Matriz CSD: tudo o que você precisa saber

O framework que vem dominando o cenário há muito tempo e facilitando a vida de milhares de profissionais mundo afora.

Kakau Fonseca
UX Collective 🇧🇷

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Photo by Kelly Sikkema on Unsplash

Todo início de projeto é uma nova aventura. Seja uma mudança de escopo, de time ou de prioridades, é difícil definir o primeiro dia como um momento tranquilo e agradável. Afinal, algo mudou e mudanças são, por natureza, delicadas.

Isso acontece porque, ao começar um novo desafio, somos soterrados por um oceano de sentimentos, informações, dúvidas e palpites. Não temos um ponto de início bem definido e, de repente, somos obrigados a criá-lo do dia para a noite.

Metodologias para organizar dados e conteúdos existem aos montes no mercado, é verdade, mas hoje vou destacar um framework que vem dominando o cenário há muito tempo e facilitando a vida de milhares de profissionais mundo afora: a matriz CSD.

O que é uma matriz CSD?

A Matriz de Certezas, Suposições e Dúvidas — também conhecida carinhosamente como Matriz CSD — é um framework que busca conectar pontos, organizar informações e, principalmente, dar um norte para um barco à deriva.

Embora carregue o nome de matriz, a forma como você vai dispor os dados coletados fica a seu critério. Seu único compromisso ao montar uma CSD é pegar toda e qualquer informação disponível e dividi-la em três pilares básicos: Certezas, Suposições e Dúvidas.

A Matriz CSD é muito útil para dar o pontapé inicial em projetos, mas também é uma ferramenta importante para acelerar o processo de discovery. Afinal, durante o exercício, somos obrigados a enfrentar toda informação com um olhar mais crítico e, automaticamente, adicioná-la em caixinhas pré-definidas: é uma certeza? Uma suposição? Ou é uma dúvida?

O início de uma Matriz CSD.

Como funciona?

A matriz CSD pode parecer complicada no primeiro momento, mas não desanime. Para ficar mais claro, vamos definir melhor como cada base funciona e você vai ver como é simples.

Em Certezas, para ter um bom fluxo de informações, seu dever é adicionar tudo aquilo que você e seu time já sabem sobre o projeto, sobre os clientes ou sobre a tecnologia. Pode parecer óbvio, eu sei, mas muita gente subestima o poder que essa coluna tem, principalmente para guiar os próximos passos do discovery.

Portanto, dê atenção às certezas que você já tem, tomando o cuidado de justificar o porquê daquela informação fazer parte da área mais nobre da matriz.

Já em Suposições, seu trabalho é adicionar tudo aquilo que você e seu time acham que sabem. Toda suposição que surgir em uma análise, em um brainstorming ou até mesmo em uma conversa, deve figurar na segunda coluna.

Uma suposição não chega a ser uma certeza, mas tampouco é uma dúvida. É uma teoria que você e seu time, com base nas referências que já surgiram, levantaram despretensiosamente. Basicamente, é aquele palpite que vocês destacam sem a corroboração completa, mas que tem potencial.

E por último, mas não menos importante, vem a coluna mais populosa da Matriz CSD: as Dúvidas. Tudo aquilo que você não sabe, mas gostaria de saber, ganha notoriedade aqui.

Na terceira parte da matriz, devemos nos despir de qualquer vergonha e adicionar tudo que levanta alguma questão. Podem ser dúvidas que você carrega desde o primeiro minuto do novo projeto ou que surgem durante a elaboração das Certezas e Suposições. É a partir dessas indagações que seu discovery começa a tomar rumo e ganhar foco.

Portanto, se liberte e não economize nas questões.

Uma vez que você organiza os dados com uma das três etiquetas disponíveis (Certezas, Suposições e Dúvidas), seu início de projeto, que antes era incerto e até um pouco caótico, começa a ganhar raízes e direcionamentos.

A segunda onda da CSD

É comum no mercado as pessoas enxergarem a matriz CSD como um fim por si só, mas a verdade é que a CSD é apenas uma forma de organizar os pensamentos. O que realmente faz a diferença, a ponto de influenciar positivamente um processo de produto, é o como.

Por exemplo, se você supõe que os seus usuários não estão convertendo porque o botão de comprar é muito pequeno, o “como” poderia ser um simples teste A/B.

