Qual o papel do UI Designer na construção de um produto?

Vai muito além de desenhar a interface do projeto, acredite

Diogo Kpelo
UX Collective 🇧🇷

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Minha motivação em escrever é compartilhar um pouco das minhas experiências. Não estou aqui para indicar o certo ou o errado, quero apenas contar um pouco do que eu vivo e que isso sirva , de alguma forma, de ajuda pra você.

O meu foco nesse artigo é falar sobre o papel do UI Designer, uma função inserida num mercado repleto de siglas e tentativas de definições que, muitas vezes, não são claras nem para os profissionais, nem para as empresas, principalmente no momento de recrutar ou oferecer um plano de carreira. Chega a virar discussão de bar e a maior dúvida na hora de atualizar o Linkedin. Como reflexo, existe um grande cabo de guerra onde cada um quer defender o próprio espaço e justificar a sua importância. Além disso, a falta de clareza tem impacto direto no que nós, como profissionais, traçamos para o nosso futuro — se você quiser saber mais sobre o tema “cargos e definições”, não deixe de ler o artigo do Khai Nguyen.

Recebo muitas mensagens para projetos de UI e existem diversas vagas no setor. Ao mesmo tempo vejo profissionais querendo migrar para outras áreas. Mas por quê? Para mim, trata-se de uma visão distorcida, tanto do mercado quanto dos profissionais, em relação ao papel do UI Designer.

1. O que é design?

Parece básico, mas vale relembrar: design é forma e função. Ele é pensado para solucionar problemas, e não para ser admirado como arte.

2. UI só existe com UX

Como profissionais da área não desenhamos interfaces sem ter o mindset do User Experience— a não ser que seu foco seja apenas um shot no Dribbble, aí pode tratar como arte.

Esse é o primeiro ponto de distorção do mercado, na minha opinião. É comum vermos projetos visualmente bonitos, mas sem função nenhuma ou mal resolvidos em relação à usabilidade. Com isso, o mercado começa a estereotipar o profissional e a enxergar sua atividade como algo pontual na reta final da construção de um produto. Inclusive dá margem para definições como “agora é só deixar bonito” ou até o “pintor de wireframe”. Por outro lado, muitos UI Designers acreditam que seu papel seja limitado a tratar um Artboard como um espaço em branco para arte: usa as cores que mais gosta, a fonte favorita e o estilo visual que estiver na moda.

Por isso, reitero: UX é um mindset que todo designer deve ter. Desde o momento em que você está projetando algo, precisa pensar como será a experiência das pessoas ao entrarem em contato com o resultado.

Mas isso nos leva diretamente para outra distorção do mercado, que é tratar UX como uma função. User Experience é uma área ramificada e composta por diversos tipos de designers. Rodrigo Lemes, por exemplo, fala um pouco sobre isso em um de seus vídeos:

O que vem depois do UI? — Por Rodrigo Lemes

Todos esses ruídos fazem parecer que a função do UI é apenas a de “colocar a cereja do bolo”. O impacto é que muitos UI e empresas tratam a migração para a área de UX como uma evolução da carreira. “Agora você vai atuar em um papel mais importante, mais estratégico, pensando na experiência do usuário”, dizem. Mas ele já não deveria estar fazendo isso?

3. E o fluxo do trabalho, como funciona?

Este talvez seja o ponto mais em aberto da questão, já que cada empresa, time ou profissional tem sua forma e seu fluxo de trabalho. Por isso, vou contar aqui um pouco da minha recente experiência.

Desde 2015 eu trabalho em projetos que acontecem, em sua maioria, baseados no modelo de Design Sprint (leia mais sobre nesse artigo do Fabrício Teixeira). O processo é completamente imersivo ao produto, olhando para experiência, negócio e tecnologia. Isso vai claramente de encontro aos pontos anteriores, pois participar disso, entender os objetivos de negócio, as limitações técnicas e as necessidades dos usuários me fazia chegar muito mais preparado para a etapa de design da interface. Assim eu também fugia do “achismo” e tomava decisões baseadas nas necessidades e direcionamentos que tive durante todos esses dias.

Iniciei um novo projeto recentemente, mas entrei apenas na fase final, com o foco em desenhar as telas do app. Foi um choque: me senti completamente perdido e sem base para tomar algumas decisões. Para fazer dar certo, tive o apoio — e paciência — de todo o time. Me passaram o que foi levantado durante o processo e se esforçaram para me imergir em tudo que tinha rolado. O projeto ficou pronto e o resultado está sendo bem legal! Confesso que em alguns momentos senti falta de conhecer mais a fundo algumas questões, mas ter um time acessível resolve bem isso.

No geral, existem diversas formas de se trabalhar. O mais importante é que você, UI Designer, não se limite em apenas pensar na estética da interface. Precisa conhecer o negócio, as limitações e o seu usuário para criar um produto incrível. Se a rotina da empresa que você trabalha te limita, mude isso urgente — ou troque de empresa.

4. Mas e aí… como crescer nessa carreira?

Vejo de duas formas — e nenhuma delas é migrando pra UX.

A primeira é a evolução natural de qualquer profissional. Assim como para arquitetos, médicos e professores, existem níveis de UI Designers. As horas do seu trabalho vão valer de acordo com as habilidades e reconhecimento que você tem — um critério tanto para receber uma proposta de trabalho fixo dentro de uma empresa, quanto para projetos pontuais por conta própria.

Já a segunda é um pouco mais “triste”. Acredito que a evolução dentro de uma empresa (seja de alguém ou a sua) te deixa distante da mão na massa, algo sintomático em quase toda profissão. Quando um médico, por exemplo, vira diretor de um hospital, acaba ficando mais distante da mesa de cirurgia. Assim como um UI que vira Head de Design fica mais distante do Sketch e mais envolvido com gestão.

Com tudo isso em mente…

Lembre-se: o papel do UI não está limitado em pensar esteticamente uma interface. O resultado do seu trabalho vai impactar em cheio a experiência que o usuário terá ao usar o produto. O mesmo vale para os KPI’s, que vão depender diretamente do que foi desenhado. E ainda tem o time de desenvolvimento, afetado diretamente pela forma que a interface foi pensada e construída.

Design carrega mensagem e função. Por isso é preciso deixar o ego de lado e projetar pensando nos princípios de experiência, os valores da marca e os objetivos do produto. A UI é mais do que só um detalhe em todo o processo: é parte fundamental de toda a experiência.

Valeu demais por chegar até aqui e ter lido todo meu artigo. Não se esqueça de ver se está funcionando esse ícone de palma 👏. Dizem que vai até +50! 😍

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Diretor de Design na Unico. Reconstruindo parte do que acredito todos os dias para me tornar um profissional e uma pessoa melhor.