UX, deficiência e um mercado emergente
Uma breve análise, sobre o potencial de mercado e poder econômico de pessoas com deficiência.

A Organização Mundial da Saúde estima que, globalmente, mais de 1,3 bilhão de pessoas vivem com algum tipo de deficiência visual, auditiva ou motora. Representando pelo menos 17% da população global e formando o maior grupo minoritário em todo o mundo.
80% das deficiências são adquiridas ao longo da vida, portanto, com o envelhecimento da população global, as deficiências estão aumentando.
No Brasil existem aproximadamente 45 milhões de Pessoas com Deficiência (PCDs). Equivalente à população da Argentina ou Espanha.
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Seu produto ignora ou inclui?
São mais de 1 bilhão de pessoas como potenciais usuários. Alguns dados de poder de consumo:
- US $ 8 trilhões - A comunidade com deficiência representa a terceira maior potência do mundo. Dados do The Global Economics of Disability.
- No Estados Unidos o valor chega a meio trilhão de dólares e no Brasil, segundo o IBGE, 5,3 bilhões de dólares.
- No Reino Unido, as empresas perdem aproximadamente £ 2 bilhões por mês ignorando as necessidades das pessoas com deficiência.
Dados da 💜 Purple Pound. A libra roxa se refere ao poder de compra das famílias com deficiência.
Mercado Emergente
O mercado de pessoas com deficiência é maior do que a China e está emergindo como outros mercados surgiram no passado — 1,85 bilhão de pessoas e US$ 1,9 trilhão em renda disponível anual.
Hoje, pessoas com deficiência, constituem um mercado emergente do tamanho da China mais a União Europeia. Familiares e amigos somam outros 3,4 bilhões de consumidores em potencial. Juntos, eles controlam mais de US $ 13 trilhões em renda disponível.
Com esse mercado emergente, podemos observar algumas mudanças:
Uma mudança no perfil de consumidores, em que pessoas com deficiência ou não, estão direcionando cada vez mais sua lealdade, e seus gastos de consumo, para empresas que demonstram ações que encantam as pessoas com deficiência — como clientes.
Empresas estão apresentando novos recursos de acessibilidade e saindo na frente em busca desse mercado emergente:
- Spotify mudou a cor, a formatação do texto e o tamanho de seus famosos botões verdes para tornar a interface do usuário mais acessível.
- Microsoft Teams torna a leitura labial mais fácil, desfocando os fundos para remover distrações em chamadas de vídeo. Pode detectar o que foi dito em uma reunião ou evento ao vivo e apresentar legendas em tempo real. Ao agendar um evento Microsoft Teams ao vivo, existe a opção legendas no idioma em que você estará falando e até seis idiomas adicionais para se comunicar com um público ainda maior.
- Apple lançou novos recursos de acessibilidade, que incluem uma nova função de sons de fundo em apoio à neurodiversidade para minimizar as distrações de ruído externo e um novo serviço SignTime que oferece intérpretes de língua de sinais sob demanda para clientes da Apple Store e do Suporte Apple. Uma atualização do VoiceOver fornecerá aos usuários mais detalhes sobre pessoas, texto, dados de tabela e outros objetos em imagens. O VoiceOver também descreve a posição de uma pessoa ao lado de outros objetos nas imagens e, em seguida, com a marcação, os usuários podem adicionar descrições de imagem às suas próprias fotos.
- TikTok introduziu as legendas ocultas automatizadas, um recurso que adiciona legendas sem exigir que os próprios usuários digitem o texto.
- Procter & Gamble criou anúncios com descrição de áudio e a maioria da mídia da Netflix tem narração descritiva de áudio.
A inovação gerada pelo design inclusivo provou que ao ampliar o uso de produtos, abre-se novos mercados — por exemplo, a Microsoft descobriu que suas funções de legenda oculta, no último ano, teve um crescimento de 30 vezes o seu uso normal. Não beneficiando apenas as pessoas com deficiência na audição, mas também facilitando uma ampla gama de uso, como em ambientes barulhentos e para a compreensão de vários sotaques.
“Quando você constrói para acessibilidade, acaba construindo um produto muito mais atraente.”