Agora, se você não tem nenhuma pista do porquê isso acontece, talvez uma entrevista qualitativa seja o caminho perfeito para entender o que falta.

Além disso, ao adicionar um ponto no pilar de “Certezas” você precisa provar como chegou nessa conclusão, certo? Em “Suposições” e “Dúvidas” essa máxima também é necessária. Afinal, de que adianta colocar uma informação em “Dúvidas” se você não explorá-la?

O desafio de uma matriz CSD não é criar um “entregável” de produto.

A questão aqui é criar um meio para chegar às soluções. Você está no projeto para resolver problemas, não apenas para destacá-los. Portanto, sempre que adicionar um dado às colunas “Suposições” e “Dúvidas”, reserve um espaço para discutir e descrever como você e o seu time vão descobrir se aquela informação é verdadeira ou falsa.

Reparou que você começou a criar um roadmap de discovery só de destacar “como” obter essas informações? É por isso que uma Matriz CSD pode ser tão importante no seu projeto, mas apenas se você souber como usá-la.

Matriz CSD equipada com Tags

Pro Tips 💡

Agora que você já entende o que é uma Matriz CSD, como ela funciona e como aproveitar melhor seu potencial, selecionei 3 dicas para ajudar a construir a matriz com o time. Acredite, são conselhos simples, mas que podem entregar muito valor a curto e médio prazo.

1. Pagar para ver

Mais do que descobrir se uma informação é verdadeira ou falsa, coloque a resposta no seu documento. Seja um link, um texto ou até mesmo a gravação de uma entrevista. As pessoas adoram saber de onde surgiu aquela conclusão e sempre há o que aprender. Portanto, não economize, traga o bolo e a receita também.

2. Todo mundo é importante

A Matriz CSD não deve ser um framework apenas da dobradinha Product Manager e Product Designer. Profissionais como Business Analysts, Engenheiros, Brand Managers, UX Writers e Researchers também devem fazer parte desse processo. Acredite, os backgrounds diferentes desses profissionais vão trazer muitas informações valiosas. Portanto, além de construir e usar a Matriz, espalhe a palavra aos quatro ventos também.

3. Google Sheets é o caminho

Muita gente prefere construir uma matriz CSD no Miro mas, particularmente, recomendo o Google Sheets. Primeiro, o Sheets é uma ferramenta gratuita, mas mais do que isso, é uma ferramenta democrática. Se a ideia é que a matriz permeie o time, deixe a dinâmica acontecer em um campo neutro. Ela pode não ficar tão colorida e linda, mas com certeza será menos intimidadora.

Conclusão

A matriz CSD não é o único framework do mundo de produto que promete organizar informações e propor caminhos para o discovery, mas é um dos melhores. Afinal, é uma metodologia simples, democrática e altamente aplicável.

Contudo, a Matriz CSD não é um caso de verão ao qual você se entrega e depois esquece, ela é um casamento duradouro. Os times de produtos mais eficientes são aqueles que mantêm a Matriz CSD viva e constante, mesmo quando o processo de discovery avança. Atualizar sua CSD a cada vez que uma informação é analisada é uma tarefa árdua, mas recompensadora.

A Matriz CSD do seu time pode e deve ser um documento vivo, que faz parte da rotina de todos.

Pense nela como uma caixa de pandora daquele projeto, que está sempre a postos para inspirar e ajudar. Dia e noite, incansavelmente — do jeito que um framework deve ser.

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Em tempo, aproveito para agradecer imensamente a Mariana Medina por revisar, consertar e cuidar desse texto. ☀

O UX Collective doa US$1 para cada artigo publicado na nossa plataforma. Esta história contribuiu para o Bay Area Black Designers: uma comunidade de desenvolvimento profissional para pessoas Pretas que são designers digitais em San Francisco. Por serem designers de um grupo pouco representado, membros do BABD sabem o que significa ser “o único” em seus times de design e em suas empresas. Ao se juntarem em comunidade, membros compartilham inspiração, conexão, mentoria, desenvolvimento profissional, recursos, feedback, suporte, e resiliência. Silêncio contra o racismo sistêmico enraizado na sociedade não é uma opção. Construa a comunidade de design na qual você acredita.

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