Nos preocupamos muito com tendências e pouco com as próximas gerações
Todo final de ano surge uma variedade de publicações falando sobre tendências de design para o ano seguinte.

Cada publicação traz uma série de projeções de como as pessoas vão se comportar, como a indústria vai tentar inovar e como isso se reflete nas novas tecnologias e na maneira como as experiências são disponibilizadas.
Eu acredito muito no exercício de fazer projeções futuras, é importante para identificarmos pontos de atenção e também oportunidades. Particularmente eu gosto muito de acompanhar o The State of UX apresentado pelo UX Collective porque eles têm uma visão macro dos principais pontos abordados pela comunidade ao longo do ano.
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Mas o que acontece quando olhamos para estas projeções, sem olhar a maneira como estamos acolhendo e apoiando as novas gerações de designers?
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Em 2019 e 2020 no Brasil, presenciamos um movimento intenso de migração de profissionais — de outras áreas correlatas ou não — para UX. Contando com uma série de bootcamps e cursos especializantes, esses novos profissionais estão em busca de uma primeira oportunidade no mercado de trabalho e compreendendo as suas novas atribuições.
Mas, como esse ecossistema, que é a comunidade de design, está conduzindo estes novos profissionais? E como isso influência a maneira como a nossa disciplina está se transformando e evoluindo?
Olhar apenas para como a nossa maneira de trabalho está se modificando confere um papel reativo a figura do designer, no que diz respeito a sua própria profissão. Precisamos conscientemente conseguir nos aprofundar em toda complexidade que se conecta diretamente com o modo que enxergamos o mundo.
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Futuro da disciplina
Estamos entrando cada vez mais em uma economia de experiência que vai muito além da digitalização de produtos e serviços. Estamos falando de uma economia relacionada a conceitos muito mais complexos como ecossistema de produtos, consumo compartilhado, personalização participativa, sustentabilidade e impacto sócio-cultural.
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Expectativas x Estratégia
O design é uma disciplina com características estratégicas, entretanto, existe um risco de assumir que todos temos esta característica desenvolvida. A figura do product designer que assume uma capacidade de flutuar entre diferentes etapas do processo de design representa bem essa generalização; já pararam para se perguntar o que deve fazer um Product Designer Jr?
A estratégia está associada à nossa capacidade de construir ferramentas, muito mais do que o uso delas. E estamos perigosamente traduzindo uma capacidade estratégica para canvas e outros frameworks.
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O risco das caixas pretas
Classificação e categorização, usabilidade, discovery e wireframes são informações e conhecimentos que estão sendo gradualmente condensados e chegam a novos designers de maneira superficial, tornando-se altamente subjetivo.
Interfaces construídas baseadas em componentes e não em lógicas, explorações feitas apenas para validar um ponto de vista e protótipos construídos para atender demandas de curto de prazo são algumas das consequências.
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Uma queda de braço
O design tem se tornado cada vez mais uma disciplina abrangente, onde a integração com outras áreas e a capacidade de proporcionar um ambiente onde as pessoas possam pensar juntas em soluções é muito mais importante do que acreditar na responsabilidade de um individuo em trazer as melhores soluções.
A capacidade de entregar experiências que entregam valor no longo prazo e acompanham as transformações sócio-econômicas da nossa sociedade depende da nossa habilidade de construir experiências consistentes apoiadas em sistemas lógicos, que levem em consideração todo o sistema, e não apenas uma parte dele.
Neste ponto, existe uma responsabilidade da comunidade em apoiar novos designers para que eles possam compor um conjunto de habilidades e capacidades, não apenas para garantir o ingresso no mercado de trabalho, mas para que eles possam trilhar um caminho capaz de gerar ainda mais valor do que a nossa geração e as anteriores.
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Estamos olhando para a maneira como os cursos, as vozes e conteúdos estão atuando na composição de uma geração futura, ou estamos individualmente ofertando nossas crenças?
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Convido para uma reflexão.
Precisamos pensar na disciplina, e não apenas nas ferramentas.