Três motivos para não usarmos o termo UX Designer
O termo UX Designer é amplamente utilizado no Brasil e em outros países. Apesar disso, conforme podemos verificar a seguir, ele tem alguma incoerência com os conceitos do próprio design.
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O termo UX Designer está em todos os lugares, de anúncios de vagas de grandes empresas a perfis no LinkedIn. Ele é usado por ótimos profissionais para descreverem suas áreas de atuação no Design e que sabem, na maior parte das vezes, que o termo não é completamente resolvido para remeter exatamente a uma habilidade desempenhada.
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Todavia, eles seguem utilizando UX Designer para descreverem o que eles fazem profissionalmente porque é um termo que já foi absorvido pelo mercado e está associado, de uma forma geral, a profissionais que lidam com a Experiência do Usuário.
O objetivo desse artigo é, portanto, passar por alguns conceitos do Design, debater sobre o termo UX Designer e finalmente, justificar em três etapas, os motivos pelos quais não deveríamos utilizá-lo.
E o primeiro conceito que precisamos entender é o conceito da Experiência do Usuário (UX).
Experiência do Usuário está relacionada com a percepção do indivíduo enquanto usuário de um produto, sistema ou serviço e com o prazer e a satisfação evocados no contato com este artefato.
– (PREECE, ROGERS e SHARP, 2015)
A Experiência do Usuário tem se mostrado vital para todos os tipos de produtos e serviços e, se não for positiva, as pessoas provavelmente não os usarão mais (GARRETT, 2010). Observa-se, ainda, que ela não está restrita aos ambientes digitais, ela ocorre no mundo físico e até nas interfaces invisíveis. Ela se tornou mais debatida nos últimos anos em razão da abrangência dos elementos digitais aos quais temos contato, ficando muito associada apenas a este meio. Esta visão, todavia, tem mudado nos últimos anos, com o crescimento de debates sobre a Experiência do Usuário no ambiente de serviços, arquitetura, etc.
Desta forma, compreendemos que a Experiência do Usuário é uma instância que ocorre ao nível do usuário. Ela não é pertencente ao designer.
#Motivo 1 para não usarmos o termo UX Designer:
NÃO PROJETAMOS A EXPERIÊNCIA DO USUÁRIO. PROJETAMOS OS ELEMENTOS QUE EVOCAM A EXPERIÊNCIA DO USUÁRIO.
Não se cria a Experiência do Usuário propriamente, mas sim as condições para que ela seja evocada (PREECE, ROGERS e SHARP, 2011). São, em outras palavras, os elementos que compõem a Experiência do Usuário que são projetados para remeterem a uma melhor Experiência no Usuário.
Observe a figura abaixo. Nela, cada ponto representa um elemento que compõe a Experiência do Usuário.
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Como designers, temos acesso a alguns desses pontos. Neste universo nós temos, por exemplo, a Arquitetura da Informação (AI), o Design de Interfaces (UI) e o Design de Interação (IxD), dentre outras possibilidades.
Chamamos de UX Design o conjunto desses elementos projetáveis. São aqueles que estão ao alcance do designer. UX Design não é, portanto, responsabilidade direta de nenhum profissional específico, mas resultado de diversos conhecimentos combinados.
Ux Design é, acima de tudo, uma cultura que precisa ser disseminada em todos os elementos da experiência, nas pessoas responsáveis por desenvolvê-los e também nas estruturas de uma empresa.
#Motivo 2 para não usarmos o termo UX Designer:
UX DESIGN NÃO É UMA ETAPA DO PROJETO E PORTANTO NÃO ESTÁ PERSONIFICADA NA FIGURA DE UM PROFISSIONAL EM ESPECIAL.
Há, todavia, outros elementos que compõem a Experiência do Usuário, mas que estão fora, naquele instante, da atuação direta do designer. Dentre esses pontos estão, por exemplo, aspectos da vida pessoal do usuário e elementos que estão sob a responsabilidade de outras áreas de conhecimento, como as engenharias mecânica, eletrônica e a arquitetura, por exemplo.
#Motivo 3 para não usarmos o termo UX Designer:
NÃO TEMOS ACESSO A TODOS OS ELEMENTOS QUE COMPÕEM A EXPERIÊNCIA DO USUÁRIO.
Alguém poderia argumentar, neste instante, que o termo UX Designer se refere apenas àqueles elementos projetáveis, que compõem o UX Design. Todavia, é preciso relembrar que a Experiência do Usuário é mais ampla, composta por outros elementos. Ela também não estará restrita apenas àqueles momentos de interação com o elemento projetável. Ela ocorre na expectativa da interação e também pós-interação, quando a experiência é relembrada.
Isto significa que, mesmo naqueles elementos projetáveis, não temos acesso a todos os elementos que evocam uma determinada experiência no usuário.
E o que vem a seguir?
Em essência somos todos, simplesmente, Designers. Todavia, alguma vezes, a especificação dos termos pode contribuir para uma comunicação e entendimento entre profissionais e o mercado. Por este motivo, o termo UX Designer deverá seguir sua trajetória, descrevendo profissionais que trabalham, em alguma escala, com elementos que compõem a Experiência do Usuário.
Por outro lado, há um termo que parece cumprir melhor a função de ser um promotor da Experiência do Usuário de uma forma global, disseminando o conceito nas estruturas do negócio e de uma empresa, incentivando sua prática. Este termo é o UX Strategist ou Estrategista de UX.
Há sempre discussões a respeito da função, que varia de empresa para empresa, de profissional para profissional, como pode ser conferido neste link.
De um modo geral, será o Estrategista de UX que vai compreender a importância da Experiência do Usuário para um determinado negócio. Será a figura deste profissional que vai conectar aqueles pontos que estão fora do alcance direto do designer (como as engenharias e a arquitetura) com aqueles que já estão ao alcance do designer, promovendo uma ampliação da sua atuação, que já é de natureza multidisciplinar.
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A função do Estrategista de UX, será, acima de tudo, a de conectar os elementos que compõem a Experiência do Usuário ao negócio do cliente. De um lado, verificando insights de pesquisas com usuários, e, do outro, estimulando a cultura de colocá-los no centro de todas as decisões do negócio.
Assista também ao terceiro episódio do Laboratório UX:
Referências mencionadas:
PREECE, J.; ROGERS, Y.; SHARP, H. Interaction Design — Beyond Human- Computer Interaction. Chichester, West Sussex, UK: Wiley, 2015.
GARRETT, J. J. The Elements of User Experience: User-Centered Design for the Web and Beyond. Voices That Matter, 2010.