— Manish Agrawalue, Gerente de programa sênior, Equipe de Acessibilidade na Microsoft Digital, cego

Investir em tecnologia assistiva com 4IR
A OMS estima que o mercado de tecnologia assistiva chegará a US$ 26 bilhões até 2024, devido ao crescimento populacional e ao aumento da longevidade, bem como ao avanço da tecnologia.
As tecnologias 4IR, como AI e blockchain, evoluíram para se tornar a espinha dorsal de muitos produtos e serviços. Analistas da área, especulam que a transformação digital durante a pandemia acelerou o progresso do que teria sido alcançado em cinco anos. Então, não seria incorreto afirmar que estamos vivenciando um momento em que as tecnologias assistivas e as tecnologias 4IR estão mudando drasticamente todos os aspectos de nossas vidas.
Temos exemplos significativos para os setores público e privado investirem em 4IR inclusivos, design acessível e soluções de tecnologia assistiva, levando os benefícios das tecnologias para todos.
- A IA pode ajudar a descrever ambientes para pessoas com deficiência visual. Microsoft anuncia também uma variedade de novos recursos e avanços “acessíveis por design” no Microsoft 365, permitindo que mais de 200 milhões de pessoas criem, editem e compartilhem documentos. Usando inteligência artificial (IA) e outras tecnologias avançadas, pretende tornar o conteúdo mais acessível e tão simples e automático quanto a verificação ortográfica é atualmente.
- De contraste de cores a recursos de leitor de tela, interfaces de usuário inclusivas são essenciais para serviços habilitados para dispositivos móveis. Gojek , um unicórnio indonésio que presta serviços a 38 milhões de usuários no sudeste da Ásia, no ano passado começou a projetar uma experiência de aplicativo mais acessível para usuários com deficiência, explorando funcionalidades como ajuste do leitor de tela, contraste de cor e muito mais.
- O mercado de tecnologia assistiva está em uma trajetória ascendente. A Toyota, por exemplo, viu esta oportunidade e fez o protótipo de um novo tipo de veículo com certas funções automatizadas (como estacionamento) e com espaço para acomodar cadeiras de rodas.
O Departamento do Trabalho dos EUA sobre Emprego e Tecnologia Acessível (PEAT) fornece orientação sobre como as tecnologias 4IR, como IA, veículos autônomos e dispositivos de realidade virtual / estendida devem incluir pessoas com deficiência, juntamente com um Manual projetado para quem procura lançar suas iniciativas de tecnologia de forma inclusiva.
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Inclusão
Pessoas com deficiência e suas realidades moldaram os avanços tecnológicos durante décadas. Desde a primeira máquina de escrever inventada para ajudar uma mulher cega a escrever, ao precursor do e-mail para um casal de surdos se comunicar, ao controle remoto para pessoas com mobilidade reduzida, pessoas com deficiência fomentaram inovação através dos princípios do design universal.
O essencial para esses esforços é envolver as pessoas com deficiência no processo e colocar suas necessidades em primeiro lugar.
No entanto, pessoas com deficiência enfrentam barreiras para acessar o mercado consumidor e o mundo digital. Embora 90% das empresas afirmem priorizar a diversidade, apenas 4% consideram a deficiência em suas iniciativas.
Uma análise recente de 1 milhão de sites principais do mundo descobriu que 97% tinham um problema de acessibilidade .
Nos dias atuais, se as empresas não considerarem o aspecto do moralmente correto, serão obrigadas a considerar o aspecto legal. Nos Estados Unidos por exemplo, podem ser encontradas mais de 3.500 ações judiciais sobre acessibilidade na web, aplicativos e vídeos apenas em 2020.
As empresas, e todo sua estrutura organizacional devem ter um novo olhar, deixar cair por terra preconceitos estabelecidos. Entender que triplicar a inclusão da deficiência nos negócios pode ser uma das maiores oportunidades de crescimento nesta nova década de ruptura. Incorporando estrategicamente a inclusão da deficiência em organizações e produtos, preparando empresas para o futuro, expandindo possibilidades de inúmeros produtos em todos os setores.

Acessibilidade
Acessibilidade é sobre usabilidade, sobre promover autonomia.
Acessibilidade no Design de experiência do usuário, é um exercício de empatia. É importante termos em mente, que quando criamos um produto precisamos nos colocar no lugar das pessoas que são o alvo daquilo que estamos desenvolvendo para criar uma experiência significativa.
UX Designers precisam incorporar a acessibilidade em seus produtos e serviços, desde o design até o desenvolvimento e o lançamento. Buscando um design mais inclusivo e universal que beneficie a todos.
Para ajudá-lo a projetar um produto que todos possam utilizar, lembre-se de que:
- Cada deficiência é um espectro. Por exemplo, as deficiências visuais variam de baixa visão a cegueira completa e incluem situações como daltonismo, visão embaçada, sensibilidade à luz e perda de visão periférica.
- Todos podem ter deficiências. Além das deficiências que a maioria das pessoas experimenta à medida que envelhecem, existem deficiências temporárias — como perda auditiva de curto prazo devido a uma infecção — e deficiências situacionais — como estar segurando uma criança e não poder pegar algo
“Para as pessoas sem deficiência a tecnologia torna as coisas mais fáceis.
Para as pessoas com deficiência, a tecnologia torna as coisas possíveis.”
— Mary Pat Radabaugh, ex-diretora do Centro Nacional de Apoio para Pessoas com Deficiência da IBM
Consumidor/ Investimento
É importante entendermos que a pessoa com deficiência, é um consumidor com direitos, desejos e dinheiro. E que investir em acessibilidade vai muito além do que apenas questões éticas.
Uma pesquisa da Nielsen, em 2016, detectou que as pessoas com deficiência são leais a uma determinada marca quando percebem que ela atende às suas necessidades. Quando a empresa opta por um produto ou serviço acessível, ela consegue atingir não apenas o publico com deficiência, mas toda a rede de amigos e familiares que compõe seu circulo social. O retorno do investimento é apenas uma questão de tempo.
- Investir em acessibilidade garante um vantagem estratégica sobre seus concorrentes.
- Melhora o seu produto, serviços e experiências
- Diversifica e expande sua clientela
- Fideliza o usuário que busca marcas que que possuem serviços e produtos acessíveis.
Bom, e se nada disso te convencer, contra fatos não há argumentos:
Pessoas com deficiência representam a terceira maior potência do mundo. Controlam US$ 8 trilhões em gastos. Para se ter uma ideia, alguns exemplos do tamanho da força de US$ 8 trilhões em gastos.
- Segundo o relatório State of Finance for Nature, é necessário um investimento de US$ 8,1 trilhões na natureza nas próximas três décadas para enfrentar com sucesso as crises de clima, biodiversidade e degradação da terra. Isso equivale a US$ 536 bilhões por ano até 2050.
- O Governo dos Estados Unidos anunciou, que irá investir US$ 1,8 trilhão (aproximadamente R$ 9,73 trilhões) na educação. O dinheiro para o projeto viria, em partes, do aumento dos impostos sob os mais ricos do país.
- US $ 8 trilhões é o custo previsto do COVID-19 nos próximos dez anos apenas nos EUA.
- Oito trilhões de dólares equivalem a 145 milhões de quilos de ouro.
- Oito trilhões de dólares equivalem a dois trilhões de McLanche Feliz . Dois trilhões de McLanche Feliz são 250 refeições por pessoa neste planeta.
Conclusão
Definir a inclusão da deficiência como um padrão global de negócios, é ter uma visão assertiva sobre os rumos que o mercado está tomando e não ficar de fora dessa fatia gigantesca.
Acessibilidade não é amparo, é uma estratégia de negócio.
Referências
- The Global Economics of Disability
- Purple Pound
- AI and Accessibility. World Institute on Disability, 2019
- Digital Inclusion of People with Disabilities: A Qualitative Study of Intra-disability Diversity in the Digital Realm. Panayiota Tsatsou, 2019
- A joint publication by Fundación ONCE and the ILO Global Business and Disability Network, developed within the framework of Disability Hub Europe, a project led by Fundación ONCE and co-funded by the European Social Fund
- The top 10 technology trends of the 4th Industrial Revolution. Forbes, 2020
