UX design no mundo dos jogos

Quem são, onde vivem, o que comem?

Thaissa Da Rocha
UX Collective 🇧🇷

--

Mão segurando um Toad (Cogumelo personagem do jogo Super Mario) com parede de folhas ao fundo.
Foto tirada por Geeky Shots on Unsplash

O UX Design nos últimos anos, tem mostrado e provado seu valor perante o mercado de desenvolvimento de produto, e como consequência, tem despertado a valorização do profissional e do papel que desempenha na equipe e na entrega no valor do produto.

Mas diferente da área de produto, quando tratamos de UX em desenvolvimento de jogos vemos uma realidade menos madura.

Em relato no talk “Mainstream UX and Games UX”, Alistair Greo (Consultor de User Research) revela que Games UX começou a ser difundido como um padrão reconhecível por volta de 2005.

Alistair Greo (Consultor de User Research) no talk “‘Mainstream’ UX and Games UX”.
Alistair Greo (Consultor de User Research) no talk “‘Mainstream’ UX and Games UX”

Como podemos notar, a aplicação consciente de UX em jogos ainda é substancialmente nova, e sendo uma área semi desconhecida não é cheia de regras e possui aberturas para descobrir e construir novos conceitos.

Mas então, como seria a aplicação do UX Design nos jogos e por que é tão importante?

Comecemos com o principal princípio.

Design Centrado no Usuário

Pessoa com óculos de realidade 3D virtual encaixado na cabeça e segurando com as mãos. Com computador sobre uma mesa ao fundo.
Foto tirada por JESHOOTS.COM on Unsplash

UX para games não é tão diferente de UX para produto como você pode estar pensando, em ambos o fator mais importante na hora de projetar a experiência é o usuário. Na área de jogos o usuário também pode ser chamado de jogador.

O UX é responsável por compreender de forma constante como os jogadores pensam, percebem, aprendem e reagem a provocações do jogo. Para alinhar essas percepções ao design e a forma com que o jogo se comunica.

Quando se participa do desenvolvimento de um jogo é muito comum se apaixonar por sua criação, por isso que essa compreensão é crucial para evitar disparidades entre o design do jogo e a experiência real do jogador no jogo.

Uma percepção mal colocada pode prejudicar tomadas de decisões importantes, pois algo pode ser engajador para alguém do time de desenvolvimento, e não ser para os jogadores que consumirão o jogo.

A compreensão do jogador é o maior objetivo, para como consequência criar um jogo com uma experiência engajadora, empolgante, divertida e prazerosa para o jogador.

Agora que entendemos a essência do UX Design para games, vamos dividir o desenvolvimento da experiência de um jogo em três funções principais:

1. UX Research | Imergir e conhecer

O que iremos fazer e quem irá jogar?

Três pessoas na mesa de reunião retangular conversando, uma delas com um computador e as outras duas outras com cadernos. Televisão grande ao fundo fixada na parede.
Foto tirada por Christina @ wocintechchat.com on Unsplash

O UX Research entra com peso na fase de criação, pois é o momento em que a equipe está ideando livremente cheia de emoção, com isso o UX Designer chega para conduzir, inspirar e focar as equipes criativas (Produtor, Game Designer, Designer de narrativa entre outros envolvidos).

E para saber qual é esse foco o UX Designer pode fazer uma pesquisa exploratória em forma de entrevistas com potenciais jogadores com o objetivo de:

  • Imergir para entender o fascínio e frustrações dos fãs do gênero (Entrevistas usuários)
  • Criar hipóteses, em parceria com o time, sobre quem seriam os potenciais jogadores para criação de formulário para validar através de entrevistas (Entrevistas usuários)
  • Compreender o que jogadores esperam da arte conceitual e do protótipo (Entrevistas usuários)
  • Análise de jogos concorrentes em busca de fraquezas e potenciais oportunidades (Benchmarking)
  • Entre outros questionamentos que forem importantes para o projeto.

Depois da pesquisa pode-se usar frameworks do design thinking para analisar e evoluir os dados como: mapas de empatia, card sorting, criação de personas, jornada do usuário, matriz CSD, jobs stories, entre outros.

Pessoa organizando post its sobre a mesa, como se estivesse fazendo um card sorting.
Foto tirada por UX Indonesia on Unsplash

Como pode ver o processo não é tão diferente que UX para o produto!

Ponto importante, ao obter e minerar os dados, é de extrema importância criar formas visuais de dividir essas informações com seu time, para que a ideia inicial vá evoluindo alinhada entre todos e sempre baseada em dados.

A pesquisa não fica somente na fase de ideação e rascunho não, ela pode e deve ser utilizada durante todo o processo quando necessária.

2. UX Design | Criar e desenvolver

Que caminho tomaremos no desenvolvimento?

Pessoa fazendo um sketch e criando fluxo de interfaces em uma folha branca.
Foto tirada por Kelly Sikkema on Unsplash

O UX Designer também se encarrega do design visual, e auxilia, o time criativo, com seu conhecimento de usabilidade e psicologia do jogador.

Esse conhecimento permite conectar a experiência do jogador e o design, a interface e as interações com as mecânicas do jogo, a fim de torná-las mais compreensíveis e alinhadas à percepção de vida do jogador.

Desenvolve wireframes, user flows e fluxos de propostas para o jogo.

Também utiliza técnicas e análises para auxiliar no polimento da experiência como a linguagem das cores, acessibilidade, design de ícones, design de interação entre outras.

Seu objetivo é tornar a interface e suas interações uma experiência que seja fácil de aprender, mas difícil de dominar.

3. Testes de Usabilidade | Experimentar e validar

Pessoa segurando controle de Xbox em frente a uma televisão com imagens de jogo.
Foto tirada por Sam Pak on Unsplash

Conforme a ideia vai tomando forma e os primeiros protótipos forem surgindo o time precisa de feedbacks para saber se está indo pelo caminho certo, nessa hora que entram os tão importantes testes de usabilidade com usuários.

Sim, testes de usabilidade devem ser feitos, com a facilitação do UX Designer, desde a fase inicial até a fase de lançamento. Essa ferramenta é importante para evoluir o jogo de maneira ágil, errar rápido para evitar retrabalhos e retrocessos no processo de desenvolvimento.

Esses testes tornam possível presenciar interações de usuários reais com o jogo, permitindo analisar usabilidade, capacidade de aprendizagem e experiência emocional.

E nesses testes perguntas e hipóteses serão criadas para serem validadas, como:

  • Como nosso jogador aprende novas habilidades? De forma prática ou mais didática?
  • Como os jogadores entendem a figura do inimigo?
  • O jogador compreende seus momentos de vitória?
  • Entre outros questionamentos que forem importantes para essa validação.

Com essas respostas, alinhamos cada vez mais o jogo aos jogadores, e, além disso, conseguimos identificar problemas iminentes e até mesmo oportunidades para novas funcionalidades.

Como pode ver, o UX Designer tem responsabilidades bem importantes no processo da criação de jogos, e todas elas são baseadas no Design centrado no usuário.

Esse conceito é o central para a experiência nos jogos, já parou para pensar o por quê?

Macaco sentado, em galho na floresta, parecendo pensativo.
Foto tirada por Juan Rumimpunu on Unsplash

Jogos são criados para o lazer e diversão dos jogadores, ninguém consome jogos por necessidade.

Com isso, se a experiência não for a melhor possível, a chance do jogador abandonar o jogo é muito alta.

Criança com livro na mão fazendo cara de surpresa.
Foto tirada por Ben White on Unsplash

E é exatamente por isso, que o UX designer é tão importante nessa equação, sem ele essas decisões não seriam tomadas com o jogador no centro do processo e nem baseadas em dados.

Essas decisões seriam tomadas por integrantes do time (Produtor, game designer, desenvolvedores), que não costumam ter a cultura do design centrado no usuário, imaginando como o jogador se sentiria ao interagir com algum recurso. Infelizmente a prática do time acreditar saber o que o jogador deseja sem nem mesmo perguntar a ele, é algo bem comum e pode levar a decisões falhas.

Inclusive estou aqui como UX Designer para isso, para mostrar que criamos jogos e produtos para usuários e jogadores, e não para nós mesmos.

Um resumo das principais habilidades e compromissos do UX Design que se encaixam nas três principais funções citadas:

  • Entusiasmo por trabalhar em equipe e por resolver problemas de forma criativa;
  • Manter o processo criativo objetivo e imparcial;
  • Descobrir e entender as personas do jogo e suas diferentes formas de perceber, pensar e aprender;
  • Descobrir meios de envolver jogadores de forma a obter um feedback específico e não enviesado;
  • Avaliar a experiência do jogador quanto as mecânicas do jogo, análise podendo ser de cada elemento de interação ou do todo utilizando heurísticas.
  • Ser o responsável pelo processo centrado no jogador desde o início do desenvolvimento do jogo
O UX Collective doa US$1 para cada artigo publicado na nossa plataforma. Esta história contribuiu para o Bay Area Black Designers: uma comunidade de desenvolvimento profissional para pessoas Pretas que são designers digitais em San Francisco. Por serem designers de um grupo pouco representado, membros do BABD sabem o que significa ser “o único” em seus times de design e em suas empresas. Ao se juntarem em comunidade, membros compartilham inspiração, conexão, mentoria, desenvolvimento profissional, recursos, feedback, suporte, e resiliência. Silêncio contra o racismo sistêmico enraizado na sociedade não é uma opção. Construa a comunidade de design na qual você acredita.

--

--