Open Everything e os desafios para UX
Open Banking, Open Finance, Open Education… O que realmente está acontecendo?

De forma simples e objetiva o conceito de Open Everything consiste num movimento global que defende a abertura de dados através de APIs padronizadas, que permite que dados trafeguem entre serviços diferentes, o que contribui para compor uma infinidade de novos negócios.
Permitir a colaboração e criação de novos modelos de negócios proporciona um maior controle dos dados por parte dos consumidores, que serão beneficiados em diversos serviços sejam eles do segmento financeiro, saúde, educação e por aí vai.

A startup mais valiosa dos EUA é estruturada nos conceitos de Open Everything e talvez você já tenha utilizado seus serviços sem nem ter se dado conta, a Stripe.
Valendo cerca de 600 milhões, a Stripe fornece suas soluções para empresas como Google, Uber, Twitter, Slack, Amazon, Best Buy, dentre outras. E o que torna essa empresa tão valiosa e disputada por clientes desse porte? A natureza das suas soluções baseadas em APIs juntamente com integração simplificada, abstração dos serviços, segurança e suporte contribuíram para que ela chegasse a esse patamar.
Este é um exemplo clássico do poder das plataformas. Considere um sistema operacional como o Windows: qualquer número de aplicativos pode ser executado em qualquer número de computadores, graças à existência de uma camada de abstração no meio.

Muitas empresas brasileiras já perceberam a força do movimento que já está entre nós. No último dia 23 de julho de 2021, o PicPay comprou o portal de finanças pessoais Guiabolso, que foi motivada pelo movimento do Open Banking. A solução em questão usa inteligência de dados para oferecer orientação financeira a cerca de 6 milhões de usuários brasileiros.
Bacen, PIX, Registro de Recebíveis
De olho nessa tendência mundo afora, o Banco Central deu os primeiros passos nessa direção com a implantação do PIX como sistema de pagamento eletrônico que entrou em vigor em 2020.
Uma outra iniciativa do Bacen foi a instituição das Registradoras como forma de regulamentar o mercado de recebíveis de cartão no Brasil que entrou em operação no último dia 07 de junho de 2021.
Pra não entrar no mérito de explicar profundamente o conceito de uma Registradora, vou trazer um trecho que encontrei num artigo que explica em forma de metáfora:
Para você entender melhor, vamos fazer uma analogia? A registradora funciona como uma espécie de cartório, só que de recebíveis. No cartório, o imóvel é registrado em uma matrícula com todas as informações referentes a ele (como a sua metragem, qual a parte construída e se ele faz parte de um condomínio).
Além disso, tudo o que ocorre naquele imóvel, como venda e garantia, é cadastrado nessa matrícula. Assim, o documento contém um histórico do que se passou com aquele imóvel.
Para o Bacen a amplitude do termo Open Finance engloba não somente a abertura dos bancos, mas sim de todo o sistema financeiro: seguros, previdência, investimento, dentre outros.
Estamos falando de uma transformação gradual nas relações entre instituições e clientes, que serão o ponto central desse sistema.
Enfim, os desafios para UX
Contei todas essas histórias pra chegar na parte mais que acredito que seja a mais relevante pra quem leu até aqui: User Experience.
Atualmente estou trabalhando na TAG Infraestrutura, uma das 4 registradoras autorizadas pelo Banco Central a operarem recebíveis e confesso que não tinha noção do desafio que estava por vir.
Farei minha as palavras do Diego Eis:
Além do glamour dos produtos B2C e B2B que tem interface com o usuário, existe um segmento dentro da área de produto que não tem tido a atenção que merece, que são os produtos sem interface com usuário. Mas o que seria esse produtos, são APIs? São plataformas? E como fazer discovery, gestão de stakeholder e quais métricas acompanhar?
Link para podcast: https://anchor.fm/product-gurus/episodes/78-Vanessa-Masson---Gesto-de-produtos-sem-interface-com-usurio-eurh8f
Diego, você poderia ter me avisado isso antes. 😢
Quando cheguei na TAG há cerca de 9 meses atrás, o cenário era exatamente este:
- Serviço regulatório instituído pelo Bacen;
- Discovery desafiador;
- Ausência de players como referência no mercado;
- Primeiro Designer da empresa;
- Produto 100% baseado em API;
- 2 Product Managers;
- Curva de aprendizado dos conceitos do produto altíssima;
- Produto de mercado muito restrito.
As dores descritas pelo Diego no parágrafo citado acima, foram das muitas que sinto até hoje no processo de design dentro da TAG.
A parte boa disso tudo é que assim como as tretas, o aprendizado é contínuo dado o cenário inóspito que cerceia uma Registradora.
Percepções e Aprendizados
Mercado B2B
Muitas das oportunidades de emprego para designers sabemos que é no segmento B2C e tudo bem. Mas o mercado B2B possui desafios singulares para os times de produto como um todo. A diversão é garantida.
Onboarding
No momento que cheguei na empresa, havia cerca de 40 pessoas (hoje são 176), tive que ver alguns vídeos gravados e participei de algumas calls com profissionais do time de tecnologia e negócios. Cada um dando seu melhor para explicar WTF Registradora. Nessas horas o Miro é o seu BFF, anota tudo que uma hora os post-its se conectam. Vai na fé.
PM e Designers
Estamos todos no mesmo barco e temos que aprender juntos. Sabe aquela divisão marota de atribuições que vez ou outra aparece no seu feed do Linkedin, então, esquece. Poucos são os PMs que dominam o assunto Registradora, até porque ele é novo no rolê e é humanamente impossível chegar dando um show de entendimento no tema. Ninguém larga a mão de ninguém!
Discovery
Com certeza esse seja um dos cenários mais críticos dentro desse contexto, uma vez que não existem soluções que se aproximem do produto que você está tentando construir. Aqui o entendimento do negócio é crucial para tentar abrir uma trilha nessa floresta densa e cheia de desafios . Senta e estuda o negócio.
Time de Design
Durante esse tempo tive que participar de uma série de entrevistas com designers e notei que a grande maioria tinha experiência com produtos B2C, o que não era um problema, mas produtos B2B possuem desafios singulares. Sofrer em grupo é mais legal.
Diante do exposto, desafios temos aos montes mas reitero que trabalhar com cenários inóspitos como o descrito é algo realmente único. Participar da construção de produtos para uma IMF (Infraestrutura de Mercado Financeiro) acontece poucas vezes na vida de um designer. Mergulhar de cabeça no mercado financeiro numa área pouco explorada como essa é uma experiência única. Nossa caixa de ferramentas é poderosa e sabemos que quando bem utilizadas resolvem qualquer problema.
