Nossa indústria precisa de mais designers. E o mais importante: um tipo diferente de designer.

O progresso que vimos na última década em termos de tornar nossa disciplina mais acessível para designers que estão entrando na indústria é inegável. Realmente bom. Ainda assim: vagaroso. Design de produtos digitais continua sendo uma disciplina elitista: difícil de entrar, repleta de jargões desnecessários, faltando organizações que genuinamente representam os interesses de todos seus profissionais, e não tão diversa quando sonhamos que ela seria. No fim do dia, se o design não está ativamente trabalhando para desconstruir sistemas exclusionários estabelecidos, está simplesmente os perpetuando. E isso vale para o quando incluímos ou excluímos pessoas de nossa indústria.
Na era de distanciamento social, eventos locais e meetups (uma das ferramentas mais poderosas que temos à nossa disposição para receber novos designers) começam a desaparecer ou se transformar em painéis no Zoom com interação limitada e pouco espaço para as conversas informais que acontecem nos eventos presenciais. Por outro lado, conferências grandes de design ainda estão tentando descobrir como trazer novas vozes para a conversa, como acabar com a celebridade-zação dos palestrantes, e como oferecer ingressos a um preço mais baixo do que o Coachella. O problema é que, quando você não abaixa a barreira de entrada para a indústria de design, somente um tipo muito específico de designer com um background muito específico é capaz de entrar.
Quando você não abaixa a barreira de entrada para a indústria de design, somente um tipo muito específico de designer com um background muito específico é capaz de entrar.
Com cursos e bootcamps há um desafio similar. Não é que não existam bons cursos por aí — mas esses cursos podem ter custo proibitivo para muita gente. Especialmente em casos de pessoas que ainda estão considerando design como uma potencial carreira, onde se matricular em um curso desses pode ser uma escolha arriscada.
Você provavelmente já ouviu falar daqueles cursos de “consiga um emprego em UX” que existem por aí. Aqui nos EUA eles variam de US$1,200 a US$12,000 DÓLARES, e eles prometem muita coisa. Enquanto esses cursos oferecem sim mentoria adicional para os estudantes, muito de seu currículo é bem introdutório e fácil de encontrar em artigos e palestras disponíveis online, gratuitamente. Resumidamente, quando você se matricula em alguns deles tudo o que você recebe é um PDF com uma lista de links. Para artigos que estão disponíveis online, gratuitamente. Inclusive artigos do UX Collective.
Enquanto temos certeza que existe uma audiência específica que pode realmente se beneficiar desse modelo, não podemos deixar de questionar o quão esse investimento é válido para alguém que ainda está considerando design ou UX como uma profissão.
Nós aqui no UX Collective recebemos muitas mensages de leitores pedindo dicas de como tomar os primeiros passos no mundo de design de produtos digitais. O que eles devem estudar? O que eles devem ler? E eles não estão sozinhos. Mesmo designers experientes, que estão mentorando designers mais novos, às vezes sentem dificuldade de compilar recursos que (1) não vão ficar velhos em seis meses (2) não são apelativos ou patrocinados por empresas de software que querem vender licenças e (3) dão às pessoas orientação mais detalhada e convidam à reflexão. Existe muito conteúdo disponível por aí, mas como podemos tornar esse conteúdo mais acionável para aqueles que estão começando?
Nós percebemos um padrão, no entanto. Quando respondemos a esses leitores dando dicas de onde começar, geralmente existe uma série de artigos, links, e palestras que sempre recomendamos. Artigos que resistem à passagem do tempo, que continuam sendo relevantes mesmo anos depois de publicados. Documentários que ajudarão designers a olharem nossa indústria com uma visão mais crítica. Livros que são realmente indispensáveis para qualquer um que queira se tornar um designer de produtos digitais.

Então… nós resolvemos publicar um guia
Por esses e outros motivos, Caio Braga e eu resolvemos criar um guia mais estruturado para designers iniciantes; um recurso focado nas necessidades de quem está começando agora; um destino centralizado para enviarmos quando recebemos emails de designers que precisam de ajuda.
A ideia é que esse guia seja um lembrete que, em design, não existem “guias definitivos”, “fórmulas mágicas”, ou “unicórnios de UX”. Existe sim disciplina, trabalho duro. Não estamos interessados em ensinar às pessoas “Como Criar Personas em 5 Passos” ou “Dos e Don’ts Ao Desenhar Formulários”; estamos mais interessados em ajudar novos designers a terem uma visão geral da prática de design digital, e em refletirem em seu papel enquanto designers em suas empresas, comunidades, e na sociedade em que estão inseridos.
Queremos que essas pessoas comecem do lugar certo, sem vícios.
Escuta, não vai ter um emprego esperando pelo leitor no final do guia, e ele não é um substituto para educação formal em design. “The Guide To Design” dá as pessoas apenas uma ideia de como é trabalhar com design digital, para que elas possam decidir se começar uma carreira em UX é para elas ou não.
Nos ombros de gigantes
Nosso guia não tem muito conteúdo novo, original, escrito por nós. Pelo contrário: construímos a maior parte desse guia a partir de décadas de conteúdo e literatura existentes e escritos por designers excepcionalmente talentosos que, em algum ponto de suas carreiras, resolveram dedicar tempo em compartilhar conhecimento online. Abertamente. De graça.
Como escritores, sabemos bem que pode ser tentador reescrever ideias que já existem por aí, com as nossas próprias palavras. É muito fácil hoje em dia começar um novo artigo do zero, e ignorar tudo o que já foi escrito, dito, e publicado sobre determinado tópico. Ao invés disso, resolvemos construir esse guia baseado no trabalho de pessoas que têm escrito sobre esses assuntos por anos. Nós estamos realmente construindo lançando esse guia apoiados nos ombros de gigantes.
Se você conhece um pouco da história de como o UX Collective começou, você sabe que somos grandes embaixadores de compartilhamento de conteúdo online. É assim que aprendemos muito do que sabemos hoje sobre UX: lendo blogs, artigos, estudos de caso. Acreditamos que todo mundo deve ter a oportunidade de aprender sobre nosso craft e nossa indústria. Compartilhar conteúdo pode democratizar design — fazendo nossa indústria mais inclusiva e culturalmente vibrante.
Abaixar as barreiras, para que os novos designers consigam subir a barra.
Aqui o link para o guia:
Prólogo: sobre generosidade e comunidade
Hoje em dia costumamos lançar nossos conteúdos primerio em inglês, dado que 90% da nossa audiência no UX Collective está fora do Brasil. Dessa forma conseguimos fazer nossas ideias chegarem a mais lugares do mundo. O problema é: toda vez que publicamos um novo conteúdo online, depois de semanas (nesse caso meses) de trabalho, imediatamente recebemos mensagens de leitores perguntando “mas quando é que vai estar disponível em Português?”.
Justo.
E é bem nessa hora que a generosidade da comunidade de design vem à tona.
Quando o Daniel Furtado ouviu essa história e ficou sabendo do nosso guia, ele se voluntariou e se comprometeu a usar o canal dele do Youtube (o UXNOW) para traduzir esse conteúdo todo para o Português — além de contextualizar alguns dos tópicos que cobrimos especificamente para o mercado brasileiro.
Fiquei sem palavras quando vi o resultado.
O Daniel tem uma habilidade natural de ensinar, e uma linguagem que eu costumo definir como “acessibilidade inquisitiva”: uma didática que naturalmente convida à reflexão e que elimina qualquer jargão para garantir que o conteúdo que ele está ensinando seja entendido por pessoas de origens e níveis de conhecimento diferentes. Os vídeos dele são uma aula de retórica, didática, e pensamento crítico.
Abaixo você confere o primero episódio da série. Vou adicionando mais vídeos aqui à medida em que forem publicados, mas convido vocês a assinarem o canal do Daniel para serem avisados quando novos vídeos forem publicados.