Voluntariado & hands-on: conectando a prática com a colaboração

Para enxergar além do óbvio e conseguir aplicar seus aprendizados em oportunidades diversas.

Marianna Piacesi
UX Collective 🇧🇷

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Emoji de duas mãos juntas com as palmas abertas viradas para cima e um coração representando a ideia do voluntariado e colocar a mão na massa.

Sabemos que o design tende a mudar a vida das pessoas, independente do seu contexto e aplicação. Seja pela sua essência em resolver problemas e trazer soluções (visuais, estratégicas, de experiência), seja pela necessidade intrínseca em trazer inovação e melhorias contínuas, e por aí vai. Fica difícil pensar em um cenário onde essas práticas não sejam aplicadas, mesmo que muitas vezes de forma inconsciente.

Por consequência disso, quando estamos estudando design fica muito claro a importância de todo esse processo e a ansiedade em colocar tudo isso em prática de alguma forma. Ao mesmo tempo, surge aquela vozinha da insegurança martelando na nossa cabeça que nos diz: "Mas como praticar se ainda não estou inserido(a) na área?"

Inclusive, recomendo esse conteúdo aqui que tem tudo a ver com o questionamento e o papo de hoje:

Existem diversas formas de aplicar o conhecimento que vamos adquirindo nesses estudos, mas muitas vezes eles passam despercebidos pela falta de orientação e divulgação de algumas iniciativas. É muito fácil saber quais são os principais cursos do mercado, algo que é amplamente divulgado em diversas redes sociais e grupos da área. Mas quando o assunto é de fato aplicar o que é aprendido nesses cursos, daí cai bastante o conhecimento geral dessas possibilidades amplas.

Idealizamos muito a aplicação do design em si apenas no âmbito do trabalho, porque é o contexto que nos é passado na maioria dos cursos e conteúdos consumidos justamente por ser o mais natural e idealizado. Uma obviedade não tão óbvia assim: Estudamos design porque queremos nos tornar designers, então aplicamos design onde há demanda para isso, certo? Mas na maioria das vezes só enxergamos essa demanda onde existe lucro monetário envolvido. Por quê?

É natural do ser humano buscar por oportunidades onde seu esforço seja minimamente recompensado. A principal recompensa esperada tende a ser o retorno financeiro por conta da nossa estrutura como sociedade e ideais que estamos envolvidos. Porém, precisamos lembrar que existem outros meios com alta demanda onde também podemos ser recompensados de forma justa, podendo agregar na nossa experiência e fazendo valer nosso trabalho como designers. Bora explorar isso aí!

O voluntariado vem como um meio de atender parte dessa demanda de um jeito diferente. Ajudar uma causa e ao mesmo praticar. Se você parar pra pensar, preenchemos nosso tempo livre e disposição absorvendo diversos conteúdos sobre a área, mas no começo dificilmente colocamos isso em prática, quando deveria ser a parte mais importante do estudo!

A desculpa que damos é sempre a falta de tempo, poucas opções, a rotina massiva. Mas se aparecer um freela que ocupará nosso tempo livre que for, vamos pensar rapidamente se não existe uma forma de encaixá-lo na agenda. Isso, novamente, porque envolve um valor tangível em troca do esforço.

Precisamos começar a perceber o valor por trás do esforço em prol do voluntariado e posso citar alguns desses benefícios aqui:

Networking e troca 💬

Pode não ser muito claro no começo, mas conexões são fundamentais no âmbito profissional. No design não é diferente. Ao se envolver com algum projeto de voluntariado você conhecerá pessoas diversas, entenderá como trocar experiências e saber lidar com diferentes cenários. Toda conexão gera um fruto. Isso quer dizer que pode não ser perceptível a princípio, mas em algum momento essa troca será relevante pra você no futuro e a experiência por si só será muito rica.

Principalmente porque o mercado de design é bem nichado, bem pequeno mesmo. Então é muito comum encontrarmos as pessoas novamente, seja em um curso, no próximo emprego, em um evento. Quanto mais interagimos e agregamos, mais nos tornamos parte do meio.

Prática e desenvolvimento 🧠

Você terá a oportunidade de aplicar seus conhecimentos aprendidos até aqui, validar talvez com mais tempo e menos pressão projetos que envolvam coisas que você ainda gostaria de aprender ou está aprendendo.

Às vezes você gosta muito de pesquisa, mas ainda não conseguiu tirar o projeto do papel. Que tal se envolver com um projeto social e ajudar alguma ONG que precisa entrevistar públicos específicos para entender como oferecer suporte. Ou você curte muito UI, mas nunca teve a oportunidade de fazer um site responsivo.

Quantas startups sociais não buscam alguém como você para implementar suas ideias? Job não vai faltar, convenhamos.

Reconhecimento 🏆

Ao se envolver com causas sociais e projetos voluntários, você mostrará uma conexão muito maior com sua profissão e comprometimento envolvido. Isso vai te trazer de certa forma um certo reconhecimento e será bem-visto quando as pessoas forem avaliar o seu perfil e atuação.

As pessoas buscam por pessoas engajadas e inspiradoras, que vão além do óbvio. Se você consegue entregar um bom trabalho dentro de um projeto voluntário, com certeza servirá de referência e atrativo para uma oportunidade futura em uma empresa.

Soft Skills 🌻

Um benefício onde nem todos enxergam seu valor, porém fundamental no dia a dia de qualquer profissional e muito requisitado pelas empresas. Escutar de forma ativa as pessoas, colaborar com um time, ter autonomia em um projeto, estruturar sua própria organização pessoal, saber ouvir e trocar feedbacks, gerenciar seu próprio tempo e foco.

Todas essas são algumas das softs skills que vemos como muito necessárias ao se envolver com pessoas, processos e produtos.

Esses pontos são, a meu ver, o que vai diferenciar um bom profissional de um profissional mediano. E isso, você consegue aproveitar e absorver de forma muito simples dentro de uma experiência como voluntário.

Viu só? E a gente ainda cisma em achar que só dá pra praticar de verdade tendo um contrato de trabalho. Vamos enaltecer o papel social também que tá aí precisando sempre de um suporte e que casa muito com o momento de quem busca uma oportunidade de começar na área.

Onde começar?

Agora que você já sabe a importância do voluntariado, bora ver alguns caminhos pra começar de fato a colocar a mão na massa e fazer parte dessa rede de apoio.

Atados

Um site onde você pode se conectar com milhares de ONGs no Brasil e escolher a vaga de voluntariado que mais tem a ver com você, como design, tecnologia e afins.

TODXS

Uma organização sem fins lucrativos que promove a inclusão de pessoas LGBTI+ na sociedade com iniciativas de formação de lideranças, pesquisa, conscientização e segurança. Todo semestre abrem vagas para novos voluntários e é possível acompanhar a abertura desses processos pelas suas redes oficiais.

Worldpackers

Uma rede colaborativa para desenvolver habilidades, aprender idiomas e conhecer outras pessoas através de uma imersão cultural onde você encontra vagas de voluntariado para se candidatar e viajar pelo mundo em mais de 170 países;

FreeHelper

Uma startup social sem fins lucrativos que trabalha para aproximar ONGs e voluntários especializados nas mais variadas áreas.

Catchafire

Uma plataforma internacional de voluntariado para treinar o inglês, praticar suas skills técnicas e ainda ajudar quem precisa.

Tech For Good

Uma comunidade que promove e encoraja o voluntariado utilizando os benefícios da tecnologia para o bem, você pode se inscrever na newsletter para receber novas vagas de voluntariado.

VolunteerMatch

Uma plataforma gigantesca que conecta voluntários e entidades sem fins lucrativos, também possui um filtro com oportunidades remotas.

UNV

Uma plataforma focada em voluntariado remoto onde a ideia é desenvolver e dar suporte de qualquer lugar do mundo.

We Make Change

Mais uma rede que oferece esse match de quem busca desenvolver suas habilidades e mudar o mundo ao mesmo tempo.

E pra fechar com chave de ouro, achei bacana trazer aqui o relato de uma mentorada minha que tem mandado ver nos seus projetos pessoais e é um grande exemplo de como aproveitar o voluntariado do jeito certo:

“Embarquei no trabalho voluntário e atualmente estou em duas ONGs. Em ambas estamos trabalhando na fase de pesquisas. Já tive a oportunidade de colaborar com as equipes no planejamento de pesquisa quantitativa, produzir roteiros, planejar cronograma de projeto, entrevistar e observar usuários, organizar e analisar dados e achados de pesquisa e agora estamos nos encaminhando para a definição da nossa persona. Trabalhar na prática a colaboração, a co-criação, a empatia, a gestão de informações e de projetos, é algo que recomendo fortemente pra qualquer pessoa que esteja iniciando na carreira.”

Mariana Pessôa, UX Researcher

Obrigada por ler até aqui. Lembre-se: comunidades não são feitas sozinhas, sempre vai ter alguma iniciativa precisando de você.

Bora por a mão na massa! ☂️😉

O UX Collective doa US$1 para cada artigo publicado na nossa plataforma. Esta história contribuiu para o Bay Area Black Designers: uma comunidade de desenvolvimento profissional para pessoas Pretas que são designers digitais em San Francisco. Por serem designers de um grupo pouco representado, membros do BABD sabem o que significa ser “o único” em seus times de design e em suas empresas. Ao se juntarem em comunidade, membros compartilham inspiração, conexão, mentoria, desenvolvimento profissional, recursos, feedback, suporte, e resiliência. Silêncio contra o racismo sistêmico enraizado na sociedade não é uma opção. Construa a comunidade de design na qual você acredita.

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