padrões individuais dos usuários. E, com o advento da computação espacial e das interfaces multimodais, designers terão a oportunidade de criar experiências imersivas e envolventes que transcendem as telas bidimensionais.

Video conceito de uma experiência de compra com o Apple Vision Pro.

O futuro da IA e do Design

À medida que navegamos por esse território inexplorado, é provável que observemos mudanças fundamentais na maneira como interagimos com a tecnologia e nos relacionamos com as marcas. A obsessão pelo cliente, tão prevalente nas últimas décadas, provavelmente diminuirá, à medida que as experiências se tornam cada vez mais personalizadas e adaptativas.

Também podemos ver uma mudança da pesquisa para a conversação na descoberta de informações, com assistentes de IA contextuais fornecendo respostas precisas e relevantes em tempo real. No entanto, essa conveniência pode vir com o custo da estagnação criativa, à medida que a IA começa a reforçar padrões existentes em vez de desafiar o status quo.

As marcas precisarão abraçar relacionamentos em constante mudança com os consumidores, compreendendo e se adaptando às novas mentalidades e expectativas moldadas pela ubiquidade da IA. Elas também devem permanecer vigilantes quanto ao equilíbrio entre os benefícios e os encargos da tecnologia, garantindo que a IA seja projetada de maneira ética, inclusiva e centrada no ser humano.

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O guardião da experiência humana

No centro dessa revolução, os designers surgem como os guardiões da experiência humana. Cabe a eles desafiar as suposições, questionar o status quo e garantir que a IA seja projetada de maneira ética, inclusiva e centrada no ser humano. Apenas por meio dessa lente humanista podemos colher os benefícios completos dessa tecnologia transformadora, enquanto mitigamos seus riscos e preservamos nossa humanidade essencial.

À medida que avançamos nessa jornada, designers devem permanecer em vigilância, pensando criticamente e com empatia.

Devem se recusar a ceder diante da sedução da inovação descontrolada e, em vez disso, permanecer fiéis aos princípios fundamentais do design centrado no ser humano.

Só então poderemos criar um futuro aonde a IA não seja uma ameaça à experiência humana, mas sim um catalisador para experiências mais ricas, significativas e transcendentes.

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