Quem tem medo do top down?
Encare essa realidade sem perder a autonomia como designer.

É quase uma experiência universal um time de design ou produtos passando pelo famoso “top down” (aquele em que alguém da alta gestão só manda a decisão), acompanhado do entendimento de um intermediário que veio apenas o comunicar. Isso acaba gerando uma insatisfação no time que está muito relacionada à falta de oportunidade de mostrar valor nas entregas.
Calma, esse artigo não é sobre culpar ninguém. Boa parte das empresas hoje mira no ágil e acerta na cascata, isso é um fato.
Vamos falar um pouco sobre como nós, designers, podemos ajudar nesses casos tão delicados, não com maneiras de tentar declinar pedidos, mas de ajudar nossos gestores a compreenderem cenários diversos e ter em mãos informações que, além de mostrar o preparo do time, também levarão muito valor às ideias dos executivos.
Considere o Histórico

Algumas das primeiras perguntas a se fazer mediante a essa situação é: isso já aconteceu antes? O que está sendo pedido já foi tentado alguma vez?
Muitas vezes a resposta para essas perguntas é sim.
Precisamos entender e buscar dentro das nossas documentações, dados e artefatos que consigam mostrar esses precedentes de forma clara para nossos gestores. Quando levantamos esse histórico, é possível provar por A+B que o que foi pedido provavelmente não seja um bom caminho OU que podemos sim abraçar o projeto, mas que iremos entregar com alguns ajustes da ideia principal.
O importante aqui é montar contexto e justificativas que complementem pesquisas de forma rápida para oferecer mais valor e estratégia, sem perder o timing do ‘top down’. É interessante também, deixar um material pronto e organizado para mostrar seu ponto de vista.
Ressalva: não vai sacar o histórico lá de 2005 que nesse caso não vai ajudar muito, viu? Tenha parcimônia na compreensão desses cenários, considerando períodos e contextos.
Dados e Mercado

Parem as máquinas, vamos pesquisar! Vamos de bench, desk research, estudo de mercado… Por mais que nesses casos não tenhamos um tempo muito satisfatório para fazer essas pesquisas, complementar nosso ponto de vista com essas informações pode ser crucial nesse momento.
O que clientes ou público estão falando sobre o assunto? Existem pesquisas realizadas sobre (dentro ou fora da nossa empresa)? E cases, conseguimos encontrar?
Mais uma vez, esse é um ponto que pode te ajudar a dizer que não vai dar certo ou que vai.
Geralmente, quando executivos dão algum direcionamento — que à primeira vista pode parecer contraditório — eles estão se baseando em algo que viram dar certo ou em alguma estratégia que não estamos vendo por algum motivo. Então fazer esse estudo e tentar entender como está o mundo afora, pode nos dar perspectivas muito construtivas sobre o tema.
Não falei nada que você como designer já não saiba lidar no seu dia a dia, mas o contexto do top down geralmente é emergente e desconfortável. Essa compreensão do todo é só mais uma forma de exercitar sua flexibilidade com essas situações e de ajudar a sua gestão com visões consolidadas.
Imagina só que legal: aquele seu PM que está tenso com a mudança repentina de planos recebendo um estudo bonitinho e organizado para poder se basear e argumentar. Aproveite a oportunidade de mostrar sua competência.
Aceitar (e documentar)

Já mostrou que não deu certo antes, que o mercado não está inclinado à ideia, apresentou tudo e mesmo assim vão ter que seguir? Aceite.
Às vezes estaremos nessa posição mesmo.
Evite gerar stress a si próprio e ‘faça desse limão uma limonada’: documente tudo, acompanhe o tagueamento dos dados dessa entrega e o quanto isso está gerando de valor. Nem que seja pelo prazer de daqui a alguns meses olhar para o espelho com a paz de quem fez sua parte.
Aprenda com essa experiência a treinar sua flexibilidade e adaptação.
E pense positivo: é só mais uma task, uma demanda, um ajuste, um cenário dentre tantos outros de valor que você já entregou e ainda vai entregar. Afinal, se alguém disse para você que a vida de designer é fácil, mentiu.
Referências
- Inspired: como criar produtos que clientes amam, Lucas Rosa
- Articulando decisões de Design, Tom Greever
- Inspirado, Marty Cagan