Discovery vs. Experimentação
E porque não tenho mais a palavra "discovery" no meu vocabulário como líder de produto.
É normal. Chega um momento em que conceitos ganham múltiplas definições e em que se foca mais na receita de bolo do que no porquê de se estar fazendo o que se está fazendo.
Pra mim isso aconteceu com o conceito de discovery, de certa forma. Eu acho que existe um foco tão grande no processo que se esqueceu um pouco do propósito e do objetivo desse conjunto de métodos. Isso faz com que tenha gente amando e odiando discovery, divergindo enormemente sobre tempos e prazos — e até falando em pré e pós-discovery 😳.
O mercado esqueceu que discovery tem a ver com dar mais clareza para o que se pretende executar — e se realmente faz sentido executar o que está planejado. Aprender rapidamente e construir com mais segurança.
Eu prefiro simplificar. Se no meu time usar determinado termo vai dificultar o entendimento, porque existem vários conceitos e crenças na cabeça de cada um, prefiro sair dessa. Na Revelo, estamos procurando fugir do termo discovery e preferindo usar termos mais objetivos, como pesquisa (no caso de um processo mais exploratório ou generativo) e experimentação (no caso de um processo de aprendizado mais baseado no processo científico para validação de hipóteses pré-existentes.
Tem funcionado muito bem, obrigado. Inclusive pra definirmos o que é importante para que o time chegue nos aprendizados necessários. Por exemplo, não utilizamos protótipos para validações no início do projeto — preferimos usar métodos que tragam respostas mais objetivas e precisas.
Mas sobre o que estou falando mesmo?
É sempre bom refrescar a memória sobre o que quero dizer quando falo de experimentação: basicamente estou falando sobre a aplicação do método científico para validação de hipóteses. Este vídeo absolutamente incrível feito em uma aula do físico Richard Feynman explica (em inglês).
Por que o foco em experimentar?
Todo desenvolvimento de produto (ou feature ou serviço digital) é um processo cheio de riscos e incertezas. Como CPO, boa parte do meu trabalho é garantir que os times (não apenas de produto, mas os times que acabam derivando o trabalho a partir do direcionamento de produto, como tecnologia, design, growth, etc.) estão trabalhando nas coisas que tem o maior potencial possível de geração de valor para o negócio. E diante dessa responsabilidade, trabalhar baseando decisões em fé ou otimismo é algo completamente ilógico.
Experimentar significa atuar de maneira estruturada e objetiva — algo que para um processo de discovery é menos importante . Mas significa também reconhecer e incorporar as incertezas — que são inerentes às nossa ideias e projetos — ao nosso processo de trabalho. Significa trabalhar tentando ficar mais próximo da criação de valor real para o negócio. Significa eliminar riscos de uma implementação, algumas vezes sem uma linha de código.
Significa, principalmente, entender que um produto é um sistema dinâmico e complexo — e não um conjunto de features que times vão empilhando ao longo de cada trimestre com base em ideias aleatórias vindo de todos os lados e condensadas por PMs e designers.
Experimentar significa saber o que se quer aprender. E isso faz toda a diferença.
Se quiser saber mais sobre processos de experimentação — que venho aprimorando ao longo de quase uma década, me manda mensagem no pfloriano[at]gmail.com.
Referências
- What is Scientific Method — Wikipedia.
- Product Discovery — Silicon Valley Product Group.
- Experimentation in Product Development — Widerfunnel.com.
- Experimentação em apps — Medium, Tech.Revelo.
- Um conceito simples e poderoso de MVP — Medium, Paulo Floriano.
Pra saber mais, leia:
- A cultura da experimentação: Como os experimentos nos negócios podem melhorar sua capacidade de inovação—Cristina Yamagami
- Thinking in Bets: Making Smarter Decisions When You Don’t Have All the Facts — Annie Duke
- The Startup Owner’s Manual: The Step-By-Step Guide for Building a Great Company—Steve Blank, Bob Dorf
- Inspired: How to Create Tech Products Customers Love — Marty Cagan
- Designing with Data: Improving the User Experience with A/B Testing —
Rochelle King, Elizabeth F Churchill