Liderar é, acima de tudo, se preocupar genuinamente com pessoas
O valor está na combinação da influência da equipe com processos bem estruturados.

Nunca almejei um papel de liderança. Isso, talvez, porque não tive muitas referências de líderes com background de design ao longo da minha história. A maior parte dos gestores que tive eram de outras disciplinas, então, não parecia um desafio que fizesse sentido para meu futuro.
A verdade é que essa possibilidade nem passava pela minha cabeça.
Pela natureza de qualquer carreira, na qual é preciso dominar a parte técnica, entendia que meu foco deveria estar em ganhar profundidade em cada competência da ampla gama de conhecimentos do universo de design — algo que fiz sempre com muito prazer.
Hoje, me encontro cumprindo vários papéis: líder, gestor e, claro, designer.
Ao menos um deles, o de líder, foi por acidente. Percebi que, na minha experiência — como também na de várias outras pessoas — a posição se deu por eu ser uma referência técnica, e não por ter algumas habilidades essenciais, como:
- Saber delegar tarefas
- Ser um bom ouvinte
- Dar bons feedbacks
- Saber gerir conflitos
- Desenvolver pessoas
- Mobilizar pessoas em direção a um objetivo
- Projetar o futuro de uma área.
Por ainda não ter essas competências, tive que desenvolvê-las por conta própria. Dominar a parte técnica de uma disciplina não era o suficiente para liderar um time.
Mas qual é o papel de um líder? Será que estava fazendo a coisa certa? Em determinado momento, tive uma virada de chave na minha carreira ao entender haver uma diferença entre gestão e liderança.
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Metas e processos x Cultura e visão
“Você faz gestão de coisas e lidera pessoas”.
Essa frase do livro O Monge e o Executivo, do consultor de relações de trabalho norte-americano James C. Hunter, resume diretamente essa diferença. Como define o autor, liderança é a habilidade de influenciar pessoas para trabalharem visando atingir os objetivos identificados como sendo para o bem comum.
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Liderança não é poder, é respeito e influência
“Líder é alguém que leva as pessoas aonde elas não iriam sozinhas.”
— Henry Kissinger
O que já foi uma dinâmica “manda quem pode”, de ordem e execução, hoje, é muito mais uma relação para engajar e influenciar visão de futuro.
“Ser líder é assim: se você precisa provar que é, então, você não é.”
— Margaret Thatcher
Já a gestão é uma dinâmica muito mais relacionada a recursos, tarefas, processos, competências individuais e coletivas que visam a resultados. É um papel de administração de vários elementos de uma empresa que geram um produto, serviço ou proposta concreta.

Acredito que boa parte do valor que entregamos como um time, vem da sinergia entre áreas.
É combinarmos o conhecimento de pessoas e disciplinas para tomarmos decisões de forma mais rápida e assertiva, entregando mais benefícios para clientes através de uma boa experiência com a nossa marca, produtos e serviços. Para isso acontecer, liderança e gestão devem andar lado a lado. E, como líder de design, esse é um dos meus principais objetivos.
Hoje, vejo com frequência faculdades, pós-graduações e cursos adicionando ingredientes dos dois cestos — tanto as habilidades técnicas da disciplina quanto as "habilidades para liderar", que ajudam a construir um perfil além do designer, com ferramentas de comunicação e características que podem ajudar no desenvolvimento da posição de liderança. Dificilmente um profissional começa a carreira pensando no que é preciso para ser um líder.
Além do mais, muitos nem consideram a possibilidade de assumir esse papel logo no início de suas trajetórias. Mas quanto mais cedo perceber que este pode ser um caminho, melhor poderá se preparar.
Acredito muito que liderar é uma potente mistura entre domínio técnico, entendimento do contexto e autoconhecimento.
Nenhum caminho é linear, e o da liderança não é exceção. As experiências, os erros, os tropeços e os conhecimentos que ainda não temos são os elementos que formam líderes.
Liderar é mais disposição do que posição. E as premissas para esse desafio são: ter humildade para ouvir e aprender constantemente e se preocupar genuinamente com as pessoas ao seu redor. Você pode ser um líder sem ser um gestor, mas você não deveria ser um gestor sem ser um líder.
Como diz a Nati Batista, liderar é:
- Construir um ambiente seguro → Respeitar individualidades, no workholic, escuta ativa, cultura de feedbacks, diversidade…
- Compromisso com o desenvolvimento individual e coletivo → PDI, conversas difíceis, team building, mentoria, treinamento…
- Direcionar para impactar objetivos da empresa → Definições estratégicas, construção de time, planejamento, visão de futuro, alcançar objetivos e metas…
Liderar pessoas e um time é conseguir entregar valor no curto prazo, enquanto projeta ainda mais valor e navega em direção a um ponto futuro.
A regra mais importante que você precisa ter em mente:
Não existe liderança sem pessoas.
Referências
- O Monge e o Executivo, James C. Hunter
- A organização sem medo: Criando Segurança Psicológica no Local de Trabalho para Aprendizado, Inovação e Crescimento, Amy C. Edmondson
- Comunicação não violenta no trabalho, Marshall Rosenberg